Política
SISTEMA FINANCEIRO DISCUTIDO NA FEP
A sustentabilidade do Sistema Financeiro Português tem sido um tema fraturante na nossa sociedade, sobretudo devido à falência dos vários bancos nacionais e ao constante cenário de incerteza.
De forma dar a entender os precedentes da situação atual, a deputada iniciou a sua intervenção com uma contextualização histórica. Entre 1850 e 1910 haveria dois mecanismos de acumulação de capital, a terra e o comércio colonial. Este último seria detido pelas poderosas famílias da época, das quais surgiram os primeiros financeiros em Portugal, que controlariam o monopólio do tabaco. O dinheiro seria usado para financiar outros negócios e, maioritariamente, o Estado.
Após a enumeração das 10 famílias com maior relevo, Mortágua afirma que entre 1910 e 1932, essas famílias ganharam ainda mais importância. Contudo, segundo a deputada, é durante o Estado Novo que ocorre uma consolidação dessa elite, uma vez que o regime favorecia a oligarquia. Num tom mais descontraído, diz que “um dos filhos do Espírito Santo até trocava cartas de amor com Salazar”. Para além disso, Mortágua acrescenta que a Guerra Colonial favoreceu o comércio colonial, e a “hipócrita posição de neutralidade” na 2ª Grande Guerra Mundial deu ainda mais riqueza às mesmas, inclusive à família Espírito Santo, que fazia negócios com os nazis, “queimando barras de ouro com o símbolo da suástica.”
No entanto, a partir de 1974 ocorre a nacionalização do sistema bancário, surgindo assim uma enorme concentração bancária sob a tutela do Estado que, segundo a economista, foi “o auge e a época de grande desenvolvimento do sector.” Porém, a partir de 1990, pelas mãos de Cavaco Silva, inicia-se a época de privatização “que perdura até aos dias de hoje”, explica.
Após um longo enquadramento histórico-social, Mariana Mortágua constatou que em 2005, quem geria os bancos eram os herdeiros diretos de quem geria o monopólio do tabaco em 1850 e salienta a grande ligação estabelecida entre essas famílias que, através do matrimónio, se foram unindo. Atualmente, com a crise financeira e a austeridade, essa elite portuguesa, ao ver o seu esgotamento, permite que os grupos estrangeiros “controlem” Portugal, levando assim à “estrangeirização da economia portuguesa”.
De seguida, a oradora apontou as principais características da situação atual: a primeira, passa por uma ligação simbiótica entre o poder político e o poder económico, que afirma sempre ter ocorrido; a segunda passa pela complexidade dessas estruturas, uma vez que esta era está marcada pela engenharia financeira e pelo desenvolvimento das SGPS (Sociedades Gestoras de Participações Sociais, as famosas holdings); por fim, denuncia a existência de demasiados bancos: “como é que numa economia tão anémica, podem existir tantos bancos?”. A economista revela, ainda, que os bancos não se desenvolvem como uma economia produtiva, mas sim com bases nas indústrias imobiliária e da construção, muitas vezes ilícitas, e dá como exemplo disso mesmo o auge da construção nos anos 90, associado aos fáceis créditos bancários.
De seguida, Mortágua compara a situação atual a uma “tempestade perfeita”, algo que passa pela crise financeira, em que a maior parte destes grupos económicos se apercebem que os negócios onde investiram milhares de milhões não tinham lucro suficiente face à dívida gigantesca. Assim sendo, a maior parte deles contorna regras para se financiar, incluindo o BES, que praticou fraude, afirma a deputada.
A deputada do Bloco remata a sua intervenção ao afirmar que os “privados não são muito bons a gerir bancos e que não estamos em altura de os vender.”
No fim da sua intervenção, o público colocou as suas questões. Uma jovem universitária questionou a deputada sobre o ensino da área económica no país, ao qual Mariana Mortágua explicou que só começou aprender economia “à séria” quando iniciou o seu doutoramento, queixando-se que o ensino da economia só preocupa com a parte numérica, esquecendo-se das componentes transversais fundamentais, desde da sociologia à política, bem como a falta de versatilidade de autores, sendo que os economistas e pensadores mais à esquerda não têm um lugar nos programas.
A deputada respondeu ainda a umas perguntas do JUP sobre assuntos da atualidade política portuguesa: