Artigo de Opinião

É DIFÍCIL SER PRESIDENTE

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Não é fácil ser-se PR por estes dias em Portugal, especialmente quando se é PR de direita. Ter de ver cair um governo de direita que ganhou as eleições, ver-se obrigado a indigitar um governo de esquerda que é, aparentemente, pouco mais sólido que o de direita, parece ser mais do que Cavaco Silva consegue aguentar.

Confesso que não pesquisei se isto é factual ou não, mas duvido que na história de algum país se tenha alguma vez passado um inédito como o que atravessa Portugal. Cinquenta e um dias. Já lá vão 51 dias desde as eleições, mas o país continua cristalizado desde 4 de Outubro.

Certo que foi formado um governo – caiu antes de fazer o que quer que fosse – e que entretanto até aprovamos algumas medidas bastante úteis em parlamento. Mas, não se iludam. O país está parado. O orçamento de estado que devia ter sido apresentado em Bruxelas há mais de um mês continua por entregar. Politicamente ninguém tem poder de decisão, mesmo que sejam os membros do atual executivo de gestão a comparecer às reuniões europeias. E mesmo com o ‘pedido’ da Comissão Europeia para que este documento seja entregue para ontem, não há qualquer indicação de que ele vá ser entregue tão cedo.

Mas tudo isto passa ao lado do PR. Provavelmente desconhece que o país terá que pagar sanções à União Europeia por este atraso, que se vão acumulando enquanto o tempo passa. Desconhece também que quanto mais tempo prolonga este interregno governativo, menos tempo há para o dito orçamento – e qualquer medida governativa – ter efeito na economia e na vida dos portugueses.

A nova façanha de Cavaco veio na forma de perguntas. Seis, para ser mais exacto. Os socialistas já responderam às dúvidas do Presidente. Ao mesmo tempo argumentam que todas as perguntas já foram tendo resposta ao longo deste 51 dias ou têm resposta no programa eleitoral do PS. A ambos foge a questão mais importante, que revela a total ambiguidade e parcialidade do nosso Presidente: na hora de indigitar o governo de Pedro Passos Coelho, há cerca de um mês, porque é que Cavaco não fez, publicamente, estas mesmas perguntas. Quando literalmente toda o país adivinhava que um governo de direita ia cair, onde estavam as interrogações de Cavaco Silva que agora apresenta a um possível governo de esquerda? Dois pesos, duas medidas, é o que nos mostra o Presidente, num exemplo em que mostra flagrantemente qual é a sua afiliação partidária.

Se mais nada, serve esta pequena diferença de atitudes para demonstrar duas coisas: o sistema de partidos políticos é um sistema dado à corrupção de valores, princípios e atitudes; e esse mesmo sistema, quando tem influência direta em quem ocupa o lugar de Presidente da República, torna-se ainda mais nefasto. Com isto não estou a defender António Costa, o PS ou o governo com acordo de esquerda. Pelo contrário, acredito que será uma experiência desastrosa para o país. Mais desastroso que isso, contudo, é verificar que em pleno ano de 2015, quando a abstenção dos portugueses chega a valores acima dos 40%, os representantes do poder continuam a fazer ‘jogadas’ que retiram à política toda a sua transparência, verdade, coerência e imparcialidade.

Afinal não é difícil ser PR em Portugal. Difícil é ser-se um PR rigoroso, com uma atitude correta e consistente.

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