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Política

RÚSSIA: O HOMEM QUE DESAFIOU O KREMLIN (PARTE 1)

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O ano 2000 é uma data escrita a fogo nos anais da Rússia moderna. Em Dezembro de 1999, Boris Yelstin renunciou à presidência do país durante o seu tradicional discurso de Ano Novo e designou o ex-KGB Vladimir Vladimirovitch Putin como presidente interino da Federação Russa.

Meses depois e após uma campanha política marcada pela Guerra da Chechénia, Putin venceu as eleições presidenciais com 44,98% dos votos e, de acordo com a revista Forbes, converteu a Rússia num Estado autoritário de matriz contemporânea.

Uma das primeiras manifestações de força da era-Putin consistiu em enfraquecer o papel dos partidos da oposição na Duma – a câmara baixa da Assembleia Federal. Inspirado pelo modelo de partido único da extinta U.R.S.S., Putin aprovou uma lei que determinava um novo mínimo percentual de votos nas urnas para a atribuição de assentos parlamentares a partidos políticos. E eis a razão que levou Alexei Navalny filiar-se a um partido.

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QUEM É ALEXEI NAVALNY?

Alexei Anatolievich Navalny nasceu em junho de 1976. Filho de um oficial do exército soviético, cresceu em pequenas cidades militarizadas nos arredores de Moscovo, onde se viria a licenciar em Direito. Como reação de protesto à cláusula de desempenho eleitoral do governo de Putin, Alexei Navalny inscreveu-se no Yabloko – um partido liberal pró-Ocidental cuja representação parlamentar minoritária passava a estar ameaçada.

Tinha 24 anos e cedo se destacou na delegação moscovita do Yabloko. Todavia a estratégia de Putin não tardou a surtir efeitos e o partido perdeu a representatividade parlamentar após as eleições legislativas de 2003. Pouco tempo depois, Navalny fundou um blog na plataforma LiveJournal – uma referência na discussão política russa dos anos 2000 – e começou a publicar as suas opiniões na internet.

Em 2006 tomou parte nas polémicas Marchas Russas, um conjunto de protestos de pendor ultra-nacionalista que ficaram marcados por desacatos entre os manifestantes e a polícia de intervenção. Seguiu-se a sua expulsão do Yabloko, que o partido creditou às suas ‘actividades nacionalistas’; por sua vez, Navalny asseverou que a verdadeira razão do seu afastamento se devia ao pedido público de demissão que dirigiu ao líder yablokista Grigory Yavlinsky.

Destituído de um partido, foi na qualidade de pária político que Alexei Navalny entreviu a oportunidade de tomar as rédeas da sua própria fortuna. Em 2008 fundou o movimento ‘As Pessoas’ sem esconder a ambição de vir a metamorfoseá-lo num partido político à escala nacional. E foi através deste movimento, ideologicamente encostado ao nacionalismo democrático, que Navalny iniciou a sua cruzada contra o regime de corrupção instalado no Kremlin.

De acordo com a revista Time, Navalny começou por adquirir pequenas ações bolseiras de duas empresas estatais russas de combustíveis fósseis – a petrolífera Rosneft e a Gazprom, a principal exportadora mundial de gás natural. Na qualidade de acionista minoritário, Navalny teve acesso a documentos qualificados, tomou parte em reuniões de acionistas e alimentou o seu blog com investigações que expunham as relações de promiscuidade entre os sectores público e privado.

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Uma das investigações iniciáticas chegou a ter ecos na imprensa internacional, propondo-se a expor um esquema de lavagem de dinheiro entre o banco VTB, cujo principal acionista é o governo russo, e o Estado Chinês. Navlany interpôs processos judiciais contra estas empresas, mas todas as suas tentativas foram rejeitadas pelos tribunais russos.

Mas à medida que Aleixei Navalny se tornava numa figura cada vez mais mediática na Rússia, mais malquisto se tornava o seu nome no seio do Kremlin. Em 2009 o ativista assumiu as funções de conselheiro democrático de Nikita Belyck, um proeminente político liberal então governador da região administrativa de Kirov, a cerca de mil quilómetros de Moscovo.

Quando Navalny voltou à capital russa, o Kremlin, que ainda não tinha feito outra coisa que não aguentar os seus arranhões em silêncio, desferiu-lhe o primeiro golpe. O mito Navalny estava prestes a nascer.

Continua em RÚSSIA: O HOMEM QUE DESAFIOU O KREMLIN (PARTE 2)