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“Quem se afastar da política, afasta-se da vida”: os jovens e os movimentos extremistas em debate

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Foto: Facebook da Associação de Política Apartidária. Conversa entre Pedro Marques Lopes e Carlos Daniel

A Academia de Política Apartidária, a Sociedade de Debates da UP e a ELSA UP estiveram à conversa com Pedro Marques Lopes, colunista no Diário de Notícias, A Bola e Dinheiro Vivo e comentador no Eixo do Mal e no Bloco Central, e Carlos Daniel, jornalista da RTP.

O papel dos jovens numa sociedade em que os movimentos extremistas emergem foi o enfoque do debate.

Jovens e o extremismo

A conversa iniciou-se com a questão: “Os jovens estão realmente extremados?”.

Pedro Marques Lopes considera que existiram, desde sempre, jovens que procuraram mudar o mundo, através de movimentos extremistas e, como tal, não é surpresa que esta geração o seja. O comentador relembra, ainda, que os movimentos defendidos, atualmente, foram criados por jovens há algumas décadas.

Em jeito de concordância, Carlos Daniel acredita que é natural que os mais novos se debatam por causas. Para o jornalista, as gerações atuais distinguem-se por terem ao seu dispor meios, como as redes sociais, que lhes permitem divulgar os seus ideais.

“Verdadeiramente hoje temos uma geração que está a pronunciar-se de forma radical, como sempre, mas por meios que são diferentes dos que eram tradicionais nas gerações anteriores.”

Os oradores afirmam que os movimentos extremistas não são uma novidade, uma vez que em alguns países, como a França, o extremismo como o temos hoje existe há cerca de duas décadas.

O papel das redes sociais na ascensão dos movimentos extremistas

Carlos Daniel defende que as causas defendidas pelos jovens, como a procura por um mundo mais sustentável, pelas políticas de identidade e a defesa dos animais, são, nos dias de hoje, mais facilmente identificadas. Assim, esta geração é chamada a participar no debate público.

Os convidados consideram que a conquista resulta da era estabilizada e democrática em que os jovens vivem e alertam para a necessidade de conhecermos as raízes do nosso país e da Europa e de nos mobilizarmos contra as tentativas de mudança do sistema.

Para Pedro Marques Lopes, a falta de um espírito de grupo e de uma ação em comunidade é um dos principais problemas da geração. Este considera, ainda, que as redes sociais contribuem para gerar radicalismos e extremismo, uma vez que o algoritmo contribui para a confirmação dos nossos preconceitos.

O orador defende que o problema reside no facto de nos fecharmos, principalmente, com as novas plataformas digitais e de não procurarmos compreender o outro, com a comunicação empática que só o real pode gerar.

“Vocês [os jovens] estão mais sujeitos à reafirmação dos vossos preconceitos, porque as comunidades são mais fechadas.”

O jornalista reitera esta ideia. A divergência dos factos, como assistimos durante a pandemia, a falta de pesquisa e a receção de informação mal filtrada são apontados como outros problemas a ter em conta.

Causas políticas ou psicológicas podem estar na base do extremismo?

Carlos Daniel afirma ser natural a procura pelos responsáveis de todos os problemas, principalmente, nos mais jovens, que considera estarem alheados da vida política. O jornalista acredita que só o conhecimento poderá combater a escassa participação cívica.

“Quem se afastar da política, afasta-se da vida.”

Apesar de apelar a um maior envolvimento das gerações mais novas nestas questões, Carlos Daniel considera que a falta de representação na política possa contribuir para a falta de interesse dos jovens.

Já Pedro Marques Lopes diz que não se admira com a não participação dos jovens nos partidos políticos, uma vez que estes colocam entraves à entrada de pessoas novas. O comentador acredita que o desafio passa pela transformação dos partidos.

O comentador acrescenta que a participação cívica está melhor do que estava e que esse envolvimento é visível pelos movimentos em nome do ambiente, da comunidade LGBT, contra o racismo, entre outros, mas que ainda há muito caminho a traçar nesse âmbito.

“A democracia não se esgota nos partidos e no voto. A democracia é algo mais abrangente.”

Os oradores alertam para a importância da discussão e da procura por informação para que se possa combater os populismos e, consequentemente, os extremismos. Tal passa por olhar a política com outros olhos, ao invés de a catalogar logo como algo negativo.

“Não há nada mais nobre do que a política, porque a política é olharmos para os outros.”

O que é mais importante: participação política ou cívica?

Pedro Marques Lopes relembra que “a participação cívica é muito mais do que participar em manifestações”. Apesar de atribuir importância à ligação dos jovens com a política, o comentador considera que a falta de interesse em incorporar associações e em torná-las visíveis é mais preocupante.

A participação em associações contribui para que os jovens ganhem importância na comunidade.

Também o jornalista considera ser fundamental as gerações mais novas defenderem boas causas e aproveitarem os meios que têm disponíveis para praticar a justiça e lutarem contra o que não está bem na sociedade. Tal pode ser feito em pequena escala, pois mudar aquilo que está perto de nós já é um passo importante.

O voluntariado e a sua importância na sociedade

O jornalista afirma que o voluntariado tem debate em esfera política e que o nosso contributo será sempre político.

Já o Pedro Marques Lopes considera que é necessário perceber o que é o voluntariado, o que queremos atingir e o seu papel na sociedade.

“Uma coisa é a participação cívica e a vontade de ajudar, outra coisa é o enquadramento que se dá a esse voluntariado.”

Devemos partilhar as nossas posições políticas em plataformas como o LinkedIn?

Carlos Daniel afirma que podemos assumir as nossas posições políticas na plataforma. Porém, admite que na esfera profissional a partilha daquilo em que acreditamos possa ter consequências. A decisão de expor ou não está relacionada com a importância da questão política na nossa vida e na nossa carreira.

Pedro Marques Lopes diz que não colocaria.

Artigo da autoria de Inês Pinto Pereira. Revisto por Marco Matos e José Milheiro.

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