Política
ELOR AZARIA: ASSASSINO OU HERÓI NACIONAL?
O sargento Azaria matou Abdel Fattah al-Sharif, um palestiniano, pouco tempo depois de Abdel ter esfaqueado, juntamente com outro palestiniano, um soldado israelita num ponto de controlo.
O outro palestiniano envolvido no ato teve morte imediata perante a resposta israelita, mas al-Sharif ainda estava vivo, ferido e caído no chão, quando Azaria lhe deu um tiro na cabeça. O momento foi gravado e circulou pelas redes sociais.
O caso Elor Azari foi dos que mais dividiu a opinião pública israelita, tendo efetivamente posto em causa a ideia de um Estado Democrático de Direito, visto que a independência e fiscalização dos órgãos judiciais foi diversas vezes posta em causa pelos partidos políticos.
Contudo, houve uma decisão clara do Tribunal Militar de Telavive, que surpreendeu a população israelita, o que demonstra o baixo nível de confiança dos cidadãos no que toca ao poder judicial, que se tem desgastado ao longo dos últimos anos.
Contudo, algumas reações foram duras: o ministro da Educação, Naftali Bennett classificou o processo de “imundo” e apelou à invocação de um perdão imediato para Azari; a ministra da Cultura, Miri Regev, descreveu os juízes do caso como um “tribunal-fantoche” influenciado pelos media; o primeiro-ministro israelita expressou também o seu apoio para a absolvição do militar. Inclusivamente, a responsável pelo coletivo de juízes, Maya Heller, foi alvo de ameaças de morte nas redes sociais, tal como Gadi Elizenkot, chefe de gabinete.
A Direita israelita apropriou-se da imagem de Azari e retratou-o como uma vítima indefesa nas mãos de liberais, ao invés da imagem perfilhada pela Esquerda: a de um soldado ideologicamente motivado, que agiu contra ordens e matou de forma injustificada outro ser humano.
Os juízes e procuradores resistiram à constante pressão política, não definindo as vidas dos palestinianos, incluindo a dos terroristas, como desprovidas de valor. Contudo, a Direita vai lutar por perdões e pedidos de clemência para Azari.
A verdade é que os vários anos de guerra levada a cabo por parte da Direita, em geral, e pelo movimento dos colonatos, contra um Estado de direito, um sistema secular, liberal, ou seja, oposto, tem vindo a ganhar cada vez mais apoiantes.
O conflito entre os colonatos e os ideais de um Estado de Direito tornou-se claro desde dos primórdios da sua formação. Os colonatos aprovados pelo Governo, que começaram com o colonato de Kfaz Etzion, no verão de 1967, considerados pelo comunidade internacional como ilegítimos, foram autorizados pelas autoridades israelitas competentes.
Porém, isso não foi suficiente para os colonatos judeus, em geral, e muito menos para movimento de Gush Emunim, tendo estes construído os seus próprios colonatos, desafiando assim as diretivas governamentais para criar factos consumados. Foi o que aconteceu em 1968 em Hebrion e, em Sebastia, em 1975.
A extrema-direita descredibiliza e ataca o Supremo Tribunal de Justiça, tendo comparado a defesa dos direitos humanos e fundamentais à colaboração com o inimigo, perfilhada pelos juízes do Supremo Tribunal, que consideram “fósseis das velhas elites”.
A nível nacional, a sua campanha contra os tribunais passa por ter como objetivo o estabelecimento da supremacia das considerações étnicas, nacionalistas, ou religiosas da maioria judaica em Israel, diante a igualdade perante a lei e a salvaguarda constitucional das liberdades fundamentais para todos os israelitas e palestinianos.