Artigo de Opinião
A RIQUEZA DAS INOVAÇÕES
Segundo um estudo, da Interfom Oxfam, organização não-governamental, um quarto da população da União Europeia vive em risco de pobreza ou exclusão social e os níveis de desigualdade chegaram a um “nível inaceitável”.
Os 10% mais ricos possuem 69% da riqueza, enquanto que os 40% mais pobres dispõem apenas de 1% do capital. Em Portugal, o risco de pobreza subiu, em 2014, para os 27,5%, e quase 30% dos milionários portugueses surgiram nos últimos dois anos.
Lemos, todos os dias, notícias da mesma índole. Os elevados níveis de desigualdade, a pobreza, a precaridade laboral, endividamento das famílias, a insustentabilidade da dívida e da segurança social, os excessos especulativos do sistema financeiro… vivemos, não se pode negar, tempos perniciosos. Como jovens, sentimos na pele a urgência de medidas que revertam a situação. Entretanto, a situação deteriora-se. As exigências são muitas, as barreiras ainda mais, mas torna-se cada vez mais imperativo encontrar alternativas lúcidas para corrigir um sistema que se autodestrói.
A tecnologia tem avançado a um nível, que é cada vez menos necessário capital humano. As leis económicas assim o ditam. Outrossim, a tendência para substituir o trabalho humano por máquinas e a redução dos recursos no planeta terra criam desemprego e a queda no consumo. Aumentam, deste modo, os custos sociais para o Estado e diminuem as contribuições tributárias, tornando todo este processo insustentável e prejudicial. A rentabilidade do capital decresce desde 1970 e a única alternativa que as empresas têm encontrado é produzir onde os salários são mais baixos. Entretanto, cada vez mais pessoas têm menos trabalho, cada vez o Estado tem mais dificuldade em pagar reformas, subsídios e bolsas a estudantes. Menos salários, menos poder de compra, menos consumo, menos receitas fiscais, tudo isso explica a espiral recessiva em que nos encontramos. O crescimento económico já não significa criação de emprego. Em boa verdade, implica o oposto.
Na verdade, já muitos economistas, e não só, propugnaram a descoberta de alternativas em novos processos da economia. Uma das novas ideias é a do rendimento básico incondicional, a possibilidade de cada cidadão receber mensalmente um montante específico, independentemente de trabalhar ou não. Um rendimento que cubra as necessidades básicas de todas as pessoas. Ideia que já é considerada um verdadeiro movimento à escala mundial, que, em Portugal, encontra expressão na página web www.rendimentobasico.pt. Seria, porventura, o rendimento básico condicional a solução para garantir a dignidade de todas as pessoas, para se criar uma classe média segura e para se reduzir o medo de envelhecer. Segundo o economista Jeremy Rifkin, muito brevemente, só 20% da população terá de trabalhar, para satisfazer as necessidades humanas e o mercado de trabalho não poderá sustentar a integração social de todos os elementos da sociedade.
Toda esta ideia poderá parecer apenas um sonho, mas exemplos como a Wikipedia e a Linux mostram que pode haver motivações voluntárias para o trabalho, que pode haver entusiasmo por fazer um trabalho específico para criar algo melhor, nunca esquecendo que a ambição humana também poderá fazer a sua parte. O constante debate dos jovens nas redes sociais prova a sua preocupação e o seu sentido de responsabilidade por tudo que acontece no mundo. Todos sentem a obrigação moral de contribuir, colaborar e comunicar de forma a arranjar soluções para um mundo, que se tornou tão pequeno.
Outra ideia é a de economia cooperativa. Uma tentativa de democratizar a economia através de uma lógica de uma pessoa – uma acção – um voto. Actualmente, a estrutura empresarial assenta na ideia que os detentores do capital controlam a produção, muitas vezes sem terem qualquer conhecimento sobre os seus produtos. O que a ideia da economia cooperativa nos transmite é que faz mais sentido o controlo da produção pertencer aos trabalhadores e que o capital pode ser contratado externamente, recorrendo-se a investidores. A partir daí, consegue-se um maior sentimento de pertença por parte dos trabalhadores. Conseguem identificar-se, efectivamente, com o sucesso da sua empresa.
Com o advento das novas tecnologias de informação e comunicação, os custos de transacção diminuíram ao ponto de não fazer sentido desempenhar funções num meio empresarial hierarquizado, sendo mais sustentável a cooperação e colaboração económica, tornando mais plausível a democratização da economia que se propõe.
Não descurando estas duas ideias, penso que, primeiro de tudo, o caminho terá, necessariamente, que passar por aproveitar o factor exclusivo do trabalho humano: a criatividade. É necessário, para isso, reforçar o financiamento de ideias, distribuindo a riqueza de uma forma mais eficiente, transferindo-a das pessoas que têm para aquelas que precisam para os seus projectos, de modo a criar algo mais benéfico para todos.
No entanto, não se deve olvidar que os problemas associados à divisão do trabalho, ao seu valor e à acumulação de capital devem ser repensados, como foram repensados por Adam Smith, na sua obra A Riqueza das Nações, em 1776. Qualquer mudança radical do sistema existente é uma tarefa árdua e duradoura, mas um debate aberto tem que começar para arranjarmos uma solução. Todas as propostas precisam de ser muito estudadas e discutidas para conseguirmos superar os desafios atuais. Precisamos de inovações sociais e é inevitável lutarmos por um mundo financeiro mais responsável, solidário e ético, onde o dinheiro corresponda a produtos e serviços. Acima de tudo, mudar as regras inexoráveis do mundo dos negócios, porque “nenhuma sociedade pode florescer e ser feliz se a maior parte dos seus membros forem pobres e miseráveis”.