Política
Revolta cazaque demolida: o aviso ao mundo antes da invasão russa da Ucrânia.
No início do mês de janeiro, violentos protestos eclodiram em Almati, a capital do Cazaquistão. As demonstrações de insatisfação por parte dos populares fizeram-se ouvir por todo o mundo.
Estes protestos surgiram após o aumento do preço de combustíveis fósseis, dos quais a população cazaque depende para abastecer carros e aquecer as suas casas no inverno. Este recurso natural representa a principal fonte de rendimento do país, tornando-o basilar para a economia e para a vida dos seus 19 milhões de habitantes.
Independente após a queda da União Soviética, o Cazaquistão viu apenas um líder durante os primeiros 28 anos de existência. A longa governação de Nursultan Nazarbayev, ex-líder da então República Socialista Soviética Cazaque, levou a grandes investimentos estrangeiros. Em 2019, Nazarbayev abandonou o cargo, embora ainda possua poder não-oficial, deixando-o a cabo de Kassym-Jomart Tokayev dando, desta forma, continuidade ao regime.
No entanto, o crescimento económico prejudicou sobretudo a porção mais pobre da sociedade cazaque. A frustração da população foi crescendo e o aumento em 100% dos preços do gás natural liquidificado foi o ponto de rutura. Milhares de pessoas deslocaram-se para as ruas de Almati pedindo a demissão do governo e a diminuição dos preços do gás natural. Estes protestos tornaram-se rapidamente violentos.
A dimensão dos protestos fez com que o primeiro-ministro, Askar Mamin, apresentasse a demissão, aceite por Tokayev. No entanto, esta manobra política não surtiu os efeitos desejados, aumentando ainda mais a intensidade dos protestos, o que fez com que o presidente cazaque pedisse apoio à Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC – organização de antigos países soviéticos, à imagem da NATO, encabeçada pela Rússia).
Membros desta coligação entraram no Cazaquistão numa missão de paz, procurando silenciar os protestos e trazer ordem ao país. Contudo, relatos apontam para a morte de mais de 150 pessoas e registo de 6000 pessoas feridas. Informação entretanto desmentida pelo governo cazaque.
No dia 9 de Janeiro, Tokayev anunciou o regresso da ordem ao país 5 com o governo a retomar o controlo sobre edifícios estatais e os militares a trazerem ordem às ruas. Ao fim de um destacamento de 7 dias, as forças da OTSC regressam aos seus países de origem, após uma parada militar pelas ruas de Almati.
Autoridades estatais começam agora a perseguição dos possíveis responsáveis, afirmando ainda que houve influência internacional no despoletar das manifestações.
Já em 2021, manifestantes bielorrussos tentaram depor o regime da antiga república soviética. É portanto o segundo ano seguido em que ocorre uma tentativa de golpe de Estado no Cazaquistão.
Artigo da autoria de Luís Jacques de Sousa. Revisto por Filipe Pereira e Inês Pinto Pereira