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Política

NETANYAHU: O CAMINHO ATÉ AO PODER

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O passado militar

Benjamin Netanyahu nasceu em Tel Aviv a 21 de outubro de 1949 e foi inicialmente educado em Jerusálem. Em 1956 e 1958 e novamente entre 1963 e 1967, a sua família viveu em Filadélfia, no estado americano da Pensilvânia. Depois de terminar o ensino secundário nos Estados Unidos, regressou a Israel para cumprir o serviço militar obrigatório nas Forças de Defesa de Israel (FDI). Netanyahu dedicou-se bastante à vida militar, tendo treinado como soldado e chegando a liderar a força de elite Sayeret Maktal. Chefiou vários assaltos durante a Guerra do Desgaste, participou em missões na Síria, no Egito e na Jordânia e chegou a ser ferido em combate em várias ocasiões.

Netanyahu ao serviço das FDI [Foto: Reuters]

Netanyahu ao serviço das FDI [Foto: Reuters]

Em 1972 terminou o serviço militar e regressou aos Estados Unidos, para ingressar no conhecido Instituto de Tecnologia de Massachusets (ITM). Contudo, em 1973, Netanyahu regressou a Israel para servir na Guerra do Yum Kippur, onde lutou contra forças egípcias ao longo do Canal do Suez. Em 1975 concluiu a licenciatura e em 1976 terminou o mestrado em arquitetura no ITM. Netanyahu planeava doutorar-se em ciência política, mas a morte do seu irmão levou à interrupção dos estudos. Mais tarde, criou o Instituto Jonathan em honra do irmão, que patrocina conferências sobre terrorismo. Netanyahu chegou a ser colega de trabalho de Mitt Romney, antigo governador do Massachusets e adversário de Obama nas presidenciais de 2012, no Boston Consulting Group, onde os dois se tornaram amigos.

A vida política

Em 1978, Netanyahu regressou ao país natal. Em 1982 começou a envolver-se na política israelita, tendo trabalhado na embaixada de Israel em Nova Iorque durante os dois anos seguintes. Já entre 1984 e 1988, representou Israel nas Nações Unidas. Foi eleito deputado nas legislativas de 1988, pelo partido de centro-direita Likud. Entre 1988 e 1991 serviu como ministro dos Negócios Estrageiros e mais tarde como vice primeiro-ministro de Yitzhak Rabin.

Depois da derrota nas eleições de 1992, o Likud realizou eleições diretas, que Netanyahu venceu, tornando-se o líder do partido. O governo de Shimon Peres atravessava um momento de instabilidade devido ao assassinato de Yitzhak Rabin (cometido por um opositor às tentativas de resolução do conflito com a Palestina, nomeadamente através os Acordos de Oslo) e com as séries de atentados suicidas levadas a cabo por militantes palestinianos. Esta situação levou a que, nas eleições para primeiro-ministro de 1996, Netanyahu ganhasse a Peres por uma margem de 1%. Contudo, foi o Partido Trabalhista quem venceu as eleições para o parlamento, o que levou a que Netanyahu se coligasse para poder governar. Aos 46 anos, Bibi (como é apelidado em Israel) tornou-se assim no primeiro-ministro mais jovem da história de Israel.

Netanyahu e a esposa a celebrar a sua vitória em 1996 [Foto: Reuters]

Netanyahu e a esposa a celebrar a sua vitória em 1996 [Foto: Reuters]

O seu primeiro mandato começou de forma instável. A sua decisão de abrir um antigo tunel perto da mesquita de Al-Aqsa (o terceiro lugar mais sagrado do Islão) aumentou a tensão com os palestinianos, levando Bibi a reverter a sua oposição aos acordos de 1993 com a Organização para a Libertação da Palestina. Em 1997, acordou a retirada de tropas israelitas de regiões da Cisjordânia, mas a pressão dentro da coligação governativa levou a que anunciasse a intenção de criar mais colonatos judeus em território reclamado pela Palestina. Seguiram-se contestação, protestos violentos e bombardeamentos por parte do Hamas.

Em 1998, Bibi e o líder palestiniano Yasser Arafat iniciaram as negociações que levariam ao Memorando de Wye River, que estabeleceu que 40% da Cisjordânia deveria ser entregue à Palestina. Esta cedência perante a Palestina foi fortemente criticada pela direita mais conservadora de Israel e levou a que Netanyahu perdesse apoio dentro da coligação. O parlamento dissolveu o governo e foram convocadas novas eleições.

As coisas não estavam a correr bem a Bibi. A sua tentativa de regressar ao governo foi assombrada por um crescente descontentamento dos eleitores face às suas políticas de paz inconsistentes. A população acreditava que o Netanyahu que se opôs aos Acordos de Oslo por achar que estes encorajavam o extremismo palestiniano não era o mesmo que aceitou ceder a Cisjordânia sem garantias em troca. O seu apoio estava fragmentado, e Bibi perdeu as eleições de 1999 para o Partido Trabalhista.

Também em 1999, Ariel Sharon sucedeu a Netanyahu na liderança do Likud. Durante o governo de Sharon foi ministro dos Negócios Estrangeiros entre 2002 e 2003 e ministro das Finanças entre 2003 e 2005. Depois da saída de Sharon do Likud, Netanyahu voltou à liderança do partido. Contudo, perdeu as eleições legislativas contra o Kadima, o partido recém criado por Ariel Sharon.

Já nas eleições de 2009, o Likud ficou com apenas menos um deputado do que o Kadima. Devido a este resultado tão próximo, os líderes de ambos os partidos poderiam vir a formar governo, dependendo da sua capacidade de negociar a formação de coligações. Netanyahu saiu vitorioso e formou governo a 31 de março de 2009.

Em junho de 2009, as negociações com a Palestina chegaram a um impasse. Apesar de Bibi ter pela primeira vez apoiado a criação de estado palestiniano independente, esse apoio tinha como condições que esse futuro estado seria desmilitarizado e que teria de reconhecer formalmente Israel como um estado judeu. Estas condições foram rejeitadas e as novas tentativas de aproximação em 2010 falharam, após Israel rejeitar extender uma proibição temporária da construção de novos colonatos na Cisjordânia.

As relações com o Irão também se deterioraram, com o governo de Netanyahu a pressionar várias vezes a comunidade internacional para endurecer as posições com país, devido ao alegado programa de armas nucleares. A chamada primavera árabe (que viu a queda de vários governos árabes em 2011) também preocupou o governo israelita, que temia que os novos líderes fossem antagonistas de Israel.

A crise económica vivida no país também agitou a sociedade israelita. O desemprego e a falta de investimento público na saúde, nos transportes e noutros serviços essenciais gerou descontentamento social, especialmente entre os mais jovens.

Depois das eleições de 2013, Bibi conseguiu assegurar o regresso à liderança do governo. Porém, as dificuldades económicas que se viviam levaram a um crescimento da esquerda em Israel, obrigando Netanyahu a coligar-se com forças mais centristas do que de direita, seguindo uma via mais moderada, contrariamente ao seu governo anterior.

Netanyahu a acenar a apoiantes depois de vencer em 2013 [Foto: Getty Images]

Netanyahu a acenar a apoiantes depois de vencer em 2013 [Foto: Getty Images]

No verão de 2014, o conflito israelo-palestiniano viveu um dos momentos mais tensos até agora. O governo israelita ordenou uma invasão militar à Faixa de Gaza, como retaliação ao lançamento de rockets sobre o país. Apesar de Netanyahu alegar que o objetivo da missão era impossibilitar o lançamento de novos rockets por parte do Hamas, Israel foi severamente criticado internacionalmente devido ao elevado número de mortes do lado palestiniano. A relação com o aliado Estados Unidos também sofreu com os desacordos sobre as negociações com os palestinianos. A escolha da administração Obama de resolver o conflito com o Irão de forma diplomática também desagradou a Netanyahu, que defendeu que as sanções contra o Irão deviam ser mantidas. O primeiro-ministro de Israel inclusivamente criticou a decisão de Barack Obama no próprio congresso americano.

Houve mais instabilidade política devido aos desentendimentos dentro da coligação a nível orçamental e sobre a tentativa de aprovação de uma lei que definisse oficialmente Israel como um estado-nação para judeus. O governo acabou por cair e eleições antecipadas foram marcadas para março de 2015. Apesar de se esperar uma luta renhida, o Likud ganhou as eleições com uma margem confortável.

Amado por uns, odiado por outros

Benjamin Netanyahu está longe de ser uma figura consensual. O seu atual quarto mandato está a ser assombrado por várias suspeitas de corrupção. As investigações focam-se em dois casos principais: o Caso 1000 e o Caso 2000. No Caso 1000, o primeiro-ministro é suspeito de receber dinheiro de forma ilegal de várias figuras poderosas, incluindo o produtor de Hollywood Arnon Milchan. Já o Caso 2000 relaciona-se com alegadaos acordos entre o grupo de media Yediot Ahronot e o governo; o governo aprovava leis que prejudicassem o principal rival do Yediot Ahronot, o Israel Hayom, e em troca recebia cobertura mais favorável das políticas de Netanyahu. Em fevereiro, a polícia israelita afirmou ter provas suficientes para acusar Bibi de subornos e fraude. Apesar das acusações, Bibi já negou tudo e afirma não se demitir.

A nível internacional são muitos os críticos da forma como Netanyahu encara o conflito com a Palestina, com constantes acusações de uso excessivo da força das FDI com o seu apoio à continuação da construção de colonatos em território legalmente palestiniano. As críticas ganharam mais força quando, em maio, dezenas de palestinianos morreram durante prostestos à mudança da embaixada dos Estados Unidos de Tel Aviv para Jerusálem. Mais recentemente a aprovação da lei que define Israel como o estado-nação dos judeus também criou polémica, dado que um quinto da população israelita é árabe.

Ivanka Trump e Jared Kushner com Benjamin Netanyahu e a sua mulher na nova embaixada americana [Foto: APP]

Ivanka Trump e Jared Kushner com Benjamin Netanyahu e a sua mulher na nova embaixada americana [Foto: APP]

Apesar de tudo isto ter afetado a sua popularidade, Bibi ainda tem bastante apoio em Israel. Muitas das suas medidas que levaram ao crescimento económico e tecnológico de Israel; a nível de segurança, Israel tem vindo a viver num período mais estável do que aquele que anteriores líderes conseguiram proporcionar e até as relações com países árabes vizinhos, como o Egito, a Jordânia ou a Arábia Saudita, têm vindo a melhorar, o que explica o apoio dos israelitas. A sua popularidade tem vindo a diminuir nas sondagens, mas teremos de esperar pelas eleições de 2019 para saber se essa tendência vai ou não ditar a saída da maior figura política de Israel.