Política
CORRENTES POLÍTICAS: A SOCIAL DEMOCRACIA
A social democracia surgiu da necessidade de conjugar dois elementos que durante muito tempo se julgaram totalmente incompatíveis: a democracia e o capitalismo. Este movimento surgiu à sombra da Internacional Socialista, da qual se incompatibilizou. Os marxistas acreditavam que o regime capitalista tinha dentro de si os mecanismos que levariam à sua autodestruição e que a luta de classes se encarregaria do golpe final, teoria criticada por aqueles que viriam a integrar a social democracia.
O primeiro grande teórico deste novo ramo do socialismo foi Eduard Bernstein. Bernstein era um forte crítico dos dois principais pilares da teoria marxista: o materialismo histórico e a luta de classes. Apresentou uma alternativa baseada na primazia da política e na cooperação entre todas as classes sociais enquanto motores de evolução. Rejeitando o Marxismo como Marx outrora rejeitara o Liberalismo, o seu novo pensamento abalou profundamente o movimento socialista. A primeira guerra mundial consumou o divórcio entre os sociais democratas e a Internacional Socialista, organização internacional do movimento socialista.
No fim da 1ª Guerra Mundial, a Europa iniciou um processo de democratização. Diversos partidos socialistas tiveram a possibilidade de integrar governos democráticos, o que os obrigou a cooperarem com todos os quadrantes da sociedade, de modo a conseguirem vencer as eleições. Este “desvio” foi justificado por acreditarem que havia uma comunhão de interesses entre todas as classes, dado que, todos sofriam com as desigualdades causadas pelo capitalismo, ou seja, os socialistas deveriam ser representantes de todos e não só do proletariado. Durante esta época surgiram diversos movimentos nacionalistas por toda a Europa aos quais o Marxismo ortodoxo falhou em conseguir dar resposta por não ser abrangente o suficiente. A social democracia surge assim como um movimento mais amplo, capaz de dar resposta às necessidades dos indivíduos dos diversos estratos sociais, reunindo debaixo de si todos aqueles que procuravam alguém que os defendesse contra os efeitos perversos dos mercados.
Foi entre as duas grandes guerras que esta teoria se consolidou. A economia deveria ser controlada pela política. Os sociais democratas desejavam subjugar os mercados em prol do indivíduo, de modo a controlar o seu potencial destrutivo ao mesmo tempo que aproveitariam a sua capacidade de gerar uma riqueza sem precedentes. Esta era a terceira via, entre o laissez-fair liberalista e o comunismo soviético. Durante este período, a social democracia desenvolveu-se essencialmente na Suécia, onde o SAP (Partido Social Democrata Sueco) foi visto como o verdadeiro representante do povo, promovendo uma política de aproximação entre as pessoas e de criação de uma verdadeira comunidade.
Numa Europa em recuperação do segundo conflito global, ficou claro que o caminho que tinha vindo a ser trilhado até ali não se poderia repetir. Surgiu a convicção que um mercado desregulado poderia ser uma ameaça à estabilidade política, económica e social do mundo pós-guerra. Assim, entregou-se ao Estado o papel de regulador económico, de modo a que este contribuísse para o crescimento económico do país, ao mesmo tempo que protegia os seus cidadãos dos possíveis efeitos nefastos dos mercados.
O comprometimento dos estados nesta tarefa tem duas faces principais: o keynesianismo e o estado social. John Maynard Keynes desenvolveu um sistema capaz de conciliar a posse privada dos meios de produção com a gestão democrática da economia. Esta reconciliação seria fruto de políticas monetárias e económicas de estímulo à economia, capazes de estabilizar os lucros e o emprego, sem a necessidade de coletivizar os meios de produção. O Estado Social é também uma mudança nas relações entre o estado e os mercados, repudiando a ideia liberal de que o estado bom é aquele que menos interfere na sociedade, considerando por outro lado, que o estado tem o dever de dar proteção a todos os seus cidadãos, independentemente do seu estrato social.
A social democracia alastrou a muitos países europeus, tendo-se tornado no modelo político/económico de eleição, principalmente no norte da Europa. Chegou Portugal por duas vias distintas a seguir à Revolução dos Cravos: o Partido Socialista (PS) e o Partido Popular Democrático/Partido Social Democrata (PPD/PSD).