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Política

“Não queremos ser Governo amanhã. Queremos é ter algum tipo de voz “

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João Pessanha, cabeça de lista do VOLT no Porto
(Imagem: VOLT)

O VOLT concorre ás suas primeiras Eleições Legislativas. O partido legalizado pelo Tribunal Constitucional  em 2020 é paneuropeista e não se classifica como sendo de direita ou de esquerda. João Pessanha, cabeça de lista do VOLT no Porto falou ao JUP sobre as ambições do partido para estas eleições, da importancia de um Estado Inteligente e da posição do partido em relação ao chumbo do Orçamento de Estado.

Para começar, como é que descreveria o VOLT?

Bem, o Volt é um partido que nasceu em 2017. É um partido que nasceu em reação ao referendo do Brexit, em Inglaterra. Isto, como proteção dos cidadãos e defendendo os princípios basilares da União Europeia. Estamos a falar da dignidade humana, da justiça e da democracia. O VOLT nasceu como movimento, foi crescendo. Neste momento, o VOLT está em 30 países da União Europeia. Nos 27 Estados-membro e mais 3. Em Portugal, foi legalizado em 2020 e, neste momento, já temos 3 deputados no parlamento holandês, 2 deputados na Bulgária, numa coligação anticorrupção, e também um Eurodeputado eleito pela Alemanha. As características do VOLT são os 3 p’S: é paneuropeu, porque estamos na Europa; progressista, porque revê-se que é importante agora com os desafios do século XXI, não ter qualquer tipo de obstáculos para o aperfeiçoamento da condição humana, sempre respeitando as pessoas e, obviamente, tendo em mente as preocupações ecológicas e ambientais; e pragmático, porque nos consideramos de centro, não nos revemos na antiga dicotomia de esquerda e direita. Queremos resolver os problemas concretos e reais das pessoas, obviamente, olhando para as evidências científicas e para as melhores práticas a nível europeu e adaptar isso à realidade portuguesa, mas fugindo sempre dos extremos, porque o VOLT nasceu de uma reação aos extremismos.

Eu perguntava-lhe se pudesse descrever Portugal, neste momento, como é que o faria?

Portugal, neste momento, está estagnado há 47 anos, mais ou menos, porque a própria sociedade não se foi adaptando aos desafios que assim exigem. Isto parte não só dos representantes políticos mas de uma sociedade como um todo.  Para mim, os pilares essenciais numa sociedade são a educação, a saúde e, novamente, a justiça. E, nesses campos, nós tivemos algum desenvolvimento. Para o VOLT, o Sistema Nacional de Saúde (SNS) é fundamental porque é uma das armas de combate à desigualdade e à vulnerabilidade. Na Educação, houve um investimento enorme na educação e no conhecimento, mas depois, esse investimento foi desperdiçado pela falta de oportunidades para os jovens e para os próprios investigadores que são forçados a emigrar. Tudo isto foi feito aliado a negócios opacos que foram feitos pelos governos sem qualquer tipo de responsabilidade. Estamos a falar de Parcerias Público-Privadas (PPP) que foram feitas a prejudicar os contribuintes. Tudo isto fez com que houvesse uma descredibilização por parte dos cidadãos e da sociedade perante o nosso país. Não acreditar no nosso país, não acreditar que Portugal seria o sítio perfeito para desenvolver os seus projetos pessoais, os seus projetos profissionais. E isso foi, a meu ver, uma culpa dos responsáveis políticos. Há uma tentativa de se perpetuarem no poder mas não há uma responsabilidade, uma vontade e um compromisso realmente, de mudar. Parece que só trabalham para as eleições e não trabalham durante os seus mandatos e fomos ficando atrás, cada vez mais atrás. É muito difícil no global da sociedade e também nos fatores externos é muito difícil tocar em todos os pontos, mas essencialmente, são esses os pontos que eu vejo que não nos permitiu acompanhar o desenvolvimento dos outros países. Essa dificuldade de acompanhar, dinamizar e de aproximar os cidadãos das decisões políticas faz com que o país fique agora na cauda. O VOLT quer que Portugal não seja a cauda mas a cabeça da Europa, mas obviamente esta é a realidade que nós temos, mas nós não nos vamos queixar como se calhar a maior parte das pessoas com o histórico de acusações “Ah foste tu que fizeste…”, não. Temos problemas e queremos resolvê-los e é muito bom o VOLT existir porque é o primeiro partido pragmático e ao ter um partido pragmático, ao resolver problemas, os extremismos acabam por se dissipar porque se não houver problemas, não se alimentam [os extremismos] dos problemas da sociedade.

 

Pegando nesse problema da estagnação que referiu, o VOLT é um partido cujo programa está muito virado para a população jovem. Quais são as principais medidas que o VOLT tem a este nível, nomeadamente para impedir a emigração de jovens?

O mais importante para o VOLT é, portanto, investir, como eu disse, nas possibilidades, enquanto estudante, ou seja, não se manterem à mercê dos pais e de outros fatores externos. Nós, no nosso programa, queremos investir, porque há um problema muito grande, que é a habitação para os estudantes, mas não só estudantes, estamos a falar de professores. Queremos investir em todo o país em alojamentos para estudantes e para professores, queremos um maior investimento na área da inovação e desenvolvimento. Nós fomos conotados de forma errada, quando dissemos que queremos uma flexibilização laboral.

e a facilitação dos serviços, a desburocratização da própria educação. estamos a falar em trabalhos de investigação, em dificuldades que os jovens até querem ter um início de vida, de ter casa, de sentir que a própria Administração Pública é eficiente, nós queremos desburocratizar o Estado todo obviamente uisando as tecnologias de ponta que existem. Neste momento, abriram-se feridas maiores na sociedade com a pandemia e se nós não tivermos a possibilidade de inserir as tecnologias que temos a nosso proveito para o ser humano,aí torna-se mais difícil e é isso que nós queremos: desburocratizar todos os serviços de forma responsável e nesse caso também temos o Ministério da Digitalização que seria uma força msior nesse sentido.

 

Ainda ao nível da educação, qual é que é a posição do VOLT em relação ao pagamento de propinas?

 

A educação, a saúde têm que ser universais e que toda a gente deve ter acesso a uma educação forte e, obviamente, que pode ser necessário. Tudo isso têm que ser contas a fazer. Não me parece que seja necessário aumentar as propinas para os estudantes, não me parece. Que acontece uma crise e cai tudo abaixo, mas que seja uma economia de conhecimento e obviamente esse tem de ser um dos apoios. Agora, se continuar a acontecer o mesmo que aconteceu, que é investir na Educação, mas depois deixar as pessoas saírem todas, ou seja, a chamada “fuga de cérebros” ou “Brain Drain”. Isto aqui, basicamente Portugal está a investir e está a perder as pessoas qualificadas que podem melhorar o país e também estamos a falar das localidades, de Portugal, da União Europeia,  ficamos todos a ganhar e reunimos já com instituições na área também da Ciência,da Investigação  e todos falam do mesmo. E isso não pode acontecer. Portugal tem que se desenvolver tanto na parte da educação mas tambémna parte tecnológica e inovação e aproximar os cidadãos das decisões políticas porque só assim é que nós conseguimos avançar como país e como sociedade  11:02 

 

Quais são então as medidas  que o VOLT tem no que diz respeito ao combate à falta de professores no ensino público?

 

Bem… O problema, em Portugal, é que há uma subvalorização de algumas profissões e os  professores são uma classe que, a meu ver, não está valorizada. Primeiro, devem facilitar o processo e o trabalho dos professores, reduzindo a carga administrativa que os professores têm para se poderem concentrar e focar na educação. Nós queremos uma reforma muito grande na própria forma de educar. Estamos a falar desde o ensino básico, ensino secundário. Queremos ter um sistema educativo que não esteja só baseado na memorização e depois que seja debitada matéria quando se faz exames, mas que seja muito mais: apelar à criatividade, a outro tipo de inteligência lógica e, nesse caso, nós também temos uma cadeira que queremos introduzir, que é o “Desenvolvimento Social e Pessoal”. Estamos a falar de motivar e desenvolver inteligência emocional, literacia digital, computação, literacia financeira. Portugal é o último país em termos de literacia financeira na União Europeia- explicar o que é que são as instituições públicas, o que é que são as instituições privadas, o que é que é o Orçamento de Estado, tudo isso é importante. Eu sou da geração que saiu da Faculdade e somos iletrados em termos financeiros, não sabemos como é que as coisas funcionam. Uma sociedade só pode aproximar cidadãos se houver esse incentivo e para os professores. É importante que os professores sejam remunerados, tem que haver um aumento salarial do professor, tem que haver também, se um professor não tiver colocação num certo tipo de região, têm que haver incentivos superiores porque é muito difícil, a mesma coisa acontece na Saúde, mas estamos agora a falar da Educação, é muito difícil um professor mudar-se para outra área quando tem uma famíla atrás ou quer também construir a sua família se não tiverem os incentivos adequados para tal.

 

Estava aqui a falar na questão de que faltam muitos incentivos e que nem sempre o Orçamento de Estado é bom para melhorar a nossa economia ou para melhorar a nossa sociedade. Como é que o VOLT olhou para o chumbo do Orçamento de Estado?

 

É assim, o VOLT olhou para o chumbo do Orçamento de Estado como uma irresponsabilidade dos governantes políticos e das pessoas que estavam no Governo, especialmente, numa crise pandémica. E, agora, o mais curioso é que depois vêm apelar a maiorias e que querem estabilidade quando se sabe que quando se entra numas eleições, o VOLT é pela democracia, é pelas eleições e ainda bem. Mas há momentos e momentos. E o chumbo do Orçamento de Estado por guerras internas e por vontades e exigências de parte a parte, a meu ver, irresponsáveis, só prejudicam os portugueses. Eu estou a falar um bocadinho de mim também, vejo isso como uma falta de responsabilidade e, também, como uma falta de pragmatismo. Há o egoísmo partidário. E o problema, em Portugal, para além do egoísmo partidário, há hábitos dentro da política portuguesa que não permitem às pessoas, que realmente querem melhorar o país, entrarem. Não permite. E o VOLT tem tido esse tipo de dificuldade. E os jovens têm essa responsabilidade e o vosso trabalho também, do Jornal Universitário do Porto e pssarem a palavra é incentivar isso. Já comceçam a haver algum tipo de iniciativas. Tivemos em Rio Tinto onde fizeram uma simulação do processo democrático  de eleições e já começa a haver mais sensibilização. E eu acredito mesmo no futuro de Portugal. Portugal tem imensas, imensas capacidades. Agora, tem havido muita irresponsabilidade por parte dos governantes e o problema que há algum tipo de quase forças, de favorecimentos programados, era isso que eu estava a falar, da parte da viciação,  que não permite que Potugal avance  e as pessoas votam nos partidos quase como clubes em vez de lerem os programas eleitorais.

 

Pegando só, novamente na questão relativa à  cadeira  de “Desenvolvimento Social e Pessoal”. Em que nível de ensino é que esta cadeira seria introduzida, idealmente?

Ensino básico e secundário. Já existe uma associação chamada Ensino que está a fazer esse trabalho na área da computação. Mas, obviamente, que eles estão a fazer estudos- piloto em várias escolas aqui no Porto, no Cerco e no Garcia de Orta em que estão a desenvolver programas de educação a começar no 1º ciclo, 2º ciclo e vão adaptando e vão, também, formando os professores e têm tido uma recetividade muito grande, um entusiasmo muito grande de parte a parte. Essa é uma das valências que nós achamos que são importantes para os estudantes, para se desenvolverem, porque temos de nos adaptar ao Mundo em que vivemos e a digitalização é uma revolução que já está a acontecer e faz parte desse Mundo.

 

Em que consiste o Orçamento de base 0 que o VOLT propõe que seja introduzido de 10 em 10 anos?

O Orçamento de base 0 é basicamente um repensar sobre aquilo que nós queremos para o país em que há um diálogo concertado entre as partes dos partidos e que possamos pensar e adaptar à realidade existente. Esse é o pragmatismo, mais uma vez. E as forças partidárias, normalmente, têm tendência a lutar umas com as outras e nós somos pelo diálogo, pela Democracia e pela construção de um futuro melhor para podermos também caminhar juntos.

 

Ou seja, seria quase que uma…

Quase que um reset, mas não é um reset, há um acompanhamento de trás, mas há uma avaliação, há quase que uma auditoria externa e interna.

 

E então, pegando agora no, conceito do Ministério da Digitalização. O VOLT, desde que surgiu dá uma grande prioridade a este conceito de Estado inteligente e falou logo no início do conceito de estagnação de Portugal. Se fosse criado então este Ministério, quais seriam as primeiras três tarefas que teria de desenvolver?

 

(continuação) na parte do próprio cidadão, que usa os serviços da Administração Pública e, muitas vezes, culpam os funcionários públicos erradamente, porque os próprios processos é que estão errados. E há facilitação de comunicação. Vamos supor que estamos num processo de licenciamento de uma casa. O que é que acontece neste momento? Se formos a um serviço público, há uma comunicação entre parte a parte, mas ninguém sabe onde é que está o processo. Ninguém sabe. Porque é que não usamos as tecnologias de ponta em que a própria pessoa possa acompanhar? Este processo está nas mãos deste senhor, este senhor já leu, como nós temos no Whatsapp. Já leu, já viu esse processo, já assinou e só precisa de passar para aquele. O outro tem um prazo, porque legalmente o funcionário público tem um prazo para responder, mas depois se não houver transparência, ninguém sabe onde é que isso está. Portanto, este já leu, o outro vai ler e facilita. Para além disso, este Ministério da digitalização está incluído num Estado de vidro. O que nós queremos é o “Glass State”, que o Estado seja de vidro e que as pessoas consigam ver aquilo que está a acontecer no Estado. Isto facilita saber para onde é que  vão ser alocados os impostos dos portugueses porque o Estado não tem dinheiro, o Estado só tem o dinheiro dos impostos dos portugueses. E, depois, quando houver qualquer tipo de concessão pública ou privada, os cidadãos, também, poderem saber o que é que se está a passar e se faz sentido e também se é do benefício da sua vida e do país. Portanto, nós vemos isto como essencial: desburocratizar Portugal, e eu já disse isto várias vezes, é a chave de um Portugal de sucesso, porque temos tudo excessivamente burocrático. Estamos a falar para a educação, para as empresas, para as start-ups. E eu vou dar o exemplo. A minha mulher é holandesa e os pais da minha mulher vieram para cá e tiveram muita dificuldade. Para além disso, não houve um ajuste também da própria língua. O próprio sistema da administração pública tem, também, pelo menos, de ter a maior parte da documentação acessível em inglês. Essa é outra das nossas visões e queremos que Portugal vá nessa direção.

 

E considera então que a implementação deste ministério da digitalização ia contribuir para reduzir a morosidade dos tribunais, que é um dos principais problemas da justiça portuguesa?

Sem dúvida. Ia permitir reduzir a morosidade da justiça portuguesa, reduzir a despesa do Estado e, obviamente, isto permite que haja mais confiança dos portugueses. Vamos lá ver, se ninguém confiar que o seu dinheiro está a ser bem empregue, vai arranjar formas de não respeitar essa mesma identidade. Temos exemplos, no Luxemburgo ou mesmo na Holanda, em que as pessoas estão contentes por pagar os impostos, porque sabem que esse dinheiro vai ser bem alocado, e porque é transparente. Em Portugal, é tudo muito opaco e, portanto, sentem-se sempre prejudicados e, depois, temos aquele tipo de frase “São todos iguais” ou “Tudo mais do mesmo”, e continuamos nisto. Portanto, isto seria, para mim, os pilares da transparência, aumento de eficiência, para a própria mentalidade das pessoas mudar. Muitas vezes, acusam-nos erradamente, a nós portugueses, “Somos todos corruptos, isto é cultural”. Não é cultural, porque se os sistemas forem transparentes todas as pessoas se vão sentir, primeiro, próximas da decisão política, e, depois, que percebem para onde vai o seu dinheiro. Há uma lógica por trás da visão e da construção do país.

Ainda então no campo da transparência, e entrando um bocadinho mais para a justiça também, o Volt no seu programa fala de normas de delação premiada, quais seriam estas normas impostas nos casos de crimes financeiros?

Exato. O que nós queremos fazer é apertar mais na parte da justiça, crimes financeiros, corrupção. Queremos que haja um aumento do tempo de prescrição de crimes de corrupção, e queremos também um tribunal especializado nesse tipo de crimes. Sabemos que, infelizmente, continuam a haver crimes financeiros, em que as pessoas saem incólumes,  sem qualquer tipo de penalização, e isso não pode acontecer e, mais uma vez, isto integra a celeridade destes processos. Obviamente, que o sistema desse Estado Inteligente e a adaptação da digitalização, sempre protegido, que a informação tem que ser protegida, faria com que, porventura, muitos desses crimes tivessem pelo menos, menos incentivos aos cometerem, e que as pessoas que cometem esses crimes sejam punidas rapidamente, e que não haja esse sentimento de impunidade.

O Volt quer aumentar o período de prescrição, como referiu. Qual é o período que o partido acha mais adequado?

Em relação a esse tema, não sei qual é o período que nós queremos. Queremos é aumentar o período de prescrição de corrupção. A minha área é saúde. Eu não sei, prefiro não comentar sobre essa parte, mas sem dúvida que é um problema que existe em Portugal, e que tem de ser resolvido.

No campo da saúde, como classifica a gestão da pandemia pelo Governo de António Costa?

Eu não gosto de entrar em demagogias em relação à saúde. É uma coisa que nós temos que respeitar. Em termos internacionais, toda a gente deu o seu melhor, e eu acho que o António Costa, e todos os políticos, as pessoas envolvidas, deram o seu melhor, disso tenho a certeza. Agora, houve uma sobrecarga. E o próprio Sistema Nacional de Saúde tem algumas falhas, especialmente, nos acessos aos cuidados de saúde primários. Os cuidados de saúde primários são porta de entrada do SNS, e, se não tivermos esses cuidados de saúde primários fortes, há uma sobrecarga nas urgências e também nos serviços hospitalares. Neste momento, há falta de médicos de família. Os serviços médicos de família, neste momento, têm uma carga administrativa muito grande com o covid, os telefonemas que têm que fazer, a parte administrativa e não permite focar nesses pacientes. O que acontece ao não ter acesso aos cuidados de saúde primários, [as pessoas] vão recorrer às urgências sem critério. Obviamente que as pessoas querem algum tipo de conforto, de informação para se sentirem bem, mas continua a sobrecarregar. Portanto, o que é preciso fazer? É termos primeiros serviços de saúde mais outros profissionais de saúde, de medicina dentária, bem como outros tipos de profissionais. Termos exames complementares de diagnóstico, porque há em alguns centros de saúde que têm, mas não todos. E é importante porque ao diagnosticar, e ao haver prevenção, faz com que não haja sobrecarga também, e, para além de tudo, nós temos um problema de falta de médicos de família, especialmente, nas zonas do interior que têm sido esquecidas, mas é mais uma vez semelhante ao problema dos professores. Tem que haver incentivos superiores para as pessoas, e para os próprios profissionais, se puderem deslocar, e mudar a sua vida para essas regiões, e investir também nos próprios centros de saúde, que estão muitas vezes obsoletos no interior.

Durante a pandemia houve também uma maior implementação do teletrabalho. Tendo em conta que existem várias queixas relacionadas com impacto do teletrabalho na saúde mental, e que o Volt defende a existência de mais de teletrabalho. Em que moldes é que o Volt pretende que se institua o teletrabalho?

O Volt defende que o teletrabalho existe, é uma realidade e está para ficar. É preciso haver um equilíbrio entre o trabalho que, normalmente, se faria numa situação normal numa empresa ou noutro tipo de trabalho, que haja um respeito pelas horas familiares. O que é que acontece? No teletrabalho, as pessoas trabalham mais, porque não conseguem distinguir quando é que acaba o dia de trabalho, porque se tem a oportunidade de trabalhar, continuam a trabalhar. Portanto, nós defendemos que o teletrabalho é uma realidade, tem que ter medidas para não haver um uso por parte dos empregadores, para ver, também, um equilíbrio de vida pessoal e profissional maior, mas, ao mesmo tempo, nós, nessa parte dos cuidados de saúde mentail, temos, é uma das nossas medidas mais queridas, porque é uma pandemia que já existe há muito tempo, mas infelizmente em Portugal é estigmatizada, ninguém respeita As pessoas acusam, às vezes, que estão a sofrer de problemas de saúde mental e não conseguem compreender. O Volt defende rastreios obrigatórios dentro da própria empresa, obviamente sempre com sigilo, perceber como é que está a saúde mental. Isto tem que ser fiscalizado. Também as próprias condições de trabalho. Queremos implementar psicólogos para as crianças nas escolas, e reforçar os cuidados de saúde mental em Portugal, que têm sido um parente pobre do país, infelizmente.  

O Volt defende uma energia nuclear de nova geração. Onde e em que moldes seria introduzida a energia nuclear em Portugal?

Bem, o Volt, para começar, defende isso porque, mais uma vez, somos pragmáticos. A ambição do Volt é a redução dos gases de efeitos de estufa, em 2030, a 80% e, em 2040, a 100%. A União Europeia estabeleceu em 2050. Sem outro tipo de energia alternativa, estamos a falar de uma energia nuclear de terceira e quarta geração, que é a energia, pelas evidências científicas, mais limpa que existe. Obviamente que podemos falar sobre o lixo nuclear, para onde é que vai esse próprio lixo nuclear. Mas nós temos uma exigência superior a nível global. Portanto, o pragmatismo é aliar as energias renováveis com a energia nuclear, que, neste momento, é a energia mais segura e limpa. Temos, por exemplo, o caso da Alemanha, que decidiu investir no desfasamento da energia nuclear. Neste momento, estão a abrir centrais de carvão que são muito mais poluentes do que a própria energia nuclear e estão dependentes, mas isto já é mais geopolítica, da Rússia.. Vemos agora quase uma Segunda Guerra Fria e a Europa não tem meios de se mover. Portugal não pode continuar a ser muito dependente energeticamente, porque afeta também as nossas vidas, o custo da energia. Se me perguntar onde é que vai ser localizado, em que moldes será feito, isso tem que ser obviamente consertado pela sociedade, pelos especialistas, para depois percebermos em que moldes, e como é que vamos implementar também essa conciliação energética para as energias renováveis com a nuclear.

O Volt refere no programa a existência de benefícios fiscais a empresas, nomeadamente caso estas cumpram determinados requisitos. Em geral, o Volt defende uma redução da carga fiscal sobre as empresas e sobre os cidadãos?

O VOLT defende uma redução fiscal das empresas, ou seja, uma redução de IRC, e benefícios fiscais para as empresas que tenham um salário médio superior. Isto porquê? Nós não podemos continuar a aumentar o salário mínimo e depois não adequar o salário médio. Isto seriam incentivos às empresas a poderem pagar melhores salários e deem incentivos para fazerem. A mesma coisa acontece, já existe neste momento, mas gostávamos de reforçar é que se eu tiver sempre investimento por parte das empresas nos seus empregados, na parte da formação e no desenvolvimento, também, de outras áreas que sejam importantes na inovação e no desenvolvimento da empresa, que também receberiam os benefícios fiscais. Isto vai em linha de empresas que utilizassem energias consideradas verdes teriam também reduções fiscais. Isto tem que ser sempre aliado desses incentivos com os impostos aos portugueses um pouco mais baixos, mas sabemos que os portugueses também têm de ter impostos, porque o Estado tem outros serviços que têm de funcionar, mas obviamente o importante é aliarmos o renascimento económico com a proteção das pessoas e terem cuidados de saúde e de educação, que seja digna para todos.

Quais são os objetivos do Volt para estas eleições Legislativas?

Nós propusemos a eleição de um ou dois deputados nestas eleições para o Parlamento. Obviamente, sabemos que isso é ambicioso, mas como sabemos que a necessidade é tal do país de termos um partido que seja mais responsável, mais rigoroso, temos de apontar sempre para o melhor resultado e é esse. Temos de ser realistas. Nós sabemos que somos um partido pequeno, principalmente, em Portugal. Não queremos ser Governo amanhã. Queremos é ter algum tipo de voz para pudermos criar esse caminho que acreditamos que é o melhor caminho para Portugal, para ser um Portugal de futuro, líder da União Europeia, porque é isso mesmo que acreditamos.

Se conseguisse assentos no Parlamento, o VOLT sente que teria mais condições para levar a cabo o seu programa num governo de esquerda ou de direita?  

Ou seja, o Volt negociaria tanto com a direita, como com a esquerda se entendesse que podia alcançar essa questão da transparência?

Nós temos várias bandeiras que nos são importantes, por exemplo, dar voz aos cidadãos. Queremos criar Assembleias de cidadãos para aproximar os cidadãos das decisões políticas e ter regiões administrativas para haver mais independência e haver um alocamento estratégico e de recursos para poderem desenvolver essas áreas para não continuarem a ser áreas empobrecidas, em que as pessoas tenham dificuldades, as próprias empresas, a própria região. Portanto, tudo isso faz parte das nossas prioridades dessas bandeiras e depende da disponibilidade e do diálogo de parte a parte. Mas nunca pelos extremos. Nós nascemos contra os extremos.

Entrevista por Filipe Pereira e Inês Pinto Pereira; Texto por Filipe Pereira, Inês Pinto Pereira e Ricardo Terrinha; Revisto por Filipe Pereira e Inês Pinto Pereira