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FRANÇA: COLETES AMARELOS SAEM À RUA PELO QUINTO SÁBADO CONSECUTIVO

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França recebeu este sábado, 15 de dezembro, o V ato de um conjunto de manifestações organizadas pelos chamados “Coletes Amarelos”. Depois da violência causada nas últimas semanas – no dia 8 de dezembro foram detidas 1385 pessoas um pouco por toda a França, enquanto que no dia 1 foram 682 –, as autoridades aguardavam expectantes para perceber o grau de mobilização dos manifestantes, já que o dia de protestos acontecia ainda no rescaldo do atentado de Estrasburgo e após as cedências de Emmanuel Macron.

A situação esteve sobre o controlo das autoridades durante grande parte do dia – durante a manhã o aglomerar de protestantes foi manifestamente menor em comparação com as semanas anteriores –, no entanto, a meio da tarde as forças policiais, cerca de 8 mil na cidade de Paris, voltaram a exercer a força através do uso de canhões de água e de gases lacrimogéneos e pimenta quando se registaram confrontos.

No rescaldo do dia e segundo dados da polícia, estima-se que 66 mil pessoas tenham estado nas ruas de todo o país e menos de três mil nas da capital, um sinal de que um grande número de manifestantes optou por demonstrar o seu descontentamento nas cidades de origem. Em Paris foram ainda detidas 168 pessoas.

O mote dos protestos deste sábado foi “Macron, demission!”, um apelo que já havia sido reiterado nas manifestações das semanas anteriores, mas que este sábado ganhou nova força. Nem o recuo do Presidente em relação ao imposto sobre os combustíveis – que foi anulado – e o aumento do salário mínimo em 100 euros fez esmorecer a contestação, já que muitos manifestantes apelidam estas cedências de “migalhas”.

Coletes Amarelos: De onde vêm e para onde vão?

O movimento dos “Coletes Amarelos” teve origem nas redes sociais, com especial ênfase no Facebook e Whatsaap, e a sua principal reivindicação era o fim da taxa sobre os combustíveis. Numa fase inicial, o movimento era formado por grupos isolados de cidadãos descontentes, no entanto, a insatisfação rapidamente alastrou a outros setores da sociedade francesa, assim como os seus apelos. As novas bandeiras do movimento passam pela defesa de melhores salários, menos precariedade no emprego e a denúncia do aumento do custo de vida.

O controverso imposto sobre os combustíveis faz parte de um programa ecológico que Emmanuel Macron quer implementar em França a partir de 2019 e que visa promover uma transição energética. No entanto, tal intenção não foi bem recebida por certos setores da sociedade que entendem que este imposto vai prejudicar, mais uma vez, os morados das zonas rurais e suburbanas, aqueles que mais dependem dos combustíveis para deslocações diárias face à inexistência de redes de transportes públicos.

A contestação em volta do imposto é ainda maior devido à ideia, entretanto generalizada, de que aqueles que pagarão a fatura da transição energética vão ser os que menos beneficiarão dela. Um parecer que muitos aplicam também ao processo de globalização, que é apontado como a principal causa das desigualdades sociais que se vivem em França atualmente.

A iniciativa dos “Coletes Amarelos” tem características inéditas potenciadas pelas redes sociais e a facilidade de mobilização que estas proporcionam. É até possível estabelecer semelhanças entre a própria eleição de Macron, o homem a quem os manifestantes exigem a demissão, e este movimento, já que as tradicionais estruturas partidárias e sindicais foram totalmente eliminadas e substituídas por ações essencialmente cívicas, espontâneas e independentes.

Esta independência face ao poder político parece constituir uma das razões pelas quais 77% dos franceses se mostram favoráveis à luta dos “coletes amarelos”, apesar das cenas de grande violência registadas nas últimas ações de protesto. De facto, estas nada têm a ver com os “bloqueios de vias de circulação e marchas lentas” inicialmente promovidos pela organização do movimento – ainda que sem estruturas – que tem tentado ao máximo distanciar-se dos manifestantes infiltrados de extrema-direita e extrema-esquerda, acusados de queimar viaturas e vandalizar estabelecimentos.

Emmanuel Macron: O Rei Júpiter dos Ricos?

Na mira de todos os manifestantes está invariavelmente Emmanuel Macron. O presidente eleito há 18 meses atrás enfrenta uma vaga de manifestações como há muito não se via em França, país tradicionalmente contestatário e reacionário a medidas que envolvem direitos sociais e laborais. Nestes período de tempo, Macron viu a sua popularidade descer a pique graças às reformas implementadas, que muitos classificam como ultraliberais.

Os antigos apoiantes do movimento En Marche! ressalvam a dificuldade que o ex ministro da economia sente em falar às massas devido ao tom por vezes sobranceiro e até arrogante que pauta as suas declarações. Num curto espaço de tempo, Macron foi protagonista de duas situações que caíram especialmente mal aos franceses. Primeiramente, não hesitou em repreender e corrigir um jovem que se dirigiu a ele como “Manou”. Num segundo momento, desvalorizou a situação de um homem desempregado que ao relatar a sua situação ouviu o Presidente dizer-lhe que “apenas precisava de atravessar a rua para encontrar um emprego”.

Macron é um homem isolado neste momento, em grande parte devido às circunstâncias que envolveram a sua eleição. Na campanha eleitoral de 2017, todos os adversários – representantes de forças partidárias tradicionais – foram caindo escândalo após escândalo, abrindo assim caminho para a eleição do líder do En Marche!, já que a única alternativa possível era Marine Le Pen, líder da Frente Nacional. Todo o sistema político francês caiu como um baralho de cartaz, com as tradicionais forças moderadas de esquerda e de direita a sujeitarem-se a uma travessia no deserto.

O estado do sistema político francês é precisamente uma das razões pelas quais a ação dos “Coletes Amarelos” é tão temida. Emmanuel Macron tem-se mostrado intransigente no que toca aos pedidos de demissão reivindicados pelos manifestantes nas ruas, mas o que aconteceria caso o palácio do Eliseu ficasse sem inquilino? Marine Le Pen não perdeu força com a derrota nas presidenciais do ano passado: reformulou o seu partido e aproximou-o de uma fação mais moderada, de modo a ampliar a sua base de apoio.

 

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