Política
Y AHORA, ESPANHA?
Antes de 2015 só havia duas grandes forças políticas a lutar diretamente pela governação espanhola. A vitória eleitoral levava, por norma, à formação governativa e essa ora pendia a favor do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol) de Centro-esquerda ou, a partir de 1989, do PP (Partido Popular) de centro-direita, partido este que nasceu após a junção de forças de Direita.
Até 1989 eram as forças políticas criadas por Adolfo Suaréz (Centro Democrático e Social) e Manuel Fraga (Aliança Popular) que se opunham diretamente contra o PSOE pela governação.
A bipolarização que suportava um pendor governativo entre os dois partidos acabou em 2015. Se foi pelos novos projetos que se apresentaram a essas eleições, se foi pelos casos de corrupção do governo Aznar ou se foi pela perda de confiança nos dois partidos centrais espanhóis só a história política o dirá daqui a uns anos.
As novas formações
A partir de 2015 houve o aparecimento de dois novos partidos, com estruturas e pensamentos próprios, que queriam e conseguiram ombrear com PSOE e PP pelos votos dos chamados “blocos ideológicos”. Se até aqui a transição de votos entre PP e PSOE acontecia quer pelo fator bom ou mal governativo, tendo o centro político ou económico uma grande importância a dar essa vitória, a partir de 2015 esse pendor de diferença caiu.
Em 2006, na Catalunha, pelas mãos de Albert Rivera, apareceu o Ciudadanos, um partido liberal de centro, de carácter regional que na sua primeira fase de construção defendia a permanência da Catalunha na Monarquia Espanhola.
Assumindo-se como uma força contra os deputados independentistas que, na sua ótica, fazem da política um veículo para a autonomia forçada, ou para um referendo (inconstitucional) que permitisse aos catalães clarificar a sua posição quanto ao futuro da região.
No campo ideológico oposto nasceu o Podemos, uma junção de comunistas expatriados, trotskistas, anarquistas, socialistas descrentes do PSOE e demais correntes de esquerda que não se reviam no PSOE ou nas esquerdas que até aí tinham aparecido.
O Podemos aparece no movimento dos ocupas, numa altura em que Espanha atravessava uma fase económica mais débil, o que, juntando aos casos judiciais das Governações de Aznar, trouxe às ruas incontáveis manifestações, onde apareceu uma figura carismática e curiosamente com o nome do fundador do PSOE, Pablo Iglesias.
Estes dois partidos acabados de citar ajudaram a acabar com a bipolarização obrigando os seus parceiros naturais a ter de estabelecer um maior compromisso com forças que começavam a crescer em número de votos não só nas Cortes Gerais mas também nas regiões autónomas, com Madrid e a Catalunha à cabeça, onde Ciudadanos e o Podemos respetivamente ajudam em coligação a governar.
Antes da eleição de 2015, o PP e o PSOE contavam nas Cortes Gerais com perto de 75% dos votos nacionais. Depois da eleição os dois partidos contavam somente com 50% dos votos nacionais, ou seja é fácil de chegar à conclusão da importância que quer Podemos e Ciudadanos tiveram no contexto eleitoral.
De 2015 até 2019, com uma eleição em 2016, Espanha viveu de uma maneira viva um modo parlamentar até aí nunca experimentado por variadíssimas razões.
Em primeiro lugar, não havia uma coligação forte o suficiente e maioritária que aguentasse um governo de dois partidos.
Em segundo lugar, a constante negociação fazia com que não fosse fácil cumprir o que estava no programa eleitoral dos partidos, ou seja, esta constante negociação fazia com que todos os partidos mantivessem uma palavra durante a legislatura e não fizessem de caixa-de-ressonância de um partido, algo que até aí era normal e que acontece quando o regime é tipicamente parlamentar.
Por último, houve pela primeira vez uma crise intensa sobre o separatismo catalão, que o PSOE ora apoiava ora não apoiava consoante aquilo que precisava para poder governar ou passar algumas propostas legislativas.
2019: a extrema-direita chega ao Parlamento
Só que as surpresas parlamentares não se ficaram pelo aparecimento de um partido liberal e um populista de esquerda. Foi em 2019 que o VOX, partido populista de direita chega pela primeira vez ao parlamento criando à direita, conservadora e cristã, mais uma alternativa ao já mais que desgastado PP.
Com o aparecimento do VOX os blocos de apoio parlamentar voltaram ao ativo, não que não existissem, mas passaram a ser mais fomentados e o combate de bloco de direita contra bloco de esquerda fez crescer um novo tipo de discussão há muitos anos esquecido devido ao bipartidarismo já descrito.
Nas primeiras eleições de 2019, o VOX baralhou ainda mais as contas para a formação de um governo, pois retirou votos e parlamentares aos seus “parceiros naturais”, fazendo com que o bloco de direita necessitasse de alguns apoios regionais para ser governo, coisa que não conseguiram, bem como o PSOE que, não querendo uma coligação com o Podemos, não desembaraçou o laço e a instabilidade política vivida em Espanha.
E como não há duas sem três, neste caso, não há três sem quatro, e em 4 anos os espanhóis foram chamados mais uma vez às urnas.
Se em abril o debate nas estações públicas tinha tido como novidade o debate a 4 e não a 2 como era normal, excetuando o tempo em que Rajoy foi Primeiro-ministro, no qual rejeitava por completo os debates, o debate de novembro ocorreu a 5.
Se o leitor/internauta/eleitor esperava uma grande vitória de um dos líderes em relação aos outros terá certamente ficado dececionado. O debate confirmou o impasse que as sondagens já antecipavam uns dias antes das eleições.
10 de novembro, y ahora?
No dia 10 de novembro, Espanha foi a eleições com a certeza que a discussão seria entre os 5 grandes partidos e que não se sairia do problema de abril. E a verdade é que não se saiu: o PSOE ganhou sim, mas perdeu votos e deputados.
O PP sobe, demonstra poder ser alternativa, mas não chegou para vencer. O VOX reforçou a sua posição passando em 4 anos de 30 mil votos a 3 milhões e de 0 a 52 deputados.
O Podemos continua a perder votos e deputados, mas mesmo assim é a chave à esquerda para fazer governo. O Ciudadanos dá um tombo enorme passando para sexta força parlamentar, ultrapassados pelos independentistas catalães da ERC.
Não há um bloco predominante, 155 vs 150 deputados entre esquerda e direita respetivamente. Pedro Sanchez precisa, pelo menos, de 176 deputados para poder governar com maioria absoluta e gerir um país que têm estado “ingovernável” nos últimos 4 anos.
A chave está nos partidos de pendor mais regional, em particular os da Catalunha, que poderão dar apoio ao governo em troca de algumas cedências, entre amnistias aos políticos presos e um referendo à independência da região.