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Artigo de Opinião

UM JOGO DE INTERESSES E A ERA DO “EU”

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João Silva

João Silva

Os tempos mudam, e nem sempre para melhor. Certamente existirão imensos exemplos contrários ao que aqui comunico, mas, regra geral, a sociedade e as pessoas estão a tornar-se cada vez mais egoístas e assiste-se ao culto exagerado do “eu”, do “individualismo”, do desinteresse geral pelo outro, bem como à desintegração das boas maneiras e educação.

Vários exemplos podem ser apresentados do nosso quotidiano: um mais caricato será quando certo senhor perde os sentidos no metro e caí para a frente e nem uma só alma se levanta para verificar a condição do dito, ou para ligar para o 112 (apesar de não conhecer o desfecho deste exemplo, sei que durante o longo tempo que assisti ninguém fez nada). Um outro exemplo, já mais simples na sua natureza, foi quando uma certa senhora deixa cair um cachecol e muitas “boas” almas o viram a cair, mas ninguém se deu ao trabalho de o apanhar (afinal de contas, não era problema delas, porquê ajudar?), pelo que após apreciar este cenário, tive que intervir eu próprio, apenas para nem um obrigado receber. Por fim, num autocarro, num final de tarde de verão, certa rapariga (talvez nos seus 18 anos), deixa cair as moedas ao entrar (uma foi de 1 euro e outra de 10 cêntimos). Uma outra jovem rapariga, perto do local, agarra na de 1 euro, enquanto eu peguei na de 10 cêntimos, e eis que a rapariga que pegou na de 1 euro recebe um obrigado e um sorriso, enquanto eu, por ter entregue a moeda de menos valor, nem um simples obrigado.

As amizades de hoje em dia também refletem uma realidade cada vez mais egoísta e individualista. A amizade deve ser sempre desinteressada, mas o que infelizmente se vê nos dias de hoje, é amizades baseadas nas vantagens que o outro pode trazer, e existe muito pouco interesse no bem-estar da outra parte ou em fazer o outro feliz. Já se costuma dizer (e muito bem) que nos maus momentos é que os verdadeiros amigos se revelam para ajudar, e é nestas alturas que muitos se apercebem da cruel realidade das suas “amizades”, onde muitas apenas duravam, enquanto deu jeito ou para passar o tempo ou quando não têm outros disponíveis para estar numa determinada altura.

Talvez a vida cada vez mais acelerada e stressante seja a culpada ou talvez o que os media passam na televisão e nas redes sociais, ou se calhar seja a educação que os pais dão aos filhos, ou quiçá seja a consequência natural da expansão tecnológica, apenas se pode especular, mas importa refletir no que a sociedade e alguns dos seus membros se estão a tornar. Não se pode (nem se deve) esperar que venha um cataclismo universal para que as pessoas se unam. Tem que ser algo do dia-a-dia e a pensar mais no outro e menos no “Eu”.

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