Política
Moldávia: Maia Sandu vence eleições e aponta o país a Ocidente
Aquele que é considerado o país mais pobre da Europa foi a votos no passado mês de dezembro e elegeu Maia Sandu como Presidente da República. A economista de 48 anos venceu na segunda volta com 57,72% dos votos, contra os 42,28% obtidos pelo presidente que se encontrava no poder, Igor Dodon. Estas eleições contaram com uma participação massiva dos moldavos, sobretudo da diáspora, que deu uma vitória esmagadora à candidata do Partido Ação e Solidariedade, segundo a NewsMaker.
O pequeno país entre a Roménia e a Ucrânia, com 2,6 milhões de habitantes, além de ter que lidar com altos índices de pobreza e uma grande instabilidade política, apresenta também graves problemas de corrupção (cerca de mil milhões de dólares desapareceram do sistema bancário), um sistema judicial duvidoso, uma imprensa fortemente condicionada e um conflito interno com a região da Transnístria. Maia Sandu, a primeira mulher a ocupar o cargo de presidente no país e a segunda em países do leste europeu, no seu discurso após a vitória afirmou: “quero que a Moldávia deixe de estar associada à pobreza, à corrupção e à emigração”.
O candidato derrotado, que nas eleições de 2016 tinha levado a melhor sobre Sandu por cerca de 5 pontos percentuais, apesar de várias queixas aceitou os resultados do sufrágio, deixando um aviso aos seus apoiantes. “Apelo à calma e à tranquilidade de toda a gente, precisamos de paz, não de desestabilização na República da Moldávia”, disse.
Com esta vitória, Quixinau poderá ter dado um passo importante para o desenvolvimento das relações com a União Europeia, afastando-se da Rússia de Vladimir Putin, que apoiava Dodon. Este é mais um duro golpe nas pretensões de Moscovo sobre as ex-repúblicas soviéticas a juntar à contestação na Bielorrússia. Contudo, Dmitry Peskov, representante do Kremlin, felicitou Maia Sandu pela sua vitória e mostrou disponibilidade para trabalhar com a presidente recém-eleita. Veja-se que a Rússia tem forças militares em território moldavo, mais concretamente na região da Transnístria, desde a década de 90, aquando da guerra entre separatistas da região e forças moldavas, algo que segundo a presidente eleita é necessário resolver, “somos um país independente que não quer que tropas estrangeiras permaneçam em seu território“.
A União Europeia reagiu com entusiasmo a esta viragem a oeste da Moldávia, levando Ursula von der Leyen e Charles Michel a deixarem mensagens nas suas contas do Twitter. Pode ler-se na conta da presidente da Comissão Europeia: “a sua vitória é uma mensagem clara para combater a corrupção e restaurar o respeito pelo Estado de direito – o caminho para um futuro próspero. A UE está pronta para apoiar a Moldávia”. O presidente do Conselho Europeu reforçou essa ideia, dizendo que “UE está pronta para intensificar a parceria estreita” e que devem ter em consideração a posição do povo moldavo. “O povo moldavo escolheu claramente um rumo que dá prioridade à justiça, ao verdadeiro combate contra a corrupção e a uma sociedade mais justa”, afirmou.
Resultado das Presidenciais faz cair o governo
A Moldávia tem um regime parlamentarista, semelhante ao português, em que o poder executivo está nas mãos do primeiro-ministro, e o cargo do presidente é mais simbólico. Na Moldávia, o governo do Partido Socialista (PSRM) contava com o apoio do presidente cessante, Igor Dodon, que também pertencia às fileiras do partido.
O resultado das eleições presidenciais mostrou, no entanto, que o povo moldavo não se revê mais na política pró-russa, levando o primeiro-ministro Ion Chicu a anunciar, já no dia 22 de dezembro, a sua renúncia ao cargo, e a levar o país a novas eleições, desta feita para eleger o governo, considerando que é importante “trazer o país de volta ao normal“
Enquanto o país não vai a votos, o governo provisório estará a cargo de Aureliu Ciocoi, antigo ministro dos negócios estrangeiros e da integração europeia do governo do PSMR. Ion Chicu ainda terá um gabinete durante o período de transição governamental.
Os socialistas deixam a governação numa altura em que a Moldávia atravessa graves dificuldades financeiras devido à pandemia da Covid-19 e aos escassos apoios financeiros dos parceiros ocidentais, que se afastaram do país por este não levar a cabo as reformas que a União Europeia entendia necessárias para uma aproximação.
Artigo da autoria de André D’Almeida. Revisto por José Milheiro e Marco Matos.