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Política

Covid-19: Deputado André Ventura defende plano de confinamento para população cigana

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André Ventura, presidente demissionário do CHEGA. Fonte: partidochega.pt

André Ventura, presidente demissionário do CHEGA. Fonte: partidochega.pt

Estas declarações surgiram na sequência dos “episódios de violência e confrontação na Praia de Leirosa, Figueira da Foz”, onde ocorreu uma manifestação contra uma família de etnia cigana que a população acusa de ser autora de diversos desacatos na localidade nos últimos dois anos.

O líder demissionário do CHEGA defende que este plano específico para a comunidade cigana “em matéria de saúde e segurança durante a pandemia” deveria prever “mais policiamento junto das zonas de residência dessas comunidades, maior investimento em ações de formação e sensibilização e regras de confinamento específicas”, juntamente com “um levantamento urgente, já no segundo semestre de 2020, da composição, quantificação e localização das comunidades ciganas em Portugal”.

Em busca de aprovação

Ventura disse aos jornalistas na Assembleia da República que “não voltará atrás nesta proposta” mesmo que não obtenha qualquer apoio por parte dos restantes partidos. Porém, endereçou três cartas aos líderes do PSD, CDS-PP e Iniciativa Liberal nas quais pedia o apoio destes partidos.

Aquando da redação deste artigo, a Iniciativa Liberal já recusara participar nesta proposta, afirmando que o verdadeiro objetivo deste desafio de André Ventura aos outros partidos “é o de obter vantagens eleitorais”. Segundo o jornal SOL, o CDS pretende, igualmente, afastar-se desta proposta, tendo uma fonte do partido afirmado que o CDS “considera que os problemas de insegurança não se resolvem com propostas ridículas e inconstitucionais”.

Reações de políticos e da comunidade cigana

O primeiro-ministro salientou, em resposta a Ventura, que “não há nenhum problema” com a comunidade cigana, afirmando que “foi de trivela” e levou “um baile do Quaresma”, em referência à resposta do jogador de futebol.

Através de uma publicação na sua conta oficial da rede social Facebook, Ricardo Quaresma criticou o deputado, afirmando que “o populismo racista do André Ventura apenas serve para virar homens contra homens em nome de uma ambição pelo poder, que a história já provou ser um caminho de perdição para a humanidade”. Orgulhosamente, o futebolista escreve: “Eu sou cigano, cigano como todos os outros ciganos e sou português como todos os outros portugueses, e não sou nem mais nem menos por isso”.

Francisco Louçã também veio a público criticar as declarações de Ventura, relembrando que “a Constituição não permite que as pessoas sejam discriminadas por nenhuma razão”, e que “os portugueses são todos iguais”. No entender do ex-dirigente do Bloco de Esquerda (BE), esta proposta “é uma provocação política”, uma jogada devido ao facto de os últimos meses lhe terem corrido “particularmente mal”, com uma descida nas sondagens. No debate quinzenal, após as declarações do deputado do CHEGA, Catarina Martins, sucessora de Louçã na presidência do BE, defende que “as ideias racistas” como o confinamento de ciganos “hão de ir parar ao caixote de lixo de onde nunca deviam ter saído”.

Alguns dos representantes da comunidade cigana em Portugal reagiram à proposta de Ventura, criticando-a. O presidente da União Romani Portuguesa, José Maria Fernandes, responde dizendo: “Cada vez que falo de alguma pessoa da sociedade maioritária que comete um crime, eu falo no nome desse senhor, não falo no geral. E cada vez que um cigano comete um crime, este senhor fala dos ciganos – onde me está a incluir”.

Por sua vez, a representante da comunidade cigana na Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Social sublinha que, muitas vezes, os ciganos se sentem como “estrangeiros na própria terra”, e que o ex-líder do CHEGA “esquece-se de que, por muito que ataque os ciganos, os ciganos são portugueses iguais a ele”.

Do mesmo modo, Olga Mariano, ativista, deixa o seu parecer, destacando que Ventura “coloca tudo no mesmo saco” e que está “a fazer um jogo que só no tempo do Hitler é que se fazia”.

Além destas reações, muitas outras associações e figuras públicas subscreveram um abaixo-assinado a repudiar as declarações do deputado do CHEGA sobre a comunidade cigana.

Artigo da autoria de Rafaela Miranda. Revisto por Miguel Marques Ribeiro