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Política

Presidenciais 2021: previsões apontam para uma abstenção de 75%

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Fonte: Consulado Geral de Portugal em São Paulo

A abstenção deverá voltar a ser um problema nas eleições presidenciais deste ano. Depois de em 2019 ter sido atingido o recorde de abstencionismo tanto para as eleições europeias (69,3%), como para as legislativas (45,5%), o país prepara-se para bater novamente outro recorde, desta vez para as eleições presidenciais. Normalmente, quando um Presidente da República está na corrida para um segundo mandato, a abstenção tende a aumentar (algo apenas contrariado com a recandidatura de Ramalho Eanes em 1980), mas este ano, devido à Covid-19, tudo indica que os números sejam bastante preocupantes. O professor de Ciência Política na Universidade de Aveiro, Carlos Jalali, avançou ao JN que a abstenção pode até ficar perto dos 75%.

Esse número ultrapassa largamente o valor atingido há cinco anos atrás, que tinha sido de 51,2%. O aumento da abstenção tem sido uma constante em Portugal. Nas primeiras eleições presidenciais pós-25 de abril,  a percentagem de votantes que não se dirigiu às urnas era de 24,5%. Em 2011, quando Cavaco Silva concorreu a mais cinco anos no cargo, atingiu-se o recorde de 53,5% de abstencionistas. Este ano o recorde será quase certamente batido.  

Para explicar este valor tão elevado temos a atual situação pandémica em Portugal, que se tem agravado nas últimas semanas, assim como algumas burocracias levantadas por causa desta. Além disso, segundo os especialistas, quando existe um nível de certeza do desfecho das eleições muito elevado, as pessoas tendem a não comparecer. Outra razão pode ser ainda o facto de os escalões etários mais assíduos serem os mais velhos, com mais de 45 anos de idade, que tendo em conta que pertencem ao grupo de risco da pandemia, poderão optar por ficar em casa desta vez.

Quase todos os candidatos já se mostraram preocupados com as previsões. Marcelo Rebelo de Sousa disse  que uma abstenção acima de 70% poderia comprometer o seu resultado, levando-o a uma segunda volta. “É muito importante as pessoas votarem, porque isso mostra empenho na democracia”, afirmou Marcelo. 

Sobre as palavras de Marcelo, Ana Gomes acusou o atual Presidente da República de ter desvalorizado as eleições. “A responsabilidade cabe ao professor Marcelo Rebelo de Sousa. Que ele agora de repente, tenha acordado e feito a cambalhota para alertar que há um problema de abstenção, quando ando a dizer isso há imenso tempo”, disse a candidata.

Quem também teceu críticas foi Tiago Mayan, que acredita que se poderia ter feito mais para evitar o grande volume de abstenção. O candidato apoiado pela Iniciativa Liberal afirma que “neste momento já só estamos na fase do apelo e se calhar é um pouco desesperante pensarmos nisso, porque muita coisa podia ter sido feita no contexto de melhor preparar estas eleições”. O voto por correspondência, a facilitação do voto dos emigrantes e a divisão do período eleitoral por mais dias foram algumas das medidas que Mayan acredita que deviam ter sido tomadas.

João Ferreira mostrou-se preocupado com as previsões, assim como com a falta de divulgação da votação nos lares e ao domicílio, que pode ter demovido várias pessoas registar o seu voto. “O importante é que todos aqueles que estejam em condições de votar no domingo o possam fazer”, disse o candidato comunista. 

Já Marisa Matias, a candidata apoiada pelo Bloco de Esquerda, apelou às pessoas para não faltarem ao ato eleitoral, afirmando que os portugueses devem pronunciar-se “sobre qual é o futuro que querem para o seu país e não é indiferente dar a voz às pessoas num período de pandemia”. Salientou ainda que “as pessoas não estão impedidas de exercer o direito de voto. Nós não podemos desvalorizar a democracia em nenhum momento”.

Vitorino Silva foi das vozes mais duras quanto ao número da possível abstenção, dizendo que caso se confirme “vai ser uma vergonha”. O candidato repetente à presidência da república acredita que se 50% da população não votasse, o resultado não devia ser vinculativo, afirmando que “deviam de ter vergonha de tomar posse”. O líder e fundador do partido RIR (Reagir, Incluir e Reciclar) defende ainda o adiamento das eleições. “Se houvesse um terramoto em Lisboa ou no país, de certeza que as eleições eram adiadas. Isso é treta”, refere. Por sua vez, o candidato André não se pronunciou sobre este assunto.

Votação antecipada com a maior adesão de sempre

O passado domingo foi dia de exercer o direito de voto para vários portugueses que se inscreveram para votar antecipadamente. Houve 246 mil inscritos e a taxa de participação foi bastante animadora – cerca de 80%. 

Segundo dados divulgados pelo Ministério da Administração Interna (MAI), 197.903 pessoas dirigiram-se às urnas no passado dia 17. Esta grande adesão causou longas filas em vários dos 308 concelhos portugueses, o que motivou bastantes críticas por parte da oposição. O vice-presidente do PSD, David Justino, disse que “houve falhas injustificáveis, deficiente organização e excesso de exposição ao contágio”. 

Fonte: Comissão Nacional de Eleições

No estrangeiro, registou-se a maior adesão de sempre, tendo sido contabilizados cerca de 5.400 votos. Este valor superou aquele que tinha sido observado em 2019 nas eleições europeias (844) e legislativas (4.413). Contudo, há que referir que estes dados dizem respeito a cidadãos recenseados em Portugal que votaram fora do país, uma vez que aqueles que não foram recenseados em território português não tiveram acesso a esta modalidade de voto, o que gerou diversas críticas.

Artigo da autoria de André D’Almeida. Revisto por José Milheiro e Marco Matos.