Política
O alinhamento entre Brasil e EUA para a crise na Venezuela
O presidente brasileiro Jair Bolsonaro reuniu-se no início de março com Donald Trump, para discutir, entre outros temas, sobre a crise na Venezuela. Na reunião os dois países reafirmaram a aliança estratégica entre si, o apoio a Juan Guaidó e à Assembleia Nacional da Venezuela.
Na mesma semana Trump também havia recebido Iván Duque, presidente da Colômbia, país vizinho da Venezuela e um dos opositores do governo de Maduro.
O presidente estadunidense tem, desde fevereiro, endurecido a sua postura em relação ao governo de Caracas, tanto no discurso quanto nas sanções a instituições que levam algum apoio ao país (como foi o caso da petroleira russa Rosneff, punida no dia 18 de fevereiro, após acusação de ajudar Nicolás Maduro a contornar os bloqueios impostos pela Casa Branca).
As sanções à Venezuela, impostas pelos EUA desde 2014 sob o discurso de reestabelecer a democracia, trouxeram enorme impacto na economia e influenciaram fortemente no agravamento do abastecimento e na crise financeira do país nos últimos anos.
Os embargos no entanto não foram suficientes para a retirada de Maduro do poder.
Posicionamento de Jair Bolsonaro
Desde sua posse o presidente brasileiro tem deixado clara sua admiração a Donald Trump e sua disposição de intensificar a aproximação com a Casa Branca, tendo afirmado, logo nos primeiros meses do seu mandato, que não descartava a possibilidade de permitir a instalação de uma base militar dos EUA no Brasil.
Em março do ano passado foi assinado, inclusive, um acordo que autorizava o uso da base de Alcântara, no norte do Brasil, para o lançamento de foguetes norte-americanos.
O posicionamento do presidente brasileiro quanto à situação política na Venezuela é de forte oposição a Maduro, reconhecendo Juan Guaidó, líder da oposição, como representante do governo legítimo.
Durante uma visita aos EUA, em março, Bolsonaro falou do país vizinho, em discurso no evento da Apex-Brasil, para empresários brasileiros e norte-americanos: “É importante que nós façamos todo o possível para que seja restabelecida a normalidade na Venezuela, o que não é fácil, tendo vista o grau de degradação moral e política que se encontra no país”.
Bolsonaro adota, desde sua campanha eleitoral, o discurso de combate às esquerdas e repúdio aos governos venezuelano e cubano.
Acordo de cooperação militar
Do encontro realizado no início de março entre os dois chefes de Estado, resultou na assinatura de um acordo de cooperação militar que segundo a presidência brasileira “abre caminho para os dois países desenvolvam futuros projetos conjuntos alinhados com o mútuo interesse das partes”.
O acordo também prevê troca de informações, testes, avaliações e ainda é uma incógnita como outros países com os quais o Brasil mantém relações especiais, como a França e a Suécia, irão reagir com tal acordo.
Segundo o diplomata e ex-ministro das Relações Exteriores e da Defesa do Brasil, Celso Amorim, o acordo mantém o Brasil submisso e inviabiliza o desenvolvimento estratégico do país. Apesar de exaltado pelo governo Bolsonaro, o acordo não beneficia o Brasil, ao contrário: representa uma estratégia de subordinação, subalternidade.
A aliança, estratégica para os EUA, evidencia a disposição do governo brasileiro em seguir a orientação político-militar ditada por Washington.
O Brasil, país que faz fronteira com a Venezuela, torna-se o principal aliado dos norte americanos na caçada a Maduro.
Maximum Pressure March – A escalada de pressão contra Venezuela em plena pandemia
Representantes do governo Trump endossaram contar com o apoio de Bolsonaro no que vieram a chamar de Maximum Pressure March, uma escalada de pressão contra a Venezuela.
Além dos esforços de angariar forças de países sul-americanos, como Colômbia, Equador e Brasil, para a retirada de Maduro do poder, Washington passou oferecer o prêmio de 15 milhões de dólares pela sua captura.
A justificativa agora seria a de que o líder venezuelano estaria à frente de um cartel de tráfico de drogas, segundo declaração do Departamento de Justiça norte-americano. O dinheiro alegadamente vindo do Cartel de Los Sols supostamente financiou o regime venezuelano nos últimos anos.
No dia 31 de março o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, divulgou o “Quadro de Transição Democrática para a Venezuela”. O documento refere-se ao plano de transição segundo o qual Maduro e Guiadó estabeleceriam um governo transitório e convocariam eleições presidenciais em 12 meses. Em troca da aceitação do plano, o governo de Trump promete revogar todas as sanções ao país.
O plano de Washington foi recebido com hostilidade pelo governo de Caracas. Nicolás Maduro acusa os Estados Unidos de fazerem “plano de guerra” para a Venezuela, com o apoio do Brasil e Colômbia.
Segundo o ministro das Relações Exteriores da República Bolivariana da Venezuela, Jorge Arreaza, Jair Bolsonaro “não passa de uma caricatura servil que cumpre sua política externa e a soberania do Brasil para Washington, enquanto seu povo sofre as consequências do manejo errático e improvisado da pandemia do Covid-19″.
Após a acusação da Casa Branca de chefiar o narcotráfico, o presidente venezuelano discursou no Palácio Miraflores: “Se tocarem num fio de cabelo de qualquer um de nós, o povo já tem os seus planos. A união civil-militar tem o seu plano. A fúria bolivariana tem seus planos diante de qualquer agressão americana”.
No dia 3 de março navios da Marinha estadunidense foram direcionados aos mares do Caribe e às proximidades do território venezuelano, sob o pretexto de uma guerra contra o narcotráfico, em plena pandemia do COVID-19.
O bloqueio pode afetar diretamente o recebimento de medicamentos e suprimentos hospitalares. Como se já não bastasse o isolamento económico que o país vive nos últimos anos, soma-se agora mais um desafio na luta pela sobrevivência dos venezuelanos.
Texto da autoria de Tálita Mello. Revisto por Miguel Marques Ribeiro.