Política

Disputa de Gigantes: O conflito histórico entre Índia e China

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Dois dos sete países com maior território e economia do mundo disputam há décadas uma região do tamanho de Portugal e o mundo assiste com apreensão. Fonte: dw.com

Caxemira, um dos territórios mais disputados do planeta. Durante mais de setenta anos a região já foi centro de três guerras entre a Índia e o Paquistão. Além dos dois gigantes, o país mais populoso do mundo invadiu parte do que era considerado como a Caxemira indiana e recebeu do Paquistão uma parte do seu território. Recentemente a região se tornou novamente centro das atenções internacionais e o mais preocupante é que todos os três países litigantes são portadores de armas nucleares.

Novos desdobramentos

A partir de maio deste ano novos enfrentamentos ocorreram na região, sendo que pequenos incidentes já haviam acontecido ao longo dos anos. Em maio a tensão cresceu e no dia 15, pela primeira vez em meio século o conflito se agravou na região fronteiriça e a Índia alegou que pelo menos 20 dos seus soldados foram mortos neste primeiro dia. A China não confirmou nenhuma baixa, mas acusou a Índia de haver ultrapassado a fronteira duas vezes no mesmo dia para o lado chinês, o que teria resultado no confronto das duas forças militares localizadas na região. O Vale do Galwan, atualmente encontra-se ocupado pela China, mas é reivindicado pela Índia, que afirma pertencer à sua parte da Caxemira.

Os dois lados do conflito insistem que não foram usadas armas de fogo no conflito, o qual, segundo relatórios, teria sido travado por meio de pedras e barras de ferro. Mesmo assim, é impressionante que um conflito sem balas tenha sido tão letal. Os media locais disseram que soldados indianos foram ‘‘espancados até morrerem’’.

O conflito teria ocorrido porque os chineses estão construindo um posto de observação num ponto que os indianos consideram como parte do seu território.

O primeiro ministro indiano, Narendra Modi, disse que o país quer paz, mas que dará uma resposta ‘’à altura’’ se for ameaçado. Nos primeiros encontros para negociação, Nova Deli pediu que as tropas de Beijing se retirassem de vários pontos da região.

Bandeira branca

No dia 6 de julho soldados chineses do Exército Popular de Libertação se retiraram da zona de conflito, o Vale do Galwan. As diretrizes para tal retirada teriam sido acertadas por meio de um encontro entre os generais responsáveis por cada um dos exércitos, chegando ao consenso. Por enquanto não há informações se o mesmo foi feito pelos indianos, mas o Ministério das Relações Exteriores chinês falou sobre ‘’avanços positivos’’.

A disputa é antiga…

Em 1947, após a Segunda Guerra Mundial, a Índia conquistava a sua independência do Reino Unido já que o colonizador europeu apresentava dificuldades financeiras decorrentes do conflito. Pouco depois da conquista da independência iniciou-se a Primeira Guerra da Caxemira entre Índia e Paquistão, acerca do estabelecimento das fronteiras entre os dois países. Nesse momento, a China anexou o Tibete. Dois anos depois, em 1949, estourava na China a Revolução Comunista. O Tibete sempre foi um escudo protetor para a China, sendo de grande interesse estratégico para o país, também por ter prevenido a expansão da Índia para o oriente chinês.

A Guerra sino-indiana, também conhecida como ‘’conflito fronteiriço sino-indiano’’ foi uma guerra que ocorreu entre a República Popular da China (RCP) e a Índia, em 1962, por causa da região litigiosa do Himalaia, ou ‘’Tibete do Sul’’, o primeiro atrito real entre os dois países ocorrido durante séculos, sendo que os primeiros choques ocorreram já em 1959.

O presidente chinês da época era ainda o famoso Mao Tsé-Tung. O facto mais curioso sobre a guerra é que ela ocorreu numa altitude superior a 4200m, o que obviamente trouxe problemas logísticos para ambos os beligerantes. O resultado da guerra foi o recuo das tropas chinesas à sua posição inicial, sob a justificativa de que enfrentavam dificuldades em manter linhas de suprimento na região.

Mudanças generalizadas nas Forças Armadas Indianas, com o objetivo de prepará-las melhor para conflitos semelhantes no futuro e a rutura sino-soviética foram algumas das consequências dessa guerra. Isso porque com a intensificação do conflito, Nikita Khrushchov, presidente russo da época, mostrou-se neutro, tomando como base o princípio da coexistência pacífica. Tal atitude foi duramente criticada, pois a Rússia, um país comunista, recusava-se ficar ao lado da China, também comunista, contra um país capitalista, a Índia, que na ocasião foi derrotada de maneira humilhante.

Porém, embora a China mantivesse o controlo sob a região de Aksai Chin, nunca houve negociações para a definição de uma verdadeira fronteira entre os dois países, apesar das conversações ocorridas nas três últimas décadas. Porém, foi definida uma linha de controlo na área contestada (Line of Actual Control – LAC), que passaria a servir como fronteira entre as duas nações. Mesmo assim, a LAC não está bem demarcada devido à presença de lagos, rios e outros elementos naturais na região, fazendo com que em diversos pontos os dois exércitos fiquem cara a cara.

Em 2017, os dois países tiveram um pequeno desentendimento em relação à construção de uma autoestrada transfronteiriça de autoria da Índia num sítio onde já existia uma autoestrada chinesa. A via seria útil para Nova Deli pois, em caso de haver um conflito, o país conseguiria transportar seu exército e equipamentos com maior facilidade.

Banimento de aplicações para o telemóvel

Recentemente, a Índia baniu aplicações de origem chinesa enquanto alegava dar as boas vindas a investimentos estrangeiros, afirmando tratar-se de um dos países mais abertos ao investimento estrangeiro do mundo, mas que as empresas vindas de fora deveriam funcionar de acordo com as leis do país. A medida gerou polémica, especialmente devido ao banimento da aplicação Tiktok, extremamente popular nos últimos tempos. O motivo seria a proteção da ‘’segurança nacional’’.

Interesses externos

Em 2018, com medo da ascensão do gigante asiático, os Estados Unidos da América assinaram um acordo de segurança com a Índia que estabelecia que os países deveriam passar a ter uma comunicação mais estreita, incluindo o envio de mensagens militares criptografadas entre os dois. Além disso, a relação proporcionou o acesso indiano a drones e a outras tecnologias de guerra provenientes dos EUA de difícil acesso para membros fora da NATO.

Covid-19 adia hipóteses de novo conflito (para já)

Atualmente, Deli tem-se preocupado com os altos números de Covid-19 que surgem no país diariamente e em prevenir a sua economia de entrar na já prevista recensão. A batalha mais recente chegou ao fim, mas enquanto não houver um acordo definitivo sobre a posse do território seguido por uma retirada dos exércitos da fronteira, a paz entre as duas nações é improvável; e nenhuma das duas mostra sinais de cansaço.

Artigo da autoria de Maynara Gonçalves. Revisto por Miguel Marques Ribeiro.

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