Artigo de Opinião

NA TERRA DO FUTURO-EX-FUTURO-REI

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João Luís Tavares

“Já se esqueceram que esta famosa república começou com um duplo-homicídio (um regicídio é, nonetheless, um homicídio) fruto de uma conspiração? Ou que fomos roubados das nossas cores nacionais, que desde D. Afonso Henriques eram o azul e branco, para passarmos a envergar rubro e verde…”

 

Se há tema sobre o qual gosto de falar é da monarquia. Não sei bem porquê, talvez pelo facto de viver numa república que já foi monarquia e que dos seus 800 e alguns anos, 700 foram passados com essa forma de governação. A monarquia está-nos no sangue e é algo que provavelmente nunca nos iremos distanciar. Mas sim, agora vivemos (muito contra a minha vontade) numa república.

Antes de iniciarmos uma discussão inteligente temos que distinguir a priori logo vários conceitos. Modernamente falando, quando falamos em ‘monarquia’ estamos a referir-nos a uma monarquia constitucional e parlamentar, e não a uma monarquia absoluta (essas já quase não existem, e ainda bem! Fiquem sabendo que uma das poucas que ainda sobrevive é próprio Papado que é tido como uma monarquia eletiva absoluta, exemplo único no Mundo, visto os Doges de Veneza já não existirem!). E quando falamos em ‘democracia’ estamos a falar não num sistema político, mas num conjunto de ideias (Que neste caso valoriza o povo, os seus direitos, de entre os quais, obviamente, o direito ao voto.). Uma monarquia é uma democracia, assim como uma república é uma democracia. Mas que fique patente que tudo pode ser subvertido.

A única coisa que varia é exatamente a figura máxima do Estado. No caso da república, um presidente eleito por sufrágio universal direto em ciclos de cinco anos; no caso de uma monarquia a primeira pessoa na linha de sucessão do atual monarca, hereditariamente falando, claro… Um dos argumentos contra a monarquia é exatamente esse, o facto da ordem de nascimento ser o fator determinante para a escolha do detentor do poder máximo sobre tudo e todos. Quando dito assim até parece mesmo que estamos a falar de um mini-futuro-ditador… Mas esse não é o caso. O facto da linhagem ser prolongada apenas dá continuidade ao esforço de união nacional que é desenvolvido por uma pessoa durante a totalidade da sua vida. Por mais que queiramos e tentemos, não há cenário nenhum em que um presidente seja factor de união. Como é que alguém que é selecionado apenas por uma parcela da população, e que está á frente de uma máquina partidária, pode verdadeiramente defender os interesses do povo? Não pode, é essa a resposta. O monarca, apesar de não ser ‘escolhido’ pelo povo apresenta-se como fator de união nacional, porque há reconhecimento por parte do povo que aquela pessoa não cederá a pressões políticas por parte de qualquer fação e há um certo espírito de lealdade não ao partido, mas à Nação… E isso é algo que nunca vai existir numa república, por mais que tentemos.

Outro dos argumentos que geralmente são associados com a monarquia é o despesismo, o facto da monarquia ser demasiado cara… Será mesmo assim? Vejamos os factos… Os subsídios dados à monarquia inglesa pelo governo inglês rondam as 35 milhões de libras anuais, o que se formos a ver é relativamente pouco… Sessenta pence (o nosso equivalente ao cêntimo) per capita… Enquanto que aqui a nossa ‘estimada república’ custa cerca de dezasseis milhões de euros anuais… o que dá um euro e meio por cidadão… Feitas as contas até parece que a monarquia inglesa sai bem mais barata que a nossa pequena república, e não retiramos proveito nenhum disso… Quem é que vem a Portugal visitar o museu da presidência? Ninguém! Nem as escolas, quanto mais os estrangeiros… Não, eles vêm por aquilo que fomos… Pelos palácios, pelos castelos, pela mais bela coleção de coches do mundo usado por uns míseros reis que apenas eram donos de meio mundo… Ah, e ainda não falamos do facto de que a Rainha de Inglaterra trabalha pro bono e ao contrário do senhor presidente da república não vai auferir uma reforma de dez mil euros mensais, e que é obrigada, por lei, por exemplo, a pagar os custos das reparações dos palácios em que habita… Não recebe, trabalha até morrer, têm de pagar reparações em casa, isto até agora está a soar a um contrato mal feito… Mas de onde vem o seu rendimento? Da propriedade privada claro, nomeadamente do Ducado de Lancaster que é da sua família. Mas ainda não acabou aqui, porque dos lucros ela só fica com quinze por cento…, os outros oitenta e cinco são devolvidos ao Estado. E ainda têm a distinta lata de me dizer que a monarquia é cara?

Digam-me o que quiserem, mas eu não vou com a república… A meu ver não faz sentido… Gosto de ter uma figura que personifique a nação, e um busto de mármore não me chega. Claro que estes argumentos todos não servem de nada, porque a discussão entre a monarquia e a república não é feita com base em argumentos, mas sim em sentimentos… Já se esqueceram que esta famosa república começou com um duplo-homicídio (um regicídio é, nonetheless, um homicídio) fruto de uma conspiração? Ou que fomos roubados das nossas cores nacionais, que desde D. Afonso Henriques eram o azul e branco, para passarmos a envergar rubro e verde, não as cores da esperança e do sangue derramado nas batalhas como nos ensinaram, mas sim cores que um pensador (Auguste Comte) ligava à ordem e ao progresso (verde) e o rubro que representava os movimentos populares do século XIX em Paris. Se puderem leiam o artigo “Como é que um pano se transforma numa bandeira?” do dia 10 de Junho do presente ano no Expresso e se possível, leiam ainda o livro ‘Heróis do Mar. História dos Símbolos Nacionais’, de Nuno Severiano Teixeira; recomendo.

Se for por mim, ainda verei o dia em que este país volta, orgulhosamente e de forma pacífica e deliberada, a ser uma monarquia. E nesse dia, sim, vou ficar orgulhoso deste país.

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