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Política

O BREXIT E O AVANÇO DO CONSERVADORISMO NA EUROPA

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Primeiro-ministro britânico, Boris Johnson. Fonte: www.gov.uk.

Primeiro-ministro britânico, Boris Johnson. Fonte: www.gov.uk.

Após uma longa jornada de negociações e debates, o Reino Unido teve sua saída da União Europeia oficializada em janeiro deste ano. Desde a aprovação popular, no referendo realizado em 2016, o Brexit vivenciou reveses, provocando o afastamento de dois primeiros-ministros, David Cameron e Theresa May, além dos muitos entraves políticos.

De fato, encontrar um consenso no Parlamento britânico para os termos do “acordo de retirada” também constituiu um dos grandes desafios do sucessor de May, Boris Johnson. No entanto, mais ousado que seus antecessores, Johnson apostou na convocação de novas eleições gerais, na tentativa de ampliar o total de conservadores no Parlamento e garantir que o acordo fosse aprovado, o que resultou bem para os conservadores que obtiveram a maior vitória no Parlamento desde Thatcher, em 1987.

Um reino pouco unido

Porém, se por um lado a ampla margem obtida pelos conservadores possibilitou que o Brexit saísse finalmente do papel, por outro também revelou novos dilemas a serem enfrentados pelo Reino Unido.

Na Escócia, que desde o início se apresentou contrária à saída da União Europeia, o Partido Nacional Escocês (SNP) obteve um expressivo desempenho nas últimas eleições, com 14 cadeiras a mais.

O Partido concentrou os votos dos escoceses sob a promessa da realização de um novo referendo sobre a independência, apontando para a ameaça de reacender os movimentos separatistas na ilha.

A situação entre a República Irlanda e a Irlanda do Norte também permanece como uma das grandes incertezas nas negociações, já que a República da Irlanda permanece na União Europeia e existe a polémica de como não criar uma barreira física com a Irlanda do Norte.

Para além de toda essa teia complexa que se formou em torno do Brexit, a decisão de saída da União Europeia por parte da Inglaterra também aponta, em última instância, para a manifestação latente do avanço do pensamento conservador.

O crescimento dos movimentos reacionários na Europa

Nos últimos anos o avanço da extrema direita atingiu grande parte dos países europeus.

Na Alemanha, o partido Alternativa para a Alemanha recebeu 12,6% dos votos em 2017, tornando-se a terceira força do parlamento. Foi a primeira vez após a Segunda Guerra Mundial que um partido de extrema direita conquistou a representação no Parlamento.

Em França, a candidata Marine Le Pen, também de extrema direita, ficou em segundo lugar nas eleições de 2017, e o seu partido, a Frente Nacional, teve o desempenho de 34,5%. A candidata fez alianças com outras forças políticas que reivindicam a saída do euro, a revisão dos tratados sobre imigração e a retomada da soberania nacional.

Em 2019, esse cenário reforçou-se noutros países, como a Hungria, a Polónia, a Itália, a Áustria, a República Checa e em Espanha. A tendência prosseguiu nas eleições para o Parlamento Europeu: os partidos de extrema direita aumentaram, reduzindo a representação dos da direita tradicional e dos sociais-democratas.

Esses movimentos têm em comum o discurso nacionalista, de defesa das fronteiras e do comércio e as questões identitárias. Fortaleceram-se quando os efeitos da crise económica começaram a ser sentidos de forma mais intensa e a crise de refugiados, sobretudo com a Guerra Síria, se agravou no continente europeu.

O cenário que gradativamente se estabelece é o de aprofundamento da polarização política, com o aumento dos extremos e consequente redução das forças políticas centrais. Uma vez que os espaços de consenso são esvaziados, não apenas as democracias tendem a se enfraquecer como os pilares que sustentam a União Europeia passam a ser questionados.

Texto da autoria de Tálita Mello. Revisto por Miguel Marques Ribeiro.