Artigo de Opinião

SOMOS TODOS HIPÓCRITAS

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13 de novembro de 2015 ficará na história como um dos dias mais negros que o mundo já vivenciou. Mas os dias que lhe têm seguido também não têm sido felizes.

Já se sabe que quando acontecem situações destas o Facebook vai abaixo. Inúmeros posts, atualizações de estados, fotos de perfil alteradas. Nada de novo, nada de mal. #PrayforParis é o lema que tem mobilizado o mundo.

Seria de esperar que um dia tão triste como o que ocorreu em França juntasse o mundo. Que nos faria pensar no problema grave que os terroristas representam e na necessidade de pôr um fim ao Estado Islâmico. Em vez disso, discute-se uma questão muito mais importante: devemos colocar, ou não, a bandeira francesa na foto de perfil?

Como é que é possível ser esta a questão central? Cada vez mais detesto o Facebook por causa disto. Leio comentários do tipo A e do tipo B. Tudo bem. Quando vejo do tipo C e do tipo D, fico preocupado, e é por isso que me abstenho de comentar, mas agora não podia ficar calado.

Eu próprio apliquei esse filtro. Mas não me passou ao lado o que aconteceu no Líbano, o que acontece na Síria e o que aconteceu na Nigéria. Numa conversa que tive com uma amiga no outro dia, disse-lhe que estava a ser uma semana complicada. Por motivos pessoais e profissionais. Porque soube sobre o que aconteceu em Beirute. Porque a Síria está em guerra. Porque parece que não há esperança neste mundo.

Cada um faz os seus votos de respeito como quer. Cada um protesta como achar melhor.

Eu fiz a mudança, porque acredito que é uma maneira de mostrar a minha solidariedade com os parisienses e porque estou chocado com o que aconteceu. “Não adianta mudar a foto”. Talvez, mas quantos de vocês, efetivamente, fazem alguma coisa? Quantos criticam essa fotografia porque acham que é jogada de “caça likes”, ou que é seguir a corrente? E quantos criticam que a minha bandeira não é do Líbano? E vocês colocaram-na? É verdade que não faço muito, mas vou fazendo o que consigo.

É uma corrente de sensibilização e de apoio. Não me batam só porque o fiz. Morreram pessoas! Estão a morrer pessoas! Parem de criticar as pessoas nas redes sociais e comecem a refletir sobre isto.

Depois, eu, em plena consciência, sei que o Facebook não iria lançar semelhante ferramenta para a bandeira do Líbano, mas eu sabia o que aconteceu, e quis que os outros soubessem. “Ah, mas isso é porque és jornalista…”. Eu não sou jornalista, sou aspirante a, mas quando é que isso se tornou razão para saber o que acontece no mundo? Claro que Paris é aqui ao lado, mas é por isso que todos sabem o que aconteceu. Quantos ainda leem as notícias? Criticam não apoiarmos o Líbano ou a Síria, mas muitos não sabiam até que alguém se lembrou de criar memes a referir essa situação.

“Não adianta rezar”. Para tudo! Se vão questionar porque é que as pessoas rezam, a religião vai abaixo. Essa é outra. Os muçulmanos não são terroristas. Um terrorista pode ser católico, budista ou muçulmano. E os refugiados não são o problema. Há lobos no meio de ovelhas. O que é preciso é controlar quem entra ou quem sai de um país. Nunca confundam as coisas!

Infelizmente, ao discutirmos quem tem razão esquecemo-nos a verdadeira razão pela qual deveríamos estar a discutir.

Somos todos uns hipócritas. Hipócritas por mudarmos a foto por ser Paris. Hipócritas por criticar quem o faz, quando nunca fizemos nada.

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