Política

Estados Unidos e Venezuela: inimigos na presidência

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O presidente da Venezuela Nicolás Maduro é acusado pela administração Trump por tráfico internacional de drogas. Foto: Reuters/Carlos Garcia Rawlins

A situação ficou ainda mais complicada quando no mês passado o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ofereceu milhões de dólares para quem ajudasse o país a capturar o presidente de facto da Venezuela, Nicolás Maduro. E não pára por aí: o líder estadunidense enviou o maior aparato militar nos últimos 30 anos para as proximidades da Venezuela , o que é visto por Maduro como uma clara ameaça.

Alguma novidade?

Esta não é a primeira vez que os EUA impõem medidas à Venezuela. Há 4 anos o país condenou os sobrinhos da primeira-dama venezuelana, Cilia Flores, a 18 anos de prisão.

A reeleição de Maduro em 2018 foi considerada fraudulenta por mais de 50 países, entre eles os EUA, que reconhece o líder do parlamento, Juan Guaidó, como presidente da Venezuela. Atualmente, o autodeclarado presidente está sendo investigado pelo crime de Golpe de Estado.

Em agosto de 2019, Trump congelou todos os bens do governo venezuelano e proibiu transações. Dona, em simultâneo, da maior taxa de inflação e da maior reserva de petróleo do mundo, a Venezuela enfrenta sanções americanas há anos e atualmente mais de 2 milhões dos seus cidadãos já emigraram devido à grave crise económica, social e política que o país enfrenta.

Acusação Oficial – 26/03

Na quinta-feira, dia 26 de Março, o presidente de facto da Venezuela, Nicolás Maduro, foi acusado formalmente pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos da América de cometer crimes federais relacionados ao narcotráfico. A acusação foi transmitida pelo órgão da polícia federal americana que se dedica exclusivamente ao combate às drogas.

Trump também estabeleceu recompensas para outros funcionários e ex-funcionários do regime chavista. 15 milhões de dólares (aproximadamente 13,5 milhões de euros) são garantidos a quem fornecer informações que ajudem na captura do líder chavista. Valores igualmente milionários são oferecidos para informações sobre funcionários que compõem o seu círculo de poder.

Os EUA acusaram Maduro de se aliar a guerrilheiros colombianos das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, uma organização paramilitar de inspiração comunista fundada no ano de 1964 e encerrada em 2017, numa suposta parceria que teria como objetivo ‘‘encher’’ o território americano de cocaína. As afirmações são do Promotor-geral estadunidense William Barr.

A pandemia de Covid-19 serviria como pretexto para a infiltração de narcóticos no país a comando dos cartéis de droga venezuelanos, segundo o general Mark Milley, chefe do Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos. Bases de dados recolhidas pela inteligência do país são usadas como justificativa para o aumento da pressão militar americana na região.

É alegado também que não apenas o presidente venezuelano está envolvido no esquema, mas também outras diversas autoridades do país, que supostamente participariam de forma ativa da organização.

Resposta de Maduro – 27/03

Maduro reagiu por meio de insultos direcionados a Trump, chamando-o de ‘‘cowboy racista’’ e ‘‘supremacista’’, além acusar o governante americano de lidar com as relações internacionais como um extorquista. O presidente rejeitou veementemente todas as acusações e em contrapartida alega que tudo não passa de uma conspiração entre a Colômbia e os EUA. As declarações foram feitas por meio de um discurso oficial no palácio Miraflores.

O presidente afirmou ter ordenado a mobilização de artilharias a lugares estratégicos”. “É meu dever proteger a paz de nosso povo.

Envio de tropas americanas – 01/04

Os EUA começaram uma operação militar para ‘‘proteger o povo americano contra o narcotráfico’’, justificou Trump. Em cooperação com 22 outros países, o presidente ordenou que fossem enviados navios de guerra, aviões, helicópteros, guarda costeira, aviões de vigilância e exército terrestre para as proximidades da Venezuela.

Jorge Arreaza, chanceler da Venezuela, prometeu que iria defender a soberania e a integridade territorial do país, após os EUA seguirem movimentando peças militares na região do Mar do Caribe. Revelou ainda que dispõe de coordenadas e outras informações sobre o rastreamento dos navios.

A operação é coordenada pelo ‘‘Comando Sul dos Estados Unidos’’, cuja base está localizada na cidade de Miami, de onde teriam sido orquestrados vários golpes de estado contra países da América Latina entre 1960 e 1980.

Maduro envia uma carta ao povo americano – 05/04

Em tom de alerta e de pedido, Maduro dirigiu uma carta aberta aos americanos em que conclui que o objetivo de Trump não é outro senão retirar o foco da sua má gestão no combate à pandemia no país ‘‘cuja importância subestimou e negou’’. O líder venezuelano aproveitou também para criticar o sistema de saúde americano e para afirmar que as acusações são infundadas pois carecem de provas.

Em sua defesa, Maduro disse ainda que (…) as informações do próprio Departamento de Defesa demonstram que a Venezuela não é um país de trânsito primário de drogas para os EUA, como o são países aliados de Washington, como a Colômbia ou as Honduras.

O chavista encerra a carta ‘‘com o coração nas mãos’’ apelando (…) ao povo dos EUA para que trave essa loucura, para que responsabilize os seus governantes e os obrigue a focar a sua atenção e recursos na atenção urgente à pandemia. 

Nós, na Venezuela, não queremos um conflito armado na nossa região. Queremos relações fraternas, de cooperação, de intercâmbio e de respeito. Peço, junto com o cessar das ameaças militares, o fim das sanções ilegais e do bloqueio que restringe o acesso a apoios humanitários, tão necessários hoje no país”, completa o presidente.

Curiosamente a Venezuela não é um país produtor de drogas. Já a Colômbia foi apontada por um informe da ONU de 2017 como responsável pela produção de 70% de toda a cocaína do mundo. O informe revela ainda que nesse mesmo ano foram registadas 70.237 mortes por overdose nos EUA.

O conflito entre as duas nações não mostra sinais de apaziguamento e uma possível guerra poderá acontecer na região dentro dos próximos meses.

Texto de Maynara Gonçalves. Revisto por Miguel Marques Ribeiro.

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