Política
Eslováquia: Vitória de Matovič marca início de nova fase na vida política do país
O nome do novo Primeiro ministro da Eslováquia é Igor Matovič. Tem 47 anos e venceu as Eleições Legislativas da Eslováquia, como líder do Movimento das Pessoas Comuns e Independentes (OLaNO, acrónimo em eslovaco). O OLaNO é um movimento de centro-direita, cujas “bandeiras” ideológicas são a igualdade de todos perante a lei, tolerância zero em relação a fraudes e corrupção, no sentido de assegurar uma administração transparente, ao invés daquela levada a cabo pelo Direção – Social Democracia (Smer – sociálna democracia, em eslovaco).
As Legislativas de 29 de fevereiro marcaram o que pode ser o início de uma alteração drástica no mapa político eslovaco. Mas a que se deve esta suposta necessidade de mudança? E poderá esta alteração de panorama significar instabilidade política num futuro não muito distante?
O fim de uma era
O SMER governou durante 12 dos últimos 14 anos. O período mais conturbado da administração do executivo liderado pelos sociais democratas teve início em 2018 devido ao homicídio do jornalista Jan Kuciak e da sua noiva, Martina Kusnirova.
Kuciak era repórter de investigação e de acordo com o The Independent, muitos suspeitam que a sua morte esteja relacionada com a investigação que conduziu no sentido de denunciar casos de fraude entre figuras de negócios, próximas daqueles que ocupavam o poder. Já quatro pessoas foram acusadas, incluindo Marian Kocner, um homem de negócios com ligações a altas figuras políticas e outros 3 suspeitos, dois dos quais já confessaram o crime, tendo uma 4ª pessoa confessado a facilitação do mesmo.
A morte destas duas figuras provocou uma onda de protestos de dimensão gigante. A agitação social minou completamente o Executivo eslovaco, levando à demissão do líder do parceiro de coligação do SMER e ministro do Interior, Robert Kalinak, bem como do próprio Primeiro ministro, Robert Fico.
Quem assumiu a liderança do governo posteriormente foi Peter Pellegrini. Contudo, as suspeitas de corrupção na administração social-democrata continuaram a aparecer. A corrente tinha mudado de direção e a oposição não tardou a aproveitar esta oportunidade de acabar com o domínio da centro esquerda no país.
A Oposição Democrática
A Oposição Democrática consiste numa aliança composta por cinco partidos que se uniram em 2017 com a finalidade de tirar o SMER do poder, como consequência da passividade dos sociais-democratas perante a corrupção. Assumiram-se como defensores da democracia, perante a oligarquia que entendiam ser promovida pelo SMER.
A primeira grande vitória eleitoral desta aliança ocorreu em 2019, quando Zuzana Caputova, candidata apoiada pelo Eslováquia Progressista ganhou as Eleições Presidenciais ao candidato do SMER.
Assim, este ato eleitoral foi um presságio do que se viria a concretizar no dia 29 de fevereiro quando a Oposição Democrática passou a ocupar cerca de 50% dos assentos parlamentares no país. Ainda assim, o KDH não elegeu nenhum deputado, pelo que a formação de uma coligação com os democratas cristãos para formar governo foi impossível.
Em vez disso, Igor Matovič tomou posse como Primeiro ministro a 21 de março. Entrou em funções como líder de um governo de coligação entre 4 partidos: o OLaNO (partido de Matovič), o Sme Rodina, o SaS (Solidariedade e Esperança), um partido economicamente liberal e o Za L’udi (“Pelo Povo” em português), liderado pelo Presidente antecessor de Caputova, Andrej Kiska.
É, desta forma, uma coligação que combina a centro direita (no OLaNO e no SAS) com a direita conservadora (no SME Rodina e no Za L’udi). O SMER e o Progresívne Slovensko + Spolu (a coligação entre dois outros partidos liberais no parlamento) são dois dos maiores rivais do governo de Matovič. Mas há mais um partido além dos referidos no Parlamento eslovaco.
A extrema direita eslovaca
O Ľudová strana – Naše Slovensko (Partido do Povo – A Nossa Eslováquia, em Português) é um partido com uma representação significativa no Parlamento, sendo a atual 4ª força política do país, muito próxima da 3ª potência – o partido conservador e eurocético, Sme Rodina.
É liderado por Marian Kotleba, que já embraçou a associação do Partido à designação de Neo-Nazi. Aliás, os seus membros usam mesmo a saudação Nazi e apelam a uma política anti-globalização, classificando a NATO como um grupo de terror.
Em declarações à CBS News, Miroslav Mares, especialista em extremismos políticos, da Universidade Masaryk, na República Checa, afirmou que o LSNS é um partido que segue a linha ideológica do Aurora Dourada na Grécia e dos primórdios do Jobbik da Hungria.
O que aguarda o futuro para a democracia eslovaca
Há muitas dúvidas sobre a estabilidade assegurada pela nova solução governamental da Eslováquia. O país começa a luta para se libertar do historial de corrupção que o marca desde a separação da Checoslováquia, em 1993. O GRECO (Grupo de Estados Europeus contra a Corrupção) afirmou que a Eslováquia ainda se debate com “problemas cruciais” em política e noutras instituições do Estado.
Ao jornal The Guardian, Juraj Marušiak, um especialista político em Bratislava afirmou que a vitória do OLaNO não significa a rejeição do populismo na Eslováquia. Considerou a derrota do SMER “uma vitória da direita conservadora” e a vitória de um partido moderado como o OLaNO, um voto de protesto contra o trabalho dos sociais democratas e da ala esquerda que governou o país durante a esmagadora maioria dos anos após o fim da Checoslováquia.
A vitória do OLaNO trouxe uma lufada de ar fresco à política da Eslováquia, isso é certo. O governo já entrou em funções e a situação pandémica no país parece estar controlada. Só o futuro dirá se esta solução política se revela ineficiente e as divergências políticas levarão a melhor ou se o governo de Igor Matovič vai ter sucesso e marcar o início da caminhada da Eslováquia para longe da designação de “Buraco Negro da Europa”.
Artigo da autoria de Filipe Pereira. Revisto por Miguel Marques Ribeiro