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Política

HOUSE OF CARDS: COMO FUNCIONA A POLÍTICA NA VIDA REAL

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Adaptada do romance homónimo de Michael Dobbs e da mini série britânica criada por Andrew Davies, “House of Cards” pode ser considerada um espelho da política.

Em todos os episódios somos recebidos por Frank Underwood (interpretado por Kevin Spacey), congressista democrata da Carolina do Sul e pelo seu mundo. Frank é o narrador da série: sempre que toma uma decisão ou faz uma jogada política, encara diretamente a câmara e explica a quem assiste o porquê de o ter feito e quais são as consequências que se irão seguir. Nesse sentido, “House of Cards” é por muitos considerada uma série original, onde os espectadores são guiados por Frank e com o tempo ganham consciência da corrupção e do desejo por poder.

Na série, todas as personagens representam algo: o carisma de algumas leva as massas a comportarem-se de determinada maneira; a influência do poder económico e das grandes empresas sobre o poder político; a forma como a ânsia pelo poder pode levar os indivíduos a deixarem-se ser explorados.

Isto pode ser verificado na vida real: muitas vezes, políticos, figuras mediáticas ou empresas não representam somente o cargo que ocupam – as suas ações implicam todo um conjunto de consequências para o espectro político, económico e social.

Frank Underwood é o protagonista da história. Após assegurar a eleição do presidente Garrett Walker, não é nomeado secretário de Estado como lhe havia sido prometido. Preterido, Underwood inicia com a sua mulher, Claire (Robin Wright), diretora de uma Organiação Não Governamental (ONG), um plano para alcançar o poder.

Claire é educada, elegante e mais carismática do que o marido. Também na política da vida real encontramos casais carismáticos que conseguem influenciar massas: o facto de uma figura política ser casado com um cônjuge que agrade à população, é quase tão importante para o sucesso, como este ser ou não um bom político.

Temos como exemplo Barack e Michelle Obama: ambos agradam à multidão e conseguem ter aparentemente uma maior influência política e social como casal do que isolados.

Claire e Frank Underwood, um casal calculista e manipulador

Claire e Frank Underwood, um casal calculista e manipulador

A personagem Zoe Barnes (Kate Mara), ainda cuja presença seja breve na série, mostra-nos o lado degradante do jornalismo: a ânsia de subir na carreira e o “não olhar os meios para atingir os fins” de Zoe para conseguir o melhor artigo, levam-na a envolver-se sexualmente com Frank, que lhe providencia material para os seus artigos, ao mesmo tempo que a manipula, levando-a a publicar o que este deseja para seu proveito.

"Tudo por uma história" é o lema de Zoe

“Tudo por uma história” é o lema de Zoe

Outras personagens, como Remy Danton (Mahershala Ali) e Raymond Tusk (Gerald McRaney), representam a relação entre economia e política. Enquanto o primeiro trabalha para uma companhia de gás natural, a Sancorp, (que contribui com dinheiro para as várias campanhas políticas que Frank apoia, em troca do apoio em legislação que beneficie a empresa), o segundo é um bilionário e empresário que está envolvido na área da energia nuclear e amigo pessoal do presidente, oferecendo-lhe conselhos em segredo.

Danton e Tusk são usados por Underwood no seu plano de vingança, o que mostra a importância do poder económico para conseguir influência. Na verdade, segundo o congressista, ter bem clara a definição de poder é algo crucial para ser bem-sucedido: “Dinheiro é a mansão no bairro errado, que começa a desmoronar após dez anos. Poder é o velho edifício de pedra, que se mantém de pé por séculos.”

Em suma, ainda que utilize meios antiéticos, Frank Underwood é um exemplo ficcional de que alcançar sucesso no mundo da política significa muitas vezes a deterioração da natureza humana: a mentira substitui a verdade, a corrupção é mais relevante que a transparência.

Fazendo um paralelismo com a realidade, já foram feitas várias comparações entre a série e a situação política no Brasil, por exemplo, pelo “New York Times” e pelo jornal alemão “Die Zeit”.

O primeiro refere que o estado da política brasileira na altura de Dilma Rousseff era um género de House of Cards, “em que os líderes do Congresso ocupam o espaço, enquanto a presidente está fraca”. O último ironiza: “não se percebe porque as pessoas ainda estão interessadas em House of Cards, será que estas não acompanham as notícias da política brasileira?”.

A série promove sobretudo a reflexão: será que sabemos mesmo em quem estamos a votar? Não seremos somente peões nas mãos dos políticos que promovem o desinteresse na educação para nos manipularem mais facilmente? Até que ponto é importante ter influência?