Artigo de Opinião

EDITORIAL: DA LIBERDADE E DA FALTA DELA

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Escrever sobre Liberdade é (também) escrever sobre a falta dela. Liberdade não é só poder decidir ou agir. A possibilidade de compreender com lucidez as alternativas em jogo, para fazer a melhor escolha, implica ter acesso a informação relevante e não manipulada/dissimulada. Cidadãos esclarecidos e exigentes continuam a ser vistos como grandes ameaças. Só 17% dos humanos gozam de Liberdade de Expressão, segundo a WAN – World Association of Newspapers and News Publishers. Os custos da censura, imposta por força de Estado, são incalculáveis.

A Revolução de Abril de 1974 libertou Portugal de um regime autoritário assente especialmente no elevado nível de iliteracia, no silêncio imposto a uns e na promoção arbitrária de outros. Quanta informação, saber e arte foram destruídos? Quanto ficou por se materializar devido ao medo da retaliação ou do desperdício? O prejuízo provocado não pertence só ao passado. Prolonga-se no presente. O Portugal de hoje reflete o que fomos e o que não nos deixaram ser. A resignação e a falta de autoestima que caracterizam o Zé Povinho – diminutivo personificador do povo português – são duas das consequências de séculos de opressão. Não somos completamente livres… Para nos libertarmos, é necessário tomar consciência dos constrangimentos ocultos que nos afectam.

A crise económica e financeira na qual mergulhou o mundo ocidental associada às limitações exteriores impostas às soberanias de Estado ensombram o presente e comprometem o futuro. Os Direitos Humanos são um património que a Europa não pode negligenciar/subestimar. Além de ser uma questão de coerência, é também de sobrevivência… É dever dela honrar a memória daqueles que lutaram, sofreram e morreram pela Liberdade e pela Justiça, que só em parte hoje gozamos. Enquanto cidadãos, cabe-nos estar atentos, reconhecer e incentivar aqueles que continuam a pugnar pelos Direitos Humanos. A Reporters Without Borders regista o número daqueles que pagam com a vida o atrevimento de procurar/transmitir verdades inconvenientes. Este ano já foram mortos 20 jornalistas… Estão presos (pelo menos) 159.

O futuro depende da forma como hoje usamos e valorizamos a Liberdade, nas suas várias dimensões, entre as quais, o direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião (artigo 18º da Declaração Universal dos Direitos do Homem). Num mundo plural e em rápida mudança/transformação, a complexidade e as incertezas que envolvem os dilemas éticos apelam à reflexão crítica e ao debate contínuos. Apelam a cidadãos ativos e vigilantes.

Suzana Cavaco, Professora Auxiliar da FEP.UP, docente em Ciências da Comunicação

Convidada | Quinzena da Liberdade

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