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Astrazeneca: A atribulada vida de uma vacina em interrogatório

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Vacina AstraZeneca. Fonte: Reuters

A partir do alarme dinamarquês as suspensões e retomas da vacina de Oxford têm sido frequentes. As investigações sobre os possíveis danos colaterais mantêm-se constantes. Com alguns dados recolhidos, certos países adotaram medidas de prevenção, e preferiram não vacinar grupos etários que consideram em mais risco de apresentar danos colaterais. Os resultados das investigações não conseguem fazer uma associação direta e causal entre a toma e alguns sintomas, apenas a sequência temporal permite tal ligação. 

Uma história de suspensão

Países como França, Dinamarca, Irlanda e Alemanha suspenderam temporariamente a vacina da Universidade de Oxford depois de alguns pacientes terem desenvolvido coágulos de sangue após a primeira toma, apesar de não haver prova da ligação dos coágulos à vacina.

O primeiro país a suspender foi a Dinamarca. Apesar de não haver provas de que a vacina tivesse sido responsável pela origem dos coágulos, as autoridades de saúde suspenderam a vacina de forma preventiva. 

Um dos países que seguiu o exemplo foi a Noruega. As autoridades de saúde norueguesas alertaram que os pacientes com menos de 50 anos que tinham recebido a vacina apresentavam um número muito reduzido de plaquetas, o que poderia causar hemorragias.

A Agência Europeia do Medicamento alerta que não existem provas que indiquem a vacinação como causadora dos coágulos e do número baixo de plaquetas. Os principais alvos da vacinação até à data têm sido doentes com patologias já detetadas

Apesar de preventivamente, o número de países a suspender a vacina ainda foi significativo.

A Agência Europeia do Medicamento alerta que não existem provas que indiquem a vacinação como causadora dos coágulos e do número baixo de plaquetas. Médicos e especialistas acrescentaram que os principais alvos da vacinação até à data têm sido doentes com patologias já detetadas, e por isso mais vulneráveis e propensas à formação de coágulos. 

O lançamento de uma vacina para o mercado necessita sempre de muita atenção e monotorização por parte das autoridades competentes de forma a prever e analisar os efeitos secundários e as suas consequências.  Até ao momento, as investigações que têm sido postas em prática não sustentam a ligação dos problemas detetados com a toma da vacina. No entanto, a análise irá continuar, acompanhada de uma monotorização perspicaz.

Sim, mas porquê?

O risco de correlação dos problemas que surgiram e a toma da vacina é muito baixo, alertam os cientistas. O alerta e a consequente investigação é uma prática recorrente e obrigatória quando um novo produto medicinal é lançado no mercado. O número de países que se seguiram à Noruega e Dinamarca, onde Portugal está incluído, decidiram sobre a suspensão da vacina apenas por medida de precaução.

Além disso, o número de casos que apareceram revelam-se insignificantes quando comparados com o número total de doses administradas até à data. Para melhor comparação, no mesmo período temporal, foram detetados mais casos de coagulação sanguínea em pacientes que receberam a vacina da Pfizer. Mais oito casos em relação à vacina da Astrazeneca.

O número de casos que apareceram revelam-se insignificantes quando comparados com o número de doses administradas até à data. No mesmo período temporal, foram detetados mais casos de coagulação sanguínea em pacientes que receberam a vacina da Pfizer 

Em conferência de imprensa, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou que não é possível estabelecer uma correlação entre a toma da dose com a formação dos coágulos pelo facto de um acontecimento suceder o outro.

A farmacêutica, em comunicado, garantiu que não há motivo para preocupação. “Os números foram muito mais baixos do que os que seriam esperados numa amostra deste tamanho e são semelhantes aos de outras vacinas autorizadas”.

Em Portugal, até à data da suspensão, tinham sido administradas 400 mil doses. A suspensão da vacina implicou uma paragem e um consequente atraso na vacinação, por exemplo, dos professores.

Tedros Adhanom, diretor-geral da OMS. Fonte: DW/ AFP/F, Coffini

Como em território nacional o número de doses administradas é significativo, a diretora geral da saúde aconselhou que quem já tivesse tomado a primeira dose estivesse atento a efeitos secundários. No entanto, deixou claro que tal não se aplica apenas a pacientes que tenham tomado a vacina da Astrazeneca, mas também a da Pfizer. 

A Agência Europeia do Medicamento continua a afirmar que os benefícios superam os riscos. 

Astrazeneca volta a circular

A retoma e a regularização do processo de vacinação com a dose da Astrazeneca não tem acontecido sem alguns percalços e contratempos. São alguns os países que têm vindo a adotar medidas de restrição ou precaução, nomeadamente travando a vacina em algumas faixas etárias.

A 30 de março, as autoridades alemãs cancelaram o uso da vacina de Oxford para pessoas com menos de 60 anos. Na base desta decisão estão os coágulos sanguíneos incomuns detetados naqueles que já receberam a sua primeira dose. Esta decisão foi aceite por unanimidade junto das 16 autoridades federais da Alemanha. O cancelamento foi altamente aconselhado pelos especialistas de vacinas da Alemanha, com base em dados recolhidos de uma investigação, onde se observaram 31 pessoas com coágulos sanguíneos incomuns e se lamentaram 9 mortes. 

Do outro lado do oceano atlântico, o Canadá atendeu às preocupações e investigações que decorrem na Europa quanto à vacina de Oxford e decidiu também cancelar a vacina nos grupos etários com menos de 55 anos. A preocupação e prevenção estão na base desta decisão, bem como os dados anunciados pela Alemanha.

Covid-19. Fonte: ec.europa

A 2 de abril, sexta-feira, seguindo as autoridades alemãs e canadianas, os Países Baixos cancelaram cerca de 10.000 doses que estavam previstas para os membros do sistema de saúde com menos de 60 anos. A decisão foi suportada pelos dados revelados pelas autoridades alemãs, mas também pelo facto de a Holanda já lamentar uma morte após a primeira dose ter sido administrada. Os dados revelados pelo Centro Lareb de Farmacovigilância anunciam também a ocorrência de 5 casos de trombose associada à baixa quantidade de plaquetas após a vacina. 

Até à data, as investigações que decorreram não permitiram garantir uma ligação entre os incidentes relatados e a toma da vacina. A Agência Europeia do Medicamento garante que as suas vantagens superam largamente as desvantagens

A vacina da Astrazeneca-Oxford tem feito correr muita tinta e certamente que começou a criar alguma desconfiança à população. Até à data, as investigações que decorreram não permitiram garantir uma ligação entre os incidentes relatados e a toma da vacina. No momento, a única justificação e possível relação advém do fator temporal. A Agência Europeia do Medicamento garante que as suas vantagens superam largamente as desvantagens, e que não tomar a vacina será certamente um contratempo para o avanço da imunidade de grupo.

Sabia que: Como funciona a Vacina da Astrazeneca-Oxford?

A vacina da Astrazeneca-Oxford é resultado de uma parceria entre a Universidade de Oxford, na Inglaterra, e a farmacêutica sueca Astrazeneca. A 20 de julho de 2020 foram divulgados resultados positivos quanto às duas fases de testes a que foi submetida, o que permitiu posteriormente afirmar que esta produziria uma resposta eficaz à imunização do vírus.

O seu funcionamento e respetivo efeito é, segundo a Revista Exame, baseada no adenovírus (vírus que causa problemas respiratórios leves) enfraquecido de um chimpanzé. A Universidade de Oxford garantiu que a vacina é segura para todos, desde crianças a idosos, de pessoas saudáveis a pessoas com doenças prévias de risco, como a diabetes.

Para o desenvolvimento e produção da vacina, os cientistas utilizaram os genes presentes no coronavírus que são responsáveis pelas pontas presentes na sua superfície. Posteriormente, adicionaram estes genes a um vírus inofensivo. De seguida, os pacientes são vacinados e as células passam a produzir as proteínas responsáveis pelas pontas características do vírus. Como resposta, o sistema imunitário inicia a produção de anticorpos que serão capazes de destruir células que apresentem essas mesmas pontas. Finalmente, podemos afirmar que o paciente se encontra com o sistema imunitário apto a responder caso o COVID-19 entre no seu sistema.

Artigo da autoria de Ricardo Terrinha. Revisto por Marco Matos e José Milheiro.

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