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Madrid: governo regional cai e aquece política em Espanha

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Isabel Ayuso do PP rompeu a coligação com o Ciudadanos e leva Madrid a eleições regionais antecipadas Foto: flickr/Populares de Madrid

Madrid foi o palco de um terramoto político em Espanha, no passado dia 10 de março. A presidente da região, Isabel Díaz Ayuso, do Partido Popular, apresentou a sua demissão e convocou novas eleições para dia 4 de maio. A líder de centro-direita da Comunidade de Madrid quis evitar uma moção de censura por parte do PSOE e do Ciudadanos, partido que estava coligado com o PP no governo.

O anúncio chega depois de os liberais, juntamente com a esquerda, apresentarem uma moção de censura ao governo de Múrcia. Apesar de nada indicar que o Ciudadanos fizesse o mesmo em Madrid, Ayuso avançou com a sua demissão. “Se não dissolvesse o governo, a moção da esquerda impedir-me-ia de convocar eleições e faria o governo cair“, afirmou Ayuso.

“Não posso permitir que Madrid pare agora, que tudo seja derrubado”

A notícia caiu como uma bomba dentro do Ciudadanos, que acusa o PP de ter rompido o acordo de forma unilateral e de ter faltado à sua palavra. Ignacio Aguado, líder dos liberais madrilenos, refere que o governo funcionava bem e que esta decisão não passa de um capricho de Isabel Ayuso.

“Decide romper o acordo devido a um capricho eleitoral. Este governo funcionava bem, o que a presidente acaba de fazer é imprudente”

No poder desde 1995, o PP saiu derrotado nas eleições de 2019, no entanto, como o PSOE não conseguiu formar governo, os conservadores coligaram-se com os liberais do C’s para assumir a governação na região mais rica de Espanha.

Contudo, Ayuso e Aguado entraram muitas vezes em conflito, principalmente devido às aproximações da presidente conservadora à extrema-direita do Vox, que também apoiava o governo. Mais recentemente, a líder conservadora apresentou um recurso à Audiência Nacional para contestar as restrições de circulação impostas na capital espanhola pelo Ministério da Saúde e não contou com o apoio do parceiro de coligação.

Díaz Ayuso envolvida em várias polémicas

Ayuso, que já tinha somado várias frases polémicas durante o seu mandato, tem sido muito crítica em relação a restrições para combater o contágio da Covid-19. “Nem estados de emergência, nem confinamentos. Há que aprender a viver com o vírus“, afirmou Ayuso numa das suas intervenções.

Apesar disso, Madrid entrou dia 15 de março em «estado de alarma», mas o centro da capital continua cheio de gente nas ruas e multiplicam-se os casos de incumprimento das restrições, mesmo sendo a região espanhola com o maior número de casos confirmados. A culpa da má gestão da pandemia é atribuída pela oposição e pelo governo a Ayuso, que segundo Reyes Maroto, ministra da indústria, comércio e turismo, “brinca com a vida das pessoas“.

Días Ayuso é também muito criticada pelas suas constantes aproximações ao Vox. No passado dia 15 de março, numa entrevista televisiva para a Telecinco, enquanto a jornalista enumerava várias críticas dirigidas a Ayuso, a entrevistada acrescentou «fascista» a esse lote e afirmou: “Quando te chamam fascista, sabes que estás a fazê-lo bem (…) estás do lado bom da história“.

Campanha eleitoral segue agitada

Foi também a 15 de março que Pablo Iglesias,  líder do Unidas Podemos, deixou o cargo de vice-presidente de Pedro Sanchéz e decidiu candidatar-se à presidência de Madrid. Como resposta, Ayuso fez uso do seu lema de campanha “comunismo ou liberdade“, o que tem tornado as eleições bastante polarizadas.

O anúncio de Iglesias também não caiu muito bem dentro do Más Madrid, a quarta força política da região, criada pelo antigo fundador do Podemos e dissidente do partido, Iñigo Errejón. O partido liderado por Mónica García recusou uma candidatura conjunta com Pablo Iglesias, assim como Ángel Gabilondo, do PSOE, que disse preferir coligar-se com o Ciudadanos – o que parece já não ser possível porque, segundo as sondagens, o C’s não poderá eleger nenhum deputado para o parlamento regional. Contudo, a ideia de um governo de esquerda no principal terreno do PP parece ter ganho força.

Gabilondo, vencedor das últimas eleições, não é um nome consensual à esquerda devido à sua conduta política bastante moderada e independente. No entanto, tal como já foi afirmado por Pablo Iglesias, a intenção do Podemos é construir um governo de coligação entre os progressistas de esquerda, que deverá ser liderado pelo PSOE, de modo a impedir a criação de um governo entre o PP de Ayuso e o Vox.

O partido de extrema-direita, que se apresenta a Madrid liderado por Rocío Monasterio, apoiou o último governo de Ayuso e deverá voltar a fazê-lo caso o PP vença as eleições. No passado dia 7, durante o comício do Vox em Vallecas, um bairro madrileno conhecido pela resistência à ditadura de Franco, violentos desacatos entre apoiantes de Monasterio e manifestantes antifascistas levaram à detenção de duas pessoas e causaram 13 feridos. A manchar a campanha do Vox junta-se ainda o ataque com explosivo à sede do Podemos em Cartegena.

Sondagens dão larga vantagem a Ayuso

Esquerda (cima para baixo): Pablo Iglesias; Mónica García; Ángel Gabilondo. Direita (cima para baixo): Edmundo Bal; Isabel Díaz Ayuso; Rocío Monasterio.

A menos de um mês das eleições, Isabel Díaz Ayuso leva um claro destaque nas sondagens, o que poderá significar um reforço da posição do seu partido no parlamento regional. Segundo os resultados do inquérito do Centro de Investigações Sociológicas (CIS), o PP reúne 39% das intenções de voto.

Em segundo aparece Ángel Gabilondo, vencedor das últimas eleições, com 25% das intenções de voto. O candidato do PSOE tem uma ligeira descida de 2 pontos percentuais face às eleições de 2019.

Em queda livre está o Ciudadanos que poderá não eleger nenhum deputado. O partido liberal recolhe apenas 4% da preferência dos inquiridos, o que faz o C’s cair de terceira força política da região para a sexta. Perde quase tanto quanto o que o PP ganha.

Este resultado prevê que Ayuso poderá formar um governo maioritário (caso mantenha a tendência de subida), ou uma coligação com o Vox, que aparece com 5%. Juntos ficariam com 68 assentos no parlamento, a um deputado de atingir a maioria.

A esquerda unida conseguiria também 68 lugares na assembleia, fruto dos 38 do PSOE (25%), 20 do Más Madrid (15%) e 10 do Unidas Podemos (9%). Porém, vários especialistas apontam erros na atribuição dos assentos parlamentares, o que deverá ter retirado à esquerda 2 deputados eleitos.

Já numa outra sondagem, esta realizada pela Sigma DOS para o jornal ‘El País’, Isabel Días Ayuso consegue 43% das intenções de voto, o que permitiria o PP conquistar mais do dobro dos assentos parlamentares que conseguiu em 2019. Desta forma, a líder conservadora facilmente formaria governo com o apoio do grupo da extrema-direita.

Caso se confirme a larga vitória de Ayuso em Madrid, o futuro do Partido Popular poderá também tomar outro rumo. O líder do partido, Pablo Casado, já afastou qualquer hipótese de uma coligação com o Vox para o governo do país, mas a popularidade da conservadora madrilena faz dela uma rival natural dentro do partido, o que deverá favorecer uma viragem dos Populares para a extrema-direita.

Artigo da autoria de André D’Almeida. Revisto por Marco Matos e José Milheiro.

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