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ALEXANDRIA OCASIO-CORTEZ: DO BRONX ATÉ AO CONGRESSO

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Foi a 26 de junho de 2018 que Alexandria Ocasio-Cortez (AOC) agitou o Partido Democrata, quando derrotou o veterano Joseph Crowley nas eleições primárias para o 14º distrito de Nova Iorque. Depois da vitória nas primárias, com uma campanha financiada com pequenas doações, seguiu-se a vitória nas eleições intercalares contra o candidato republicano Anthony Pappas. Aos 29 anos, Ocasio-Cortez tornou-se a mais jovem mulher a alguma vez integrar o Congresso norte-americano.

O caminho até ao Congresso

Nasceu no condado do Bronx, em Nova Iorque, a 13 de outubro de 1989. Tal como é comum naquela zona da cidade, Alexandria tem raízes latinas, com o pai nascido no seio duma família porto-riquenha e com a mãe natural de Porto Rico. A família mudou-se para os subúrbios em Yorktown quando era criança, em busca de escolas de melhor qualidade.

Formou-se na Universidade de Boston em Relações Internacionais e Economia em 2011. Enquanto estudante universitária, estagiou num escritório de imigração, explicando que sendo “a única falante de espanhol”, cabia-lhe atender as “chamadas frenéticas que chegavam ao escritório porque alguém andava à procura do marido que tinha sido retirado das ruas pelo ICE” (U.S. Immigratiton and Customs Enforcement).

AOC regressou ao Bronx, depois de terminado o curso, onde trabalhou na área da educação. Devido à morte do seu pai em 2008, trabalhou como empregada de mesa para ajudar a mãe. Também se tem mantido ligada às suas raízes latinas, trabalhando com a organização sem fins lucrativos National Hispanic Institute.

Nas primárias do Partido Democrata em 2016 colaborou com a campanha de Bernie Sanders. Pouco tempo depois, Alexandria foi recrutada para o comité de ação política Brand New Congress, fundado por apoiantes de Sanders, e que tinha como objetivo ajudar os candidatos ao Congresso que defendessem  políticas mais progressistas.

Alexandria com o senador do Vermont e candidato presidencial Bernie Sanders [Foto: Saul Loeb/Getty Images]

Pouco tempo depois começou a sua campanha, enquanto trabalhava com empregada de mesa, tornando-se a primeira pessoa a desafiar o congressista Joe Crowley nas primárias democratas desde 2004. Com uma campanha apoiada à base de pequenas doações e sem dinheiros corporativos, AOC encontrava-se com um financiamento 18 vezes menor do que o adversário. “Não se pode ganhar a grandes dinheiros com mais dinheiro. Tem de se ganhar com um jogo totalmente diferente”, afirmou. Contou também com o apoio de várias organizações progressistas, como os Justice Democrats e os movimentos MoveOn e Black Lives Matter.

A 26 de junho, Alexandria venceu as primárias com 57% dos votos. A derrota do congressista com já 10 mandatos Joe Crowley abalou o partido e ganhou muita cobertura mediática a nível nacional e até internacional. AOC ganhou também as congratulações pessoais de Bernie Sanders e do filósofo Noam Chomsky.

Já em novembro, a vitória de Ocasio-Cortez repetiu-se, tendo derrotado o republicano Anthony Pappas com 78% dos votos, e alcançado assim um lugar no Congresso americano. Este resultado foi de acordo com a tendência geral das eleições intercalares para a Câmara dos Representantes, da qual os democratas recuperaram o controlo, enquanto que os republicanos mantiveram o comando do Senado.

As políticas progressistas

AOC é um dos rostos mais conhecidos da veia progressista do Partido Democrata, e as suas crenças políticas refletem isso.

Tal como Bernie Sanders, um dos pilares da ideologia de Alexandria é a defesa da implementação de um sistema de saúde público e universal nos Estados Unidos. AOC falou até da sua própria experiência com o problema, revelando que pagava o dobro pelo seguro de saúde quando trabalhava como empregada de mesa relativamente ao que paga atualmente como congressista. “É frustrante que os membros do Congresso neguem a outras pessoas a acessibilidade de que eles próprios gozam”, escreveu no Twitter.

A crise de dívidas dos empréstimos para estudantes universitários é um problema que afeta um terço dos adultos norte-americanos com menos de 30 anos, incluindo a própria Alexandria, que revelou ainda dever 19 000 dólares. O acesso gratuito à universidade é outra das suas propostas, já tendo dito que foi mais fácil “ser eleita para o Congresso” do que pagar as suas dívidas estudantis.

AOC é uma ávida defensora das licenças de parentalidade pagas, sendo que os Estados Unidos são das poucas nações do mundo onde isto já não acontece. Em vários tweets, explicou que acredita que todas as novas famílias devem ter direito a 12 semanas pagas de licença de parentalidade, sejam pais ou mães, filhos biológicos ou adotados.

É também uma opositora da agência federal ICE, que faz cumprir as leis de imigração e aplica a política de tolerância zero da administração Trump. No Twitter, relatou as condições de alojamento em que encontrou imigrantes nos centros de detenção da agência, falando em “pessoas a beber de sanitas”, agentes que fazem “guerras psicológicas” e insultam os imigrantes e em mães a quem tiram os filhos sem saberem para onde os levam. “Acho que uma agência que sistematicamente e repetidamente viola os direitos humanos não pode ser reformada”, afirmou, apelando à sua abolição.

Com as ondas de protestos e greves, as alterações climáticas estão na ordem da agenda mediática. AOC é um dos rostos do Green New Deal, um plano cujo principal objetivo é reduzir as emissões de carbono e fornecer toda a energia do país com base em energias renováveis até 2030.

Alexandria apresenta o Green New Deal numa conferência de imprensa [Foto: Saul Loeb/Getty Images]

A questão de como se paga para todas estas medidas também se levanta. A esse problema, Ocasio-Cortez responde com uma proposta para a criação de um imposto marginal de 70% para os rendimentos anuais acima de 10 milhões de dólares. Isto significa que no caso de alguém que ganhe 12 milhões de dólares, esses dois milhões de doláres acima do limite estabelecido seriam tributados a 70%.

Os críticos republicanos e democratas

Com toda a atenção mediática que tem recebido, AOC também está mais exposta ao escrutínio dos oponentes políticos.

Um dos principais críticos é mesmo Donald Trump. Em julho, Alexandria e três outras congressistas democratas (Ilhan Omar, Rashida Tlaib e Ayanna Pressley) que ficaram conhecidas como The Squad, criticaram as políticas de imigração da administração e as condições nos centros de detenção. Trump respondeu num tweet que pareceu referenciar as congressistas, afirmando que deviam “voltar para de onde vieram” para ajudar a consertar os países “infestados de crime”. Alexandria respondeu, também no Twitter, onde escreveu que o país de onde vem é os Estados Unidos, sugerindo que o presidente “está zangado porque não consegue conceber uma América” que as inclua. Com o anúncio da oradora da Câmara dos Representantes Nancy Pelosi da intenção de destituir Trump devido ao escândalo que envolve o presidente ucraniano, o chefe de estado americano voltou ao ataque, incluindo AOC num grupo de “democratas que não fazem nada”.

Mas mesmo dentro do próprio partido, Ocasio-Cortez não é uma figura consensual. Membros do partido Democrata mostram-se incomodados com o possível apoio a candidatos mais progressistas para as primárias, em detrimento de candidatos já estabelecidos nas fileiras partidárias, especialmente tendo em conta o poder mediático que a jovem congressista tem. “Tenho a certeza que a Ms. Cortez tem boas intenções, mas há quase uma regra ilustre: não ataque as suas próprias pessoas”, comentou o congressista Emanuel Cleaver do Missouri, sobre as críticas de Alexandria a democratas que considera demasiado centristas. A oradora da Câmara dos Representantes Nancy Pelosi aparentemente também criticou os ataques da veia mais progressista dos Democratas a candidatos mais centristas. “Têm alguma queixa? Falem comigo sobre isso. Mas não escrevam tweets sobre os nossos membros e esperem que achemos que isso está bem”, terá dito numa reunião dos Democratas à porta-fechada.

Apesar das críticas, o poder na agenda mediática da jovem congressista mantém-se. Resta saber o rumo que Alexandria vai tomar dentro e fora do partido: se se vai aproximar da agenda mais centrista da maioria dos democratas, ou se vai continuar a ser uma das principais forças da veia mais progressista.

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