Política
INICIATIVA LIBERAL: UMA “STARTUP” POLÍTICA
O mês de setembro do ano de 2016 registou a criação da associação Iniciativa Liberal.
Com o objetivo de criar um partido cuja ideologia ficaria à esquerda do PSD e à Direita do PS, foi apresentado no dia 16 de fevereiro deste ano a compilação final do Manifesto Portugal Mais Liberal.
Um grupo, não militante, possuidor de uma perceção que vai além da implantada até então, decidiu assumir o título de “liberal”, pretendendo adotar o estilo dos movimentos espanhóis e ingleses liberalistas.
Designado de startup política, a iniciativa desenvolveu-se, essencialmente, pela necessidade de completar o espectro central da constituição política.
Em entrevista ao JUP, Bruno Horta Soares, membro fundador, conta como surgiu o movimento e em que ideias assenta a Iniciativa Liberal.
Atendendo à “inspiração” no estilo dos movimentos espanhóis e ingleses liberalistas, de que forma surgiu a Iniciativa Liberal e qual o seu principal objetivo no que compete à intervenção no sistema político?
Surge precisamente da tomada de consciência de que as mudanças políticas, económicas e sociais que se têm verificado em todo o mundo e na Europa em particular, têm dado ao movimento liberal internacional um novo fôlego, em grande medida porque os valores Liberais são hoje mais atuais do que nunca.
Hoje vivemos num mundo entusiasmante, no qual apenas nos é permitido aproveitar as oportunidades e respondermos às ameaças crescentes se encontrarmos novas soluções e só uma nova geração de políticos poderá dar uma nova esperança de progresso. Portugal não pode ficar de fora desta transformação e, por isso, acreditamos que um Portugal mais Liberal permitirá mais liberdade política, económica e social.
Os fundadores do movimento são: Alexandre Krauss, Rodrigo Saraiva e Bruno Horta Soares. De que forma é que surgiu essa união, isto é, o que levou à formulação do movimento?
Os fundadores do movimento, a que chamamos pioneiros, são todos aqueles que de forma colaborativa construíram o Manifesto Portugal Liberal. Foi uma experiência fantástica onde recebemos contributos de todo o país o que nos deu muita energia para continuar a acreditar que é necessário e é possível fazer crescer um movimento como este em Portugal.
Sendo um movimento que não acredita na formulação de um sistema hierárquico institucional, nem possui uma visão que assenta numa divisão formal entre a Direita tradicional e a Esquerda, recorreram a um manifesto. De que forma é que o manifesto foi instituído?
Nós não somos contra nenhum modelo de organização do espetro político em Esquerda e Direita, simplesmente acreditamos que o debate político se transformou numa novela onde se alimenta esse tipo de dicotomia para que seja mais fácil desenvolver enredos de “estão connosco ou estão contra nós?”.
É essa dura realidade que em Portugal limita a liberdade política e a participação dos cidadãos, afastando-os cada vez mais das decisões que influenciam o seu presente e futuro. Andamos ao sabor de ciclos políticos dos mesmos partidos há anos e, por isso, sentimos que este era o momento de dizer “basta!”.
É muito mais o que une os portugueses do que aquilo que os separa e, assim sendo, fomos ao baú buscar o Manifesto de Oxford.
Pela primeira vez criamos um Manifesto Liberal em Portugal, construído com a participação de todos aqueles que o desejaram fazer. É um sinal de abertura que pretendemos dar desde o primeiro momento e que queremos continuar a dar.
A Iniciativa Liberal tem potencial para ascender a um partido político. Se isso acontecer, qual será a vossa principal preocupação e de que forma pretendem intervir?
A evolução crescente dos números da abstenção e de outros fenómenos de protesto como os votos em branco dá-nos confiança para acreditar que existe uma vasta quantidade de portugueses que não se sente representada. Não porque acham que lhes falta esta ou aquela ideologia, mas porque sentem falta de acreditar em alguém, depois de tantos anos com as mesmas caras a alternarem entre heróis e vilões.
Aquilo que ouvimos das nossas famílias, amigos e pessoas com quem falamos é que falta quem lhes dê esperança e que lhes faça acreditar que o amanhã pode realmente ser diferente. Desde o primeiro momento que decidimos crescer organicamente como movimento e quando representarmos o número suficiente de cidadãos para criar um partido, será certamente o que iremos fazer.
Quando isso acontecer e adquirirmos a confiança dos portugueses, acreditamos que podemos pressionar os restantes agentes políticos a centrarem-se mais nas soluções de futuro do que nas culpas do passado. Já não estamos muito longe!
Assumindo uma visão liberal na sociedade, não só a nível social mas também económico e político, de que forma a Iniciativa Liberal encara a mesma e de que forma pretende agir não apenas a nível político mas também social e económico?
Nos últimos 40 anos em Portugal não se verificou uma maior liberdade política. Os principais agentes políticos, muitos deles chegados à vida política ainda novos depois da revolução, não souberam dar o lugar aos mais novos para que novas gerações tivessem as mesmas oportunidades de contribuir para o desenvolvimento do país que eles tiveram. Pelo contrário, foi-se agravando a mistura entre política e economia, com o Estado a ocupar um lugar central quer no investimento quer no emprego. Isso obviamente limita em muito a liberdade económica e, consequentemente, a liberdade de cada português acreditar que pode possui a mesma na escolha das decisões da sua vida.
Hoje vivemos numa sociedade onde não existe uma cultura saudável de aproveitamento do mercado de capitais e onde o PSI 20 há muito que foi substituído por endividamento bancário (com os resultados que todos conhecemos) e por subsídios alavancados pelo Estado. Estes não são os modelos de desenvolvimento económico do século XXI e nós queremos acreditar que é mais saudável um jovem crescer a recorrer ao crowdfunding do que a pedir “esmolas” ao Estado.
É possível verificar a vossa participação em diversas conferências a nível internacional. Como classificam essa adesão ao manifesto e ao próprio movimento a nível político?
A ligação ao Alde Party tem sido uma inspiração e uma força muito grande. Desde o primeiro momento que quisemos olhar lá para fora, ver como outros países estão a responder a desafios semelhantes aos nossos, como os valores Liberais estão a ser importantes em muitos países da Europa e toda esta rede Europeia tem sido fundamental para trocarmos experiências.
O nosso Manifesto Portugal Mais Liberal foi partilhado com líderes Liberais de toda a Europa e recebemos manifestações de apoio incríveis, que temos partilhado para que Portugal também possa conhecer esta mudança que está a acontecer lá fora.
O movimento assenta numa coligação entre o real e o virtual. Qual a razão pelo qual decidiram enveredar por um meio virtual para evidenciar o movimento político, assim como o manifesto?
Queremos chegar a cada vez mais portugueses e estar muito perto deles. O digital é a ferramenta indicada para acelerar todo esse processo. Acreditamos que plataformas digitais nos permitirão criar estruturas mais ágeis, mais eficientes e que sejam sobretudo mais transparentes para quem se juntar a nós.
Muito em breve iremos iniciar o processo de adesão de membros à Iniciativa Liberal e para tal criamos uma plataforma digital que no futuro permitirá um contacto direto com membros e simpatizantes para decisões, onde a consulta da comunidade se mostra importante. Acreditamos que os nossos representantes, no futuro, serão efetivamente a voz dos cidadãos e terão de lhes prestar contas com toda a transparência, estamos a trabalhar nesse sentido desde o dia um.
Atendendo à evolução que o movimento tem apresentado, como classifica essa evolução perante a possibilidade de se afirmar como um partido político?
Se fosse simples criar partidos políticos em Portugal muitos teriam sido criados ao longo dos últimos 40 anos.
O sistema político está saturado e as barreiras à entrada são mais do que muitas e é por isso que acreditamos no crescimento orgânico e, um dia, mais cedo que tarde, será um passo natural o lançamento da representação partidária da Iniciativa Liberal. Desde o início que acreditamos que no futuro será possível manter a plataforma de cidadania e o partido ativos em simultâneo, vamos ver como corre.
Por último, o que pretende alterar o movimento Iniciativa Liberal?
O bom de criarmos algo de novo é que todos os dias construímos mais qualquer coisa e, com isso, vamos alterando e ajustando os nossos planos à realidade. Neste momento estamos a contruir a nossa Agenda Política, mais uma vez de forma colaborativa, sendo mais um passo importante para a materialização dos nossos princípios e valores em ideias, soluções e objetivos mais concretos. Estamos muito entusiasmados e esperamos ter a agenda fechada logo depois do verão, quem sabe mesmo a tempo do nosso primeiro congresso.