Artigo de Opinião
BOM JORNALISMO? SIM, POR FAVOR!

Não me lembro da idade que tinha quando decidi que queria ser jornalista. Com 11 anos já sabia que gostava de contar histórias; não o suficiente para escrever livros, nem tão pouco para ficar limitada às notícias que reportavam vitórias e derrotas desportivas, números de lotaria e acidentes de carro. Não tinha consciência do que era o sensacionalismo, mas uma coisa era certa: não gostava daquilo.
Fui crescendo a ver exceções que me faziam acreditar no bom jornalismo e no poder que conseguia ter para mostrar a verdade, ultrapassando pessoas que julgavam ser invencíveis. O caso “Watergate”, que me foi contado por quem o ouviu em “primeira mão”, o caso de pedofilia no Vaticano, o caso BES e agora o caso dos Panama Papers.
É bom sentir que o bom jornalismo não está adormecido. É ainda melhor ter esperança de que é possível fazer um trabalho de qualidade num mundo em que o banal já está visto como natural. Segundo o “Observador”, a propósito dos Panama Papers,“na análise dos documentos participaram mais de 100 jornais, de 76 países, que colaboram com o Consórcio, e 370 jornalistas”, o que dá um impacto muito maior à situação. 370 pessoas juntaram-se para trabalhar num projeto que tinha como objetivo gritar ao Mundo “justiça” e “verdade”. 370 pessoas correram riscos para desvendar os segredos mais obscuros e expô-los na luz da opinião pública.
Houve, como há sempre, quem criticasse, quem dissesse que não se devia expor este tipo de “informações confidenciais” por levantar demasiado o véu e destapar os envolvidos. Então agora não é justo saber que as pessoas em quem sempre confiámos desviaram dinheiro, tiraram proveito do trabalho dos outros e nos enganaram durante anos? Sim, é justo. Por ser tão justo saber a verdade quanto partilhá-la com todos, os jornalistas têm aqui um papel fundamental: passar a informação da melhor maneira possível para que não haja mais equívocos, apenas transparência.
Caros futuros colegas jornalistas, aqui está um conselho para vocês: mantenham-se sempre fiéis a vocês mesmos e nunca esqueçam que estão aqui para dar voz a quem não a tem. Façam a diferença. Umberto Eco criou Broggadocio em “Número Zero” para desvendar um caso que iria mexer com a sociedade italiana. O papel dos jornalistas deve passar por aí, correr até não mais aguentarem, para que a verdade nunca lhes escape e seja a sua mais fiel companheira.
