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Eleições EUA: “Middle class Joe” é a esperança democrata contra Trump

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Joe Biden foi surpreendido por Obama ao receber a Medalha da Liberdade, a maior honra para um civil americano, no dia 12 de janeiro de 2017 em Washington. Nicholas Kamm / AFP / Getty Images.

Em 1972, foi eleito em Delaware um dos senadores mais jovens da história. Este homem era Joe Biden que serviu durante quase 40 anos este estado no senado. Biden não obteve sucesso nas suas duas candidaturas à nomeação democrata para as eleições presidenciais. No entanto, em 2008, foi escolhido por Obama para ser seu vice-presidente, cargo que ocupou até 2016.

A sua carreira é marcada por vários momentos polémicos como o seu papel no processo de Anita Hill ou o seu apoio a segregacionistas na questão da integração racial de estudantes nas escolas públicas. Nos recentes anos, “middle class Joe” ou o “Joe da classe média” como é apelidado pela imprensa, ganhou uma imagem mais positiva principalmente em temas como o sistema de saúde, do qual é um grande defensor.

Apesar de um começo atribulado nas primárias, Biden obteve uma grande vitória na “Super terça-feira” e está na linha da frente para se tornar o candidato democrata às presidenciais norte-americanas. De acordo com as últimas sondagens, o ex-senador reúne entre 54 a 61% das preferências dos eleitores democratas, não se conhecendo ainda os efeitos da desistência de Bernie Sanders, seu principal rival.

De senador a vice-presidente

Joe Biden candidatou-se pelo partido democrata às eleições presidenciais pela primeira vez em 1988. No entanto, devido à acusação de ter plagiado o discurso de Neil Kinnock, líder do partido britânico trabalhista, o outrora senador de Delware teve de desistir da corrida. Até 2008, Biden focou-se no seu papel de senador, participando em vários momentos históricos americanos.

Nos anos 90, o ex-vice-presidente foi figura chave na construção de políticas punitivas do sistema judicial, que levaram a um tratamento desfavorável de afro-americanos. Além disso, de acordo com o The Guardian, Biden foi contra a integração de crianças negras nas escolas, chegando mesmo a pedir o apoio de James Eastland, um senador sulista que era contra a desagregação. A ligação ao homem conhecido como a “voz do sul branco” foi bastante criticada na altura, mas o que gerou comentários nos primeiros debates primários foi Biden ter mencionado mais que uma vez a sua relação com Eastland.

Cory Booker chegou a exigir que Joe Biden pedisse desculpa depois do ex-senador ter dito que a sua relação com senadores como Eastland tinham “alguma civilidade”. Biden recusou-se a pedir desculpa pois segundo o mesmo “não há um osso no meu corpo que seja racista. Eu estive envolvido em direitos civis toda a minha carreira.”

Joe Biden era o presidente do comité judiciário do senado quando começou o processo da eleição de Clarence Thomas ao Supremo Tribunal. A confirmação parecia certa até uma entrevista privada de Anita Hill com o FBI ter sido revelada pela imprensa. Hill acabou por testemunhar para o senado que Thomas a tinha assediado sexualmente quando trabalhavam no Departamento da Educação. O que se seguiu foi um extenso processo no qual os senadores tentaram descredibilizar a testemunha, rejeitando resultados do polígrafo e quatro testemunhas que corroboravam a versão de Anita Hill.

Durante a campanha eleitoral, Biden foi confrontado com a sua responsabilidade no interrogatório a Anita Hill. Num evento em honra a estudantes que ajudam na luta contra violência sexual nas universidades de Nova Iorque, o ex-senador mostrou arrependimento perante a falta de atuação da sua parte “Até este dia, arrependo-me de não lhe ter dado o tipo de interrogatório que ela merecia. Eu gostaria de poder ter feito algo.”

“A escolha racional” de Obama

A experiência política de Biden levou a que Obama o escolhesse como seu vice-presidente mesmo que outros candidatos se aproximassem mais das suas visões políticas. A Tim Kaine, um dos candidatos, Obama chegou a dizer “Tu és a escolha do meu coração mas o Joe é a escolha racional.”

A Lei de Proteção e Cuidado ao Paciente ou Obamacare é um dos maiores triunfos da vice-presidência de Biden. Esta lei permitiu regulamentar os preços dos planos de saúde e também expandir estes mesmos planos para uma maior parcela dos americanos. Após o governo de Trump pôr esta lei em causa, Biden tem como principal motor da sua campanha a alteração desta lei, de forma a proteger pacientes com condições pré-existentes e também permitir que o programa ajude cada vez mais pessoas. Apesar de Sanders ter defendido uma espécie de sistema nacional de saúde, tornando o acesso à mesma gratuito a todos, Biden prefere seguir uma direção menos radical e construir um novo plano com base no Obamacare até conseguir “uma cobertura nacional o mais rápido possível.”, como a campanha informou ao POLITICO.

Devido à situação atual de pandemia, algumas primárias chegaram a ser canceladas como a de Ohio. Como é impossível prever o fim desta grave crise mundial, as eleições presidenciais podem mesmo não ocorrer na data prevista. De qualquer modo, Biden tem praticamente assegurada a nomeação como candidato democrata.

Apesar de situações polémicas no seu passado afastarem o eleitorado mais jovem, a visão mais moderada de Joe Biden leva a que indecisos entre ele e Trump o escolham a ele. Além disso, devido à sua ligação com Obama, aqueles que sentem nostalgia dos seus anos de governo deverão escolher o seu ex-vice-presidente. Os meses seguintes serão críticos para saber se Biden poderá se tornar realmente uma ameaça a Trump nas próximas eleições.

Texto da autoria de Beatriz Carvalho. Revisto por Miguel Marques Ribeiro.

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