Artigo de Opinião

“PÓS-CONCEITO DA OUSADIA”

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Vivendo numa constante correria entre os afazeres estudantis e o mundo do lazer e familiar, sinto que tenho uma oportunidade ótima para poder observar pormenores do Mundo que fazem uma diferença inabalável.

Todos os dias frequento um transporte público heterogéneo, preenchido de diferentes histórias de vida, preocupações, felicidades e divagações em todos os eixos. Contudo, é também para mim um palco de desigualdades e de discriminação disfarçada, demonstrando que hoje em dia continuamos a viver num Mundo de preconceito fraco, aprendido e social. Ilustro isto com um exemplo que para mim foi um choque, permitindo-me ver que apesar de sermos todos diferentes, continuamos em certas situações (negativas) todos os iguais.

Tratava-se de uma mãe, três filhos e uma tia que, pela primeira vez, estavam a andar pelos caminhos-de-ferro e iam visitar a Invicta. Caso que é vulgar em muitas famílias, principalmente em alturas festivas como esta em que estamos a entrar. Mas, esta família tinha uma particularidade, pois os três filhos apresentavam uma condicionante no seu desenvolvimento, ou seja, tal como muitas pessoas disseram e bem alto, são “deficientes”. Este termo demonstra mais uma aderência à construção da categorização. Nós, humanos, somos um espetro de diferenças e, por isso, se começamos por categorizar uns, temos de nos categorizar a todos. Estas três pessoas foram alvo de risos e chacota cobarde entre pessoas de todas as idades. Porquê? Simplesmente porque eram três pessoas ingénuas, que estavam a viver um momento único da sua vida. Estavam a aproveitar aquela viagem ao máximo e a conhecer novas sensações e visões, que todo aquele novo contexto lhes poderia fornecer. Eram genuínos e apresentavam uma verdadeira felicidade e partilha entre todos. Os três juntos representavam a união, os valores familiares, a curiosidade e a espontaneidade, que é algo que nós também queríamos ter, mas como somos formatados por um padrão cultural e societal que nos impede de ser o que queremos, não o somos e apontamos aqueles que o são.

Tínhamos ali uma mãe que estava atenta e sabia que os seus filhos estavam a ser motivo de risadas e, por isso, tentava controlá-los. Tínhamos ali uma mãe que sofria a cada segundo por uma sociedade que não aceita a sua família, o seu amor pelos filhos.

“Queremos ousar na vida” é um discurso que enche a boca de todos. Porém, ninguém o faz e criticam quem lhe faz uso. Surge sobre a sociedade uma onda de falsos comentadores. Cheia de barco de opiniões anda a nossa sociedade inundada.

Temos de deixar de ter preconceitos e passar a ter “pós-conceitos”, pois, desse modo, nunca julgávamos as pessoas por aquilo que vemos no momento, mas pela ousadia do que fazem com a sua vida, naquele momento.

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