Política
A VISÃO DE DANIEL HANNAN SOBRE A UNIÃO EUROPEIA
Estamos a viver os efeitos de uma das crises mais difíceis que a Europa já viu. Quão bem acha que a União Europeia (UE) reagiu? O projecto europeu mostrou alguma fraqueza quando se tratou de valores como união e apoio aos países em necessidade?
A crise foi causada por excesso de dívida e demasiados gastos. A UE respondeu com mais dívida e mais gastos, forçando novos empréstimos aos países que estavam a lutar com as suas obrigações existentes. Forçar uma política monetária única em economias amplamente divergentes foi desastroso. Mas, ao invés de admitir isso, Bruxelas insiste numa maior integração económica: partilha da dívida, ministério das finanças europeu comum, Eurozonas, harmonização fiscal, etc. Este é o medicamento que adoeceu o paciente em primeiro lugar.
Estas eleições europeias são extremamente importantes, pois vão decidir que plano pós-crise é que a UE vai seguir. Que caminho considera ser o mais correcto?
Quero que os poderes da EU retornem para as autoridades nacionais e locais. Quero as decisões tomadas mais perto das pessoas que elas afectam. Quero reconhecer a legitimidade particular que foi conquistada ao longo de muitos anos por instituições nacionais. E, embora isso não caiba a mim decidir, se eu fosse um deputado português, eu estaria a argumentar a favor de um desmantelamento organizado do euro, para que Portugal possa custear o seu caminho de volta ao mercado e exportar o seu caminho de volta ao crescimento.
Com o Tratado de Lisboa, o Parlamento Europeu viu as suas funções limitadas. Além disso, já disse que a UE não é uma instituição de plena democrática. Acha que o Parlamento está pronto para iniciar um novo rumo?
A democracia é mais do que o direito de um voto a cada poucos anos. Ela depende também de um sentimento de identidade comum. Muito poucas pessoas se sentem europeias no mesmo sentido em que nos podemos sentir húngaros, portugueses ou suecos: não há opinião pública europeia comum, não há a sensação de ser um eleitorado comum. Dito de outra maneira, a Europa carece de demos – uma unidade com a qual nos identificamos quando usamos a palavra “nós “. Se tirarmos a demos de democracia, somos deixados apenas com kratos: o poder de um sistema que deve obrigar, por força da lei, o que não se atreve a pedir em nome do compromisso civil.
É um apoiante claro do euroceticismo, como a maioria dos britânicos, tendo dito inclusive, no ano passado, que o Reino Unido devia ter o papel de bom vizinho. Considera que é viável uma UE sem um dos seus membros influentes?
Eu amo a Europa. Eu falo francês e espanhol e já vivi e trabalhei em todo o Continente. O meu problema com a UE não é com trazer os países vizinhos em conjunto para projectos comuns: teria que ser louco para me opor a isso. O meu problema com ela [a UE] é que as instituições de Bruxelas têm-se tornado remotas, de auto-serviço e muitas vezes corruptas. Se o Reino Unido fosse governado por 28 funcionários não eleitos e se eles se concentrassem em estar confortáveis, sem se preocupar com a opinião pública, eu estaria contra isso também. Não me faria um “Anglocéptico”: faria de mim um democrata.
Quais são as expectativas britânicas quando se trata da UE? Quais seriam as vantagens e desvantagens de deixar este projecto?
Queremos o livre comércio e uma estreita colaboração com os nossos vizinhos. Nós também queremos viver sob nossas próprias leis e poder contratar e demitir as pessoas que não as cumprem. Eu não acredito que ser um país independente iria prejudicar as nossas relações com os nossos [países] amigos. A aliança entre Inglaterra e Portugal, por exemplo, é a mais antiga do planeta: ela é anterior à UE por 700 anos, e vai ser tão forte com ou sem as instituições de Bruxelas. A maioria dos países europeus está agora numa área de livre comércio, independentemente de estarem ou não na UE. O mercado único estende-se à Islândia, Andorra, Suíça, Macedónia, Turquia, etc. Eu nunca ouvi ninguém em Bruxelas sugerir que, se a Grã-Bretanha se retirasse dos aspectos políticos da UE – a política externa comum, as regras comuns em matéria de justiça penal, etc – não iria continuar a desfrutar em pleno do acesso ao mercado da mesma forma que, por exemplo, a Ilha de Man faz.
Considera que sair da UE vai abrir as portas para outros partidos / países deixarem, de igual forma, o projecto europeu?
Se a Grã-Bretanha tiver sucesso na obtenção de uma relação baseada no comércio, em vez da união política, suspeito que alguns dos outros países mais periféricos, mais atlantistas poderão seguir [a tendência]. (…) Quanto ao nosso aliado mais antigo (…) eu fico sempre impressionado quando visito Portugal, pelo facto de todos os seus edifícios mais importantes estarem virados para o mar. Vocês são, como nós, uma população comerciante e marítima. Numa altura em que todos os continentes estão a viver um crescimento económico, essas ligações transoceânicas são especialmente valiosas.
A crise 2008 pôs em risco o papel de grande mercado económico que a Europa tinha. Se os países começarem a deixar o projecto europeu pode-se criar uma desvantagem económica para a Europa?
Pergunte-se porque todos os outros continentes estão crescendo. A resposta é demasiado simples. A Europa está demasiado centralizada, com excesso de regulamentação e sobre-endividada. Precisamos de mais empresas e menos governo. Precisamos de mais pessoas no sector privado a gerar excessos e menos no sector público a consumi-los. Acima de tudo, precisamos difundir, descentralizar e democratizar a tomada de decisões. A concentração de poder na União Europeia é agora um grande obstáculo para a nossa recuperação.
Acredita que é, de certa forma, incoerente ser um candidato a uma posição europeia, mas acreditar firmemente que o Reino Unido deve seguir as suas próprias regras ?
A lógica dessa posição é que apenas Euro-integracionistas devem sentar-se no Parlamento Europeu. Que democracia seria!
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