Política

ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS NO BRASIL: AFINAL ELE SIM?

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Os resultados finais das eleições de 7 de outubro no Brasil ditaram a passagem à segunda volta de Jair Bolsonaro, com 46% dos votos, e de Fernando Haddad, com 28%. No entanto, os números finais mostram muito mais do que dois candidatos que lutam entre si para suceder a Michael Temer e conduzir os destinos do maior país da América do Sul.

Do Brasil chegam relatos preocupantes de episódios de violência nas ruas, a grande maioria de teor racista, xenófobo, homofóbico e até machista que podem estar conotados à difícil situação política que o país enfrenta. Um dos exemplos mais paradigmáticos desta realidade é o caso de uma mulher agredida e marcada com uma suástica nas costas por usar uma camisola alusiva ao “movimento #EleNão”. Recorde-se que se trata de uma campanha feminista contra Bolsonaro. A morte de Romualdo Rosário da Costa, mestre de capoeira, com 12 facadas também está a ser encarada como um crime com motivações políticas, já que o assassinato aconteceu depois de a vítima se ter envolvido numa discussão em que confessou ter votado no Partido dos Trabalhadores.

A ONU já demonstrou a sua preocupação e pediu medidas aos líderes políticos brasileiros para travar o clima inflamado da campanha eleitoral. Nesse sentido, os dois candidatos já condenaram os atos de violência, embora se desresponsabilizem de possíveis culpas. Jair Bolsonaro, que apresenta um programa com fortes medidas contra o crime, diz “nada poder fazer” se alguém com uma t-shirt alusiva a si “for longe demais”. Mesmo assim deixou o apelo “para que as pessoas parem”. Por sua vez, Haddad responsabilizou o oponente porque “fomenta a violência, incluindo a cultura de violação”.

Tido entre muitos jornalistas sul-americanos como o “Trump da América Latina”, Bolsonaro tem-se assumido não só como o candidato da rejeição de um partido, o PT, mas também do próprio sistema partidário que desde a restauração da democracia serve de base ao sistema político brasileiro. Esta perspetiva parece favorecer o candidato do PSL.

Para vários analistas políticos, o atentado a Bolsonaro foi um autêntico trunfo na mão do candidato, uma vez que o seu estado de saúde tem sido a justificação apresentada para não participar nos debates eleitorais, algo que tem jogado a seu favor até agora, tendo em conta os resultados obtidos. Vale a pena referir que enquanto os restantes candidatos participavam no último debate antes da primeira volta, Bolsonaro concedeu uma entrevista em direto à televisão concorrente, mesmo tendo alegado motivos de saúde para não comparecer ao frente-a-frente.

Na antecâmara da segunda volta e perante novas recusas de Jair, Haddad mostrou-se disponível para debater “até na enfermaria“. Para reforçar este ponto de vista, os mesmos apontam como paralelo a fragilidade argumentativa de Marine Le Pen (a candidata da extrema direita às presidenciais francesas de 2017) que consideram ter sido “esmagada” nas discussões televisivas com o atual presidente francês, Emmanuel Macron.

Quanto ao substituto de Lula da Silva na corrida eleitoral, Haddad poderá tentar aproveitar a onda de popularidade do antigo presidente brasileiro, no entanto, a colagem ao histórico líder do PT parece ter sido fatal para o candidato dos trabalhistas que não consegue afastar o partido das suspeitas de corrupção. Será ainda expectável que alguns dos restantes candidatos anunciem o seu apoio ao candidato do PT de forma a influenciar o seu eleitorado a impedir o triunfo das polémicas ideias do antigo militar.

As últimas sondagens dão Bolsonaro como vencedor da segunda volta com 58% das intenções de votos. No entanto, se Haddad vencer será inédito, uma vez que o Brasil sempre elegeu o vencedor da primeira volta.

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