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Política

LIDERANÇA DA UE MUDA DE MÃOS: O PERFIL DE URSULA VON DER LEYEN

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Ursula von der Leyen durante uma sessão no Parlamento Europeu. Foto: Comissão Europeia, 2019

Ursula von der Leyen, Presidente da Comissão Europeia,  no Parlamento Europeu. Foto: Comissão Europeia, 2019

A nova presidente da Comissão Europeia, que exercerá funções até 2024, começou o seu mandato no passado dia 1 de dezembro. Foi indicada pelo Conselho Europeu como candidata a presidente da Comissão Europeia em julho deste ano, após este órgão ter recusado os candidatos do Parlamento Europeu, e em apenas um mês já apresentou diversas propostas.

Mas quem é afinal Ursula von der Leyen?

Ursula von der Leyen, 61 anos, nasceu na capital belga. É filha de Ernst Albrecht, que entre 1976 e 1990 foi ministro-presidente da Baixa Saxónia e alto funcionário da Comunidade Económica Europeia. É a ele que deve muito do seu europeísmo.

Licenciou-se em medicina em 1980, depois de ter desistido do curso de economia, e seis anos mais tarde casou-se com Heiko von der Leyen, professor de Medicina e administrador de uma empresa de engenharia, com quem teve sete filhos. Para além do alemão, Ursula é fluente em francês e em inglês.

Só na década de 2000 é que se lançou na política, ao ser eleita representante da CDU na assembleia da região de Hanover. Anteriormente, tinha vivido na Califórnia, onde estudou Economia.

Serviu no governo federal alemão de 2005 a 2019 – na verdade, foi o membro que mais tempo exerceu funções no governo de Merkel, tendo sido ministra dos Assuntos Familiares e da Juventude (2005-2009), ministra do Trabalho e dos Assuntos Sociais (2009-2013), e a primeira mulher a ocupar o cargo de ministra da Defesa (2013-2019). Além disso, é vice-presidente do partido democrata-cristão (CDU) desde 2010, e membro do Partido Popular Europeu. Foi vista durante muitos anos como a possível sucessora de Merkel.

Uma eleição controversa

A eleição de Ursula não seguiu os procedimentos normais.

Foi indicada pelo Conselho Europeu após este órgão ter recusado os candidatos do Parlamento Europeu, o que causou indignação na Alemanha, pois os sociais-democratas viram a sua coligação enfraquecer, bem como em Bruxelas, onde não foi visto com bons olhos o facto de o processo de escolha do presidente por parte do Parlamento Europeu ter sido interferido pelos chefes de governo, que indicaram alguém que não se tinha candidatado para o cargo. Tal foi percecionado como um atentado à democratização das instituições europeias.

Jean-Caude Juncker, seu predecessor entre 2014 e 2019, afirmou mesmo que o processo para a escolha da sua substituta, foi “pouco transparente”.

Além disso, os próprios sociais-democratas alemães, que estiveram ao lado de Leyen no governo de Merkel, distribuíram aos eurodeputados um documento intitulado “Por que razão Ursula von der Leyen é uma candidata inadequada e imprópria”, reforçando, assim, a sua posição contra a nomeação.

O trabalho da nova Presidente no governo alemão

Enquanto ministra dos Assuntos Familiares e da Juventude, foi essencial no desenvolvimento da rede de infantários do país e criou a licença parental remunerada para os pais que desejarem usufruir desse direito.

Por outro lado, quando estava encarregue da pasta do Trabalho e dos Assuntos Sociais, introduziu quotas para as mulheres na gestão de empresas, aborrecendo parte do eleitorado conservador.

Em 2013, foi nomeada para ministra da Defesa, onde implementou algumas medidas controversas, como o fim da tradição de honras dadas aos oficiais nazis e a reforma das forças armadas. Este cargo não foi fácil para Ursula devido aos escândalos que envolviam o Ministério e as Forças Armadas, acusados de falta de rigor orçamental e de possuírem equipamento obsoleto e ineficaz.

Polémica e pouco querida entre os eleitores

A figura de von der Leyen sempre foi um pouco controversa, desde a sua aparição no programa televisivo “Wetten Dass” quando ainda era ministra de Merkel, em foi levada ao colo pelo ator Hugh Jackman, até à acusação de plágio do seu doutoramento em 2015.

É devido a estes acontecimentos que, segundo uma sondagem divulgada pela estação ARD 56% dos alemães acreditavam que Ursula era uma má escolha para a presidência da Comissão Europeia.

Clima e paridade estão entre as primeiras propostas

No seu primeiro mês como presidente da Comissão, Ursula já desenvolveu algumas propostas que obtiveram diferentes reações e geraram algumas controvérsias.

Um dos seus primeiros compromissos relaciona-se com a criação de uma “primeira lei europeia sobre o clima“, a qual visa a redução de emissões de CO2 até 55% em 2030 – indo ao encontro do que foi aprovado pelo Parlamento Europeu – e apontando para a neutralidade do carbono em 2050.

Prometeu, igualmente, uma Comissão paritária em género, um sistema europeu de proteção contra o desemprego, um direito de asilo mais harmonioso e o reconhecimento do direito de iniciativa ao Parlamento para projetos legislativos.

Adicionalmente, propôs uma reestruturação da Comissão, renomeando alguns postos no colégio de Comissários de modo a torná-los menos formais e mais objetivos, incluindo a criação do polémico portefólio “Proteger o nosso modo de vida europeu”, responsável pelas políticas de migração, segurança, emprego e educação. Esta última proposta foi bastante criticada, considerada como uma mensagem xenófoba, visto associar a ideia dum estilo de vida europeu com a definição de políticas migratórias.

Por outro lado, apoiou a proposta dum acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul, que pode gerar ainda mais desflorestação na Amazónia. Isto foi tido como contraditório por parte da opinião pública, visto que uma das suas principais medidas prende-se com a proteção ambiental.

Texto da autoria de Rafaela Enes de Miranda. Revisto por Miguel Marques Ribeiro.

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