Política
MACRON: A LIBERAL-DEMOCRACIA EN MARCHE!
A corrida para o Eliseu há muito que dava que falar. Desde que Hollande admitiu que o seu mandato ficou àquem dos objetivos a que se tinha proposto, ficou claro que 2017 poderia trazer aos franceses um novo Chefe de Estado. Não tardou até haver posicionamentos na corrida.
Em França houve a tentativa de uma unificação à esquerda com a Bela Aliança Popular (BAP), formada quando ainda se especulava acerca da eventual recandidatura de François Hollande. No entanto, esta tentativa saiu frustrada, com o Partido de Esquerda (PG), o Partido Comunista Frânces (PCF), Os Ecologistas (EELV) e o próprio Emmanuel Macron a recusarem-se a participar naquelas que seriam umas primárias únicas de esquerda.
Daí saíram quatro grandes forças apontadas ao Palácio da Presidência, numa das eleições mais decisivas da história da França pós-ocupação. As duas clássicas forças políticas gaulesas voltam a estar na corrida, com o tradicional candidato do centro-esquerda pelo Partido Socialista e o tradicional candidato do centro-direita pel’Os Republicanos.
Mas não há nada de tradicional nas presidenciais francesas de 2017. Não há nada de tradicional com o ano de 2017 e com o choque sistémico pelo qual a política mundial está a passar. Em meados de fevereiro de 2017, a dois meses da 1ª volta das eleições, as duas clássicas forças políticas do país ocupam o 3º e 4º lugar nas sondagens.
A nova ordem política
Muitos anos de alternância de poder, aliados à não-resolução de problemas estruturais, à crise económica de 2007 e à crise no mundo Muçulmano (à qual se tem associado o aumento do terrorismo), mudaram por completo o paradigma político que há décadas governava o ocidente.
A Liberal-Democracia viu-se afundada em problemas que não foi capaz de resolver e, como resultado, renasceram os movimentos populistas. Em França, a Frente Nacional foi ganhando terreno, ergueu as bandeiras antieuropeístas, anti-imigração e tem ganho cada vez mais apoio e suporte social.
Em paralelo com França, vários países viram movimentos anti-liberalismo ganhar força. A vitória do UKIP (UK Independence Party) no referendo sobre o Brexit e a eleição de Donald Trump, deram a Marine Le Pen mais impulso na corrida ao Eliseu.
Nigel Farage e Donal Trump derrotaram aquele que denominaram de establishment: um tirou a Grã-Bretanha da União Europeia, e o outro reverteu oito anos de “Administração Obama”.
A corrida a dois pelo Eliseu
A derrota de Sarkozy e de Juppé, colocou François Fillon como grande adversário de Le Pen. Mas o ano não começou bem para o Republicano. Um escândalo financeiro, no qual alegadamente favoreceu a mulher e os filhos com pagamento de dinheiros públicos por trabalhos que nunca foram feitos, deu força às acusações da Frente Nacional – de que o poder político está corrompido – dando força a Marine Le Pen para se posicionar em primeiro nas sondagens.
Com os Republicanos e o Partido Socialista fragilizados, a Frente Nacional tem oportunidade para cumprir um sonho antigo de chegar ao poder em Paris. A Frente Nacional está mais forte do que nunca e na melhor posição da sua história para chegar ao poder.
E a extrema-direita teria o Eliseu na mão, não fosse a contestação da geração mais jovem. Essa geração, criada num mundo mais globalizado do que nunca, educada no meio de tecnologia que os ligou a todo o planeta, que só conheceu liberdade e democracia, deu o grito de revolta. E assim nasceu o movimento do antigo militante Socialista Francês Emmanuel Macron. Assim, a nova geração de liberais-democratas entrou “En Marche”, apoiando o candidato independente, que recentemente se posicionou como o grande adversário de Marine Le Pen.
Para todos os que se insurgem contra os movimentos nacionalistas, as imagens que chegam de França são “revitalizantes”. Um discurso sedutor, de esperança, de olhos postos num futuro melhor, é o ambiente do percurso do candidato de 39 anos, que tem usado o lema “Igualdade, Liberdade e Fraterninade” em discursos aplaudidos com centenas de bandeiras da União Europeia.
O “Al-Alamein” do mundo liberal
As últimas décadas têm assitido a um debate político que se divide em Esquerda/Direita. Depois de muitos anos, esta clássica fratura poderá sofrer uma rotação.
Os próximos dias 23 de abril de 7 de maio vão ser cruciais. Nestes dias, a União Europeia, como principal player do jogo de estabilidade da política internacional nas últimas décadas, vai ter o resultado que decide o seu futuro.
Acima dos debates entre progressistas e conservadores, acima das divergências étnicas e religiosas, a 2ª volta das presidenciais francesas é um confronto de códigos axiológicos. O futuro residente do Eliseu poderá decidir o próximo passo da política internacional.