Artigo de Opinião

A ERA DA LOUCURA

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Tantas palavras. Conheço tantas palavras e, no entanto, só uma me vem à cabeça: como? Não consigo entender. Não consigo entender quem o fez, assim como não consigo entender todos os comentários ignorantes – e à falta de melhor expressão – completamente inconscientes que tenho presenciado.

Como? Como deixar passar ao lado a hipocrisia que enche as redes sociais, página atrás de página? Em janeiro, éramos todos Charlie, desde ontem que rezamos todos por Paris. Mas o que é isso? É realmente produtivo? Leva a algum lado? Vai salvar alguém? Vai prevenir mais algum ataque? E por quê só Paris?

Hipocrisias de lado, gostamos é de fazer o bonito, fazer o bonito para o outro ver como somos bonitos a fazer o bonito. Não que isso melhore de alguma forma o estado das coisas. Na realidade, é só mais uma forma de nos entretermos num espaço tão curto quanto uma semana até esquecermos o que se passou e arranjarmos um novo tema, aqui no nosso Portugal pequenino. Mas sabe-nos tão bem sentirmo-nos integrados na dor dos outros.

Somos todos parisienses e todos vestimos as cores da bandeira francesa nas fotos de perfil. Mas estamos tão longe! Não só em geografia, estamos tão longe da verdade, também. Quando é que a realidade vai ser dada tal como ela é? Por que não somos Beirute, Nigéria e Bagdade? Ou isso não importa?

Nós escolhemos a dor que queremos sentir. Algumas destas dores não são nossas. É triste quando o sofrimento passa a ser quase uma moda. A dor real está em quem lá esteve, em quem perdeu alguém que amava.

Morreram 130 pessoas. 130, apenas em Paris! Estas vidas importam. E são muitas mais, se juntarmos os últimos dois ou três dias de bombardeamentos no Médio Oriente. Mas isso não importa, não é? Estão tão longe! Não somos um. A partir do momento em que preferimos uns aos outros, atingimos o fundo dos fundos.

“Ah, e tal, a culpa é dos refugiados”, “Ah, e tal, era acabar com essa raça toda de muçulmanos”. Juro que nunca vi tanta estupidez junta. É o que dá comer o produto mastigado dos mass media.

Todas as vidas importam. Ou melhor, todas deviam importar. Se querem rezar, pelo menos, que o façam direito. Rezem pelo mundo. Pelo andar da carruagem, aqui – no nosso Portugal pequenino – também é preciso. No final de contas, ainda há muita loucura para limpar.

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