Política
BREXIT: E AGORA?
No dia 23 de junho de 2016 foi realizado um referendo, onde o povo do Reino Unido exprimiu a sua vontade de permanecer, ou não, na UE: 52% dos eleitores votaram pelo Brexit – a saída.
O rosto mais significativo da campanha foi Nigel Ferage, o então líder do UKIP (UK Independence Party), partido conservador e eurocético. Durante a campanha, os argumentos apresentados pelo UKIP a favor da saída da UE assentavam sobretudo em questões ligadas à imigração e a nível económico-financeiro.
Os defensores do Brexit contestavam o facto do país gastar demasiado em contribuições para a UE, alegando que esses fundos deveriam ser investidos no sistema nacional de saúde britânico – proposta inscrita num conjunto de autocarros que circularam no centro de Londres – e manifestavam, acima de tudo, a vontade de “querer o seu país de volta”.
Desde então, segundo a Global News, verificou-se um aumento de 58% nos crimes de ódio relacionados com questões raciais, sendo a comunidade muçulmana a mais visada.
O resultado do referendo fez correr bastante tinta, sendo que a grande maioria das personalidades do panorama político europeu, e não só, deixou clara a sua opinião quanto ao tema – o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, classificou, no passado dia 24 de março, o Brexit como “um fracasso e uma tragédia”.
A primeira-ministra britânica, Theresa May, havia prometido, em outubro do ano passado, a ativação do Artigo 50.º do Tratado de Lisboa até ao final de março, mas sem divulgar, na altura, uma data específica.
Porém, desde que o governo britânico anunciou que, a 29 de março, será entregue em Bruxelas a notificação formal com vista à saída do Reino Unido da UE, o Brexit voltou às bocas do mundo e as consequências fizeram-se sentir em força. A situação passou de uma nuvem de suposições para uma realidade bem presente.
Como reagiu a Europa?
No dia seguinte ao anúncio de Theresa May, o presidente do Conselho Europeu anunciou a realização de uma cimeira de líderes europeus a 29 de abril, para definir as posições da União Europeia a 27 nas negociações sobre a saída do Reino Unido do bloco europeu.
Donald Tusk afirmou em Bruxelas que “a grande prioridade para as negociações deve ser criar a máxima certeza e clareza possíveis para todos os cidadãos, empresas e Estados-membros que serão negativamente afetados pelo Brexit”.
No início do mês, Tusk já havia revelado a sua posição quanto às negociações, afirmando: “É nosso desejo que este processo seja construtivo. No entanto, as alegações, que cada vez mais ganham a forma de ameaças, de que a ausência de um acordo seria boa para o Reino Unido e mau para a UE merecem ser comentadas. Um cenário de não acordo seria mau para todos, mas acima de tudo para o Reino Unido, porque deixaria muitas questões por resolver. Nós não seremos intimidados por ameaças, e posso assegurar-vos que elas simplesmente não funcionarão”.
Como reagiram a banca e os mercados?
A libra tem tido um comportamento pouco estável nos mercados desde o referendo. Embora tenha recuperado, em parte, da queda que sofreu aquando do resultado do mesmo, o futuro da moeda estará dependente de vários fatores como: o risco que o Brexit representa no investimento realizado no seio do Reino Unido, a relação entre May e os outros líderes na fase posterior e após as negociações, bem como o resultado das eleições presidenciais francesas.
Relembre-se que a candidata Marie Le Pen afirmou, no passado dia 26, que caso vença as eleições, isso significará “a morte da União Europeia”.
Certo é que, também um dia após o anúncio da líder britânica, a Goldman Sachs anunciou que vai começar a retirar centenas de funcionários de Londres, de acordo com o plano do banco para lidar com a saída do Reino Unido da União Europeia.
A medida não é uma surpresa, tendo em conta que antes ainda da realização do referendo, diversas instituições financeiras alertaram para a possibilidade de moverem as suas sedes e bastantes postos de trabalho da capital inglesa, se o Reino Unido abandonasse o mercado único europeu.
E em Portugal?
Por cá, o Brexit é visto como uma oportunidade, por parte do Governo de António Costa.
No dia 23 de março, o primeiro-ministro anunciou a criação de “uma unidade de missão com o objetivo específico de criar um quadro atrativo para a localização, em Portugal, de empresas que desejem manter-se na União Europeia e que não queiram – por força da legítima decisão dos cidadãos britânicos – ficar fora da UE”.
A ideia passará por Portugal funcionar como uma “plataforma de acolhimento” para as empresas que não manifestem a vontade de serem excluídas da UE, como consequência direta do Brexit.