Política
Bielorússia: Lukashenko ignora ultimato da oposição e manifestantes iniciam greve geral
As tensões na Bielorrússia aumentaram desde a reeleição de Alexander Lukashenko, a 9 de agosto. A oposição bielorrussa e a comunidade internacional não reconhecem o presidente como o legítimo vencedor das eleições, as quais foram consideradas fraudulentas.
Da reeleição às manifestações públicas
Lukashenko está no poder há 26 anos e o controlo que exerce sobre o país é visível através das tentativas de silenciar os meios de comunicação social e da criação de um braço de ferro com o parlamento. Também os sucessivo resultados entre 77% e 84% dos votos nas eleições levam a que estas sejam entendidas como atos de manipulação.
Além disso, a resposta do presidente à situação pandémica atual e o afastamento dos opositores políticos e candidatos à presidência, gerou um clima de descontentamento na Bielorrússia.
Todos os domingos, milhares de pessoas reúnem-se nas ruas em forma de protesto contra a corrupção das eleições. As manifestações em Minsk são marcadas pela violência das autoridades bielorrussas, que utilizam veículos blindados e canhões de água. As autoridades foram autorizadas, também, a restringir o acesso à internet móvel e aos transportes públicos, de forma a impossibilitar a mobilização dos manifestantes.
Desde o início dos protestos, centenas de manifestantes, incluindo líderes de movimentos políticos, sindicatos e jornalistas foram detidos. Além disso, alguns jornalistas foram expulsos do país e outros ficaram com as suas credenciais.
Líder da oposição lança ultimato ao presidente
Sviatlana Tsikhanouskais, esposa de um dos opositores presos, é considerada a legítima vencedora das eleições. A líder da oposição, que está exilada na Lituânia desde que foram conhecidos os resultados, lançou um ultimato a Lukashenko, no qual exigia que o presidente renunciasse ao poder, libertasse os presos políticos e acabasse com a repressão policial.
A principal rival do presidente relembrou que “alguém que recebe 80% do apoio não precisa de usar armas letais e força bruta para estar nos corações e mentes das pessoas”. Num evento realizado via online, incentivou, ainda, os estudantes do campus Natolin do Colégio da Europa a trabalharem em iniciativas que promovam uma Bielorrússia democrática.
A oposição bielorrussa ameaçou, caso Lukashenko não cedesse ao ultimato, organizar uma manifestação e uma greve geral. Tsikhanouskais afirma que “se as nossas reivindicações não forem atendidas até ao dia 25 de outubro, todo o país sairá às ruas de forma pacífica” e que “terá início uma greve nacional em todas as atividades económicas”.
União Europeia prepara pacote de sanções
A União Europeia, que não reconhece os resultados das eleições que elegeram Lukashenko com 80% dos votos, aprovou um novo conjunto de sanções que serão aplicadas a Lukashenko e a várias personalidades do regime, conhecidas por reprimir as manifestações pacíficas.
O primeiro conjunto de medidas, que contava com a limitação à circulação e o “congelamento de bens” a cerca de 40 personalidades, não abrangia o presidente bielorrusso. A razão pela qual Lukashenko não foi incluído na lista de pessoas a sancionar deveu-se ao receio, por parte da UE, de existirem, consequentemente, entraves nas conversações.
O chefe da diplomacia europeia, Joseph Borell afirmou “ os ministros [dos Negócios Estrangeiros] confirmaram que Lukashenko carece de qualquer legitimidade democrática e deram a sua `luz verde` política para [a UE] começar a preparar o próximo pacote de sanções, que irá incluir o próprio Lukashenko“.
Presidente ignora pressão da oposição
O presidente bielorrusso ignorou as exigências feitas pela líder da oposição e o país depara-se agora com uma greve geral. No primeiro dia, dezenas de manifestantes foram detidos. Lukashenko considera que manifestantes são terroristas e afirmou que “já não é guerra de informação mas sim uma guerra de terrorismo lançada contra nós a partir de várias direções. Temos que parar isto“.
A oposição bielorrussa venceu o prémio Sakharov pela defesa da democracia, cuja entrega está prevista para 16 de dezembro em França. O presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli, felicitou “as representantes da oposição bielorrussa pela sua coragem, resiliência e determinação. Por se terem mantido, e por ainda se manterem, fortes perante um adversário mais poderoso”.
Artigo da autoria de Inês Pinto Pereira. Revisto por José Milheiro e Marco Matos.