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Política

Alemanha: a extrema-direita e o aumento do crime violento

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A disseminação da violência na sociedade alemã

Desde a exibição de símbolos nazis e comentários anti-semitas a ataques físicos e mesmo assassinatos, a sociedade alemã tem assistido a um aumento do crime motivado por ideologias políticas nos últimos anos. Apesar de a maioria dos crimes se prenderem com ideais de extrema direita, um aumento no número crimes motivados por outras ideologias políticas parece ser um sintoma da radicalização da sociedade alemã em vários quadrantes.

Em 2020, a polícia alemã registou quase 24.000 crimes relacionados com a ideologia de extrema direita. Nesse ano, um dos casos de violência mais abordado nos media foram as mortes na cidade de Hanau, onde nove jovens foram brutalmente assassinados por motivações étnicas. 

Por norma, os crimes costumam estar relacionados com xenofobia e/ou racismo. As vítimas destes crimes são, principalmente, minorias étnicas e religiosas, requerentes de asilo, refugiados, alemães de origem estrangeira, comunidade LGBT e outros grupos vulneráveis.

Um contexto multicultural: imigração e “Crise de Refugiados”

A Alemanha é a maior potência económica europeia, com um mercado de trabalho muito apelativo e recheado de oportunidades, razão pela qual é  um dos países europeus que mais imigrantes comporta. Trata-se, portanto, de um país extremamente multicultural. No final de 2020, os registos apontavam para cerca de 11,4 milhões de imigrantes a viver dentro das fronteiras alemãs. A razão que justifica o alto número de imigrantes prende-se, sobretudo, com o fenómeno migratório que tem vindo a abalar a Europa nos últimos anos.

O ano de 2015 marcou a história europeia – desde o final da Segunda Guerra Mundial, nunca se havia verificado um fluxo migratório tão alto para o continente. A “Crise de Refugiados” gerou reações muito diferentes nos vários países europeus. Na Alemanha, a chanceler Angela Merkel decidiu adotar uma política de acolhimento, isto é, optou por relaxar as regras de migração e asilo, permitindo, assim, que mais de um milhão de refugiados se instalassem na Alemanha.

Contudo, a partir de 2016, o governo alemão tem procurado abrandar a entrada de imigrantes, reforçando os seus regulamentos de asilo. Independentemente das tentativas, o número de imigrantes permanece alto – a Alemanha continua a receber o maior número de pedidos de asilo na União Europeia

A imigração em massa e o consequente  crescimento da população de minorias étnicas e religiosas leva, na maior parte dos países, ao aparecimento e fortalecimento de partidos de extrema-direita. 

O caso alemão é paradigmático: precisamente a partir de 2015, o partido AfD (Alternative für Deutschland, em português “Alternativa para a Alemanha”), criado em 2013, ganhou terreno ao posicionar-se contra a política de acolhimento defendida pelo governo de Merkel. Entretanto, a AfD tornou-se o terceiro maior partido da Alemanha e a violência baseada em pressupostos xenófobos e racistas tem vindo a aumentar. 

Rumo à aceitação e tolerância 

A Alemanha tem um problema estrutural com a discriminação, provocando, consequentemente, problemas em matéria de coesão social. Segundo o Ministro do Interior alemão, a violência e os crimes de ódio têm levado à “brutalização” da sociedade e têm colocado em causa a estabilidade do país.

A discriminação tornou-se parte da vida quotidiana na Alemanha e, por essa razão, o combate ao crime motivado por questões ideológicas requer agora um envolvimento mais ativo de todos os membros da sociedade. 

O simples reforço de segurança não é suficiente para contornar este problema. Reconhecê-lo e combatê-lo em todas as áreas da sociedade, parece ser uma forma mais eficaz de reduzir o crime baseado em ideologias extremistas, xenófobas e racistas. 

Alguns países, como a Austrália, a Holanda e o Canadá, têm vindo a trabalhar nesse sentido e desenvolveram estratégias anti-discriminatórias, procurando contribuir, dessa forma, para a consolidação da justiça e igualdade social. 

Artigo da autoria de Bárbara Amaral. Revisto por José Milheiro e Marco Matos.

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