Artigo de Opinião
OBRIGADO FACEBOOK
As novas tecnologias podem ser quase tudo que quisermos. Ponto de partida para grandes projetos, o fim de uma relação e o princípio de outra, um muro de lamentações, um mar repleto de “peixe”, um céu de estrelas várias, espaço de tempestade e alegria, mas é, a meu ver, acima de tudo um púlpito.
Espaço onde postamos todo o tipo de sentimentos e reações que temos e sentimos ao longo do dia. Postamos fotos de tudo e mais alguma coisa, desde aquilo que comemos ao que compramos, das férias e dos cozinhados que fazemos. Postamos que gostamos dos nossos amigos e também sobre os que não gostamos.
Atrás das teclas ou por cima delas pressionamos as letras que exprimem as gargalhadas e as dores do nosso coração e até umas quantas abreviaturas, ficando, por vezes, difícil entender o significado, carateres da era moderna “OMG”.
Expomos a nossa vida e a dos outros nas fotos, mas também quando reagimos nesta aldeia global às feridas que nos são infligidas por este ou aquele e, como sangramos, rasgamos as veias com palavras gritadas em letra maiúscula e batemos com conjuntos mixados de letras sem sentido na ordem que se apresentam.
Mas este espaço de declamação é também organizado. Tem agenda ou agendas várias e uma delas é aquela que nos dá a possibilidade de sermos pessoas super atenciosas, dando-nos a oportunidade de exercer atos de simpatia. Do que falo eu? Da agenda de aniversário dos nossos “amigos”. Todos os dias recebemos uma listagem dos aniversariantes a quem podemos enviar mensagens feitas, outras que nos vertem dos dedos depois de caírem da nossa imaginação e/ou de momentos inspirados, mas também podemos postar imagens e stickers animados ou não.
E, assim, ficamos todos muito mais “civilizados” e deixamos aqueles a quem chamo de amigos facebookeanos mais contentes e na ilusão mais ou menos concreta de que estamos ali, e que sabemos deles e até lhes damos os parabéns por mais um aniversário.
Assim esta enorme sala de visitas é também um pouco secretária de cada um de nós, avisa-nos dos aniversários, dos posts, dos amigos e dos eventos que eles/elas vão ou anunciam e, assim, podemos também nós participar nos mesmos.
Apenas como são milhares de amigos e amigas quando chegamos a esses eventos não nos reconhecemos, não aproveitamos para falar pessoalmente uns com os outros e assim aumentar o sentido desta amizade cibernética tornando-a mais próxima por assim dizer, aumentar os meios de contatos, dar oportunidade de levantar o cu da cadeira, os dedos do teclado rir e gritar e receber de volta outros gritos e gargalhadas ir ao cinema sem ser sozinho, ou apenas ir com novos amigos alem dos já existentes e juntar uns aos outros e assim transformar esta aldeia numa cidade e quem sabe num país novo.
Mas pronto, para já vamos vivendo com o que temos de um lado e do outro, seja, com o real e o cibernético, aproveitando esta secretária silenciosa que nos empurra em todos os sentidos muito embora continuemos apenas e só a sentir a dureza das teclas e menos o suave da pele o calor dos corpos, os abraços físicos as expressões vividas ao momento.
Mesmo assim obrigado Sr FaceBook.
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