Política
“Os esforços que fazemos agora garantem um futuro sustentável”: a política ambiental em conversa, nas Political Talks
“A política ambiental ainda está verde? Como pensar e planear o nosso amanhã” foi o mote para a 8ª edição das Political Talks, que se realizou a 18 de março.
O anfitrião, Francisco Porto Fernandes, esteve à conversa com Francisco Ferreira, professor da Universidade Nova de Lisboa e presidente da Associação Zero, e Francisco Guerreiro, eurodeputado independente na bancada dos Verdes e vice-presidente da Comissão de Agricultura e Desenvolvimento Rural no Parlamento Europeu.
A responsabilidade ambiental é de todos
Impulsionado pela questão em causa, Francisco Ferreira iniciou a conversa afirmando que a ação e o esforço de cada um, enquanto cidadãos, líderes de empresas ou integrantes de governos é essencial para progredirmos para um planeta mais sustentável. O presidente da Associação Zero reforçou então a ideia de que os cidadãos têm um papel mais importante na sociedade, visto que têm o poder de escolher aqueles que governam o país, as práticas empresariais que seguem, a partir de uma escolha consciente no consumo, e a forma como pretendem agir no seu dia-a-dia.
Em jeito de concordância, Francisco Guerreiro realçou que é no papel de cidadãos que se pode marcar a diferença.
“A responsabilidade é nossa. Nós podemos, com essa responsabilidade, direcionar para o que quisermos.”
Segundo o eurodeputado, será a responsabilidade que irá possibilitar a transição para um modelo baseado na não-violência aos animais, ao ambiente e ao próximo.
As falhas nas políticas ambientais
A falta de vontade política para utilizar os dados científicos já conhecidos e uma inexistente aplicação rápida de soluções foram duas das falhas assinaladas pelo eurodeputado. Francisco Guerreiro apontou, também, a falta de investimento na educação ambiental, que permitiria aumentar o sentido crítico das pessoas, principalmente dos jovens, e a sua capacidade para questionar a sociedade.
Segundo os oradores, as soluções para os problemas ambientais já existem e, como tal, os Governos têm um papel determinante para que as políticas públicas sejam aplicadas.
“O caminho já está traçado. Nós podemos não inventar nenhuma tecnologia e já tínhamos as soluções para conseguir reverter e mitigar grande parte das alterações climáticas.”
Algumas das soluções apresentadas pelos convidados foram o mapeamento das zonas onde existe uma maior concentração de emissões e a consequente aplicação de políticas públicas com o auxílio dos privados; o possível investimento na agricultura, que é responsável por 70% dos 10% de gases com efeito de estufa, de forma a que os profissionais pudessem adotar práticas mais sustentáveis; adaptar o modelo de sobreprodução, entre outras.
Francisco Ferreira reforçou ainda a importância de se trabalhar na eficiência, mas, principalmente, na suficiência.
Desafios ambientais
Francisco Guerreiro apontou o Pacto Ecológico Europeu como um dos exemplos de medidas que visam minimizar os efeitos das questões ambientais. O eurodeputado considera que falta mais ação e vontade por parte dos estados-membros, que podem ir mais além na aplicação de políticas ambientais.
“Os esforços que fazemos agora garantem um futuro sustentável.”
Já o presidente da Associação Zero, apresentou, em seguimento, um dos grandes desafios a nível ambiental. Para Francisco Ferreira, o turismo é uma mais-valia, que precisa de ser trabalhada, de forma a compatibilizá-la com a questão climática. Realçou, ainda, que o turismo de massas, que se tem praticado, não é o mais sustentável, e que devemos apostar num turismo, em que as pessoas conheçam verdadeiramente a cultura do país e usufruam da mesma.
Francisco Ferreira lamentou, ainda, que não se esteja a usufruir devidamente do Plano de Recuperação e Resiliência. A diferença, à qual se poderia assistir, está limitada, uma vez que este se tornou “uma extensão do financiamento normal europeu”. Além disso, afirmou que não há coerência entre as metas estabelecidas e as ações realizadas pelos estados-membros.
“Somos bem intencionados, mas falhamos naquilo que é estrutural e decisivo para a sustentabilidade.”
Aeroporto do Montijo
Os oradores lamentaram ainda a teimosia do Governo, que pretende seguir com a construção de um aeroporto comercial no Montijo. Segundo o presidente da Associação Zero, o problema que potenciou a sua criação foi a falta de gestão da procura. A pandemia provou que a maioria das viagens de negócios podem diminuir significativamente, tendo em conta a tecnologia que temos ao nosso dispor.
Francisco Ferreira acredita que, apesar das possíveis soluções tecnológicas que poderiam ser adotadas na aviação, a procura necessita de ser mais controlada. Neste sentido, reforçou a importância do processo de seleção do tipo de turismo que pretendemos que seja praticado no país.
Segundo o eurodeputado, é necessário investir e desenvolver estratégias de coesão territorial, com a criação de ligações ferroviárias, a partir de Beja, e das infraestruturas necessárias para o desenvolvimento do interior.
É possível uma economia verde?
Mas será então possível uma economia verde? Os convidados, discutindo a possibilidade, apelaram a uma economia onde os preços sejam proporcionais aos efeitos que a sua produção e transporte têm no ambiente.
Francisco Ferreira considerou ainda que é preciso perceber quais são os fatores geradores de emprego. Neste sentido, afirmou que seria mais benéfico se reutilizar os produtos, em detrimento da sobreprodução.
“Se não compreendermos isto, infelizmente, nós vamos ser os responsáveis pela nossa própria destruição.”
Os líderes do futuro
O presidente da Associação Zero considerou, em remate da conversa, que todas as gerações são importantes para que possamos caminhar em direção a um futuro sustentável. Os jovens, no entanto, devem trabalhar cada vez mais, uma vez que não é suficiente ter sensibilidade para estas questões.
“Não há tempo para estar à espera dos líderes de futuro.”
Também o eurodeputado, concordando com Francisco Ferreira, alertou para a necessidade de agirmos rapidamente.
Artigo da autoria de Inês Pereira. Revisto por Marco Matos e José Milheiro.