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Política

Liberté, égalité, fraternité: Eleições francesas 22

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Fotografia: Pixabay

As eleições francesas aproximam-se. A primeira volta está marcada para o próximo dia 10 e a segunda para 24 de abril. Macron, que está há cinco anos no poder, depois de ter vencido as eleições presidenciais de 2017, pode renovar a confiança do eleitorado francês.

As sondagens realizadas pelo Politico aos 12 candidatos – sete já repetentes nesta corrida – até ao dia 17 de março, previam uma intenção de voto para Emmanuel Macron em 30%. Separada por 12 pontos percentuais nas intenções de voto, surgia a sua opositora, Marine Le Pen.

Dos 12, os que se destacaram ao longo das campanhas eleitorais na imprensa francesa e internacional foram: Marine Le Pen de extrema-direita, Jean-Luc Mélenchon de 70 anos de extrema-esquerda pelo partido La France Insoumise , Valérie Pécresse de 54 anos pelo partido Le Républicains de centro-direita, e Éric Zemmour de 63 anos da extrema-direita radical pelo partido Reconquête.

Um novo desafio

Após os tumultos dos coletes amarelos, a gestão pandémica – com as suas restrições – e uma guerra no leste europeu, Macron enfrenta agora um novo desafio.

No mês passado e distanciado em 18 pontos percentuais nas intenções de voto, Éric Zemmour é o candidato pela extrema-direita radical ao lugar presidencial. O ex-jornalista e comentador político começou por ganhar relevância política no canal francês CNews.

Além disso, marcou também presença em algumas rádios, televisões locais e vários programas da televisão francesa, ao longo dos anos. Crítico quanto à gestão pandémica, à presidência de Macron e para com a comunidade muçulmana residente no país, o autor do livro “O Suicídio Francês” começou pouco a pouco a ganhar o agrado e o investimento do eleitorado da extrema-direita.

Para Le Pen, a candidata de 53 anos pela Rassemblement National, Zemmour já não representa um problema, que ainda há uma mês atrás lhe causava perdas nas intenções de voto.

O candidato radical, numa tentativa de reafirmar e assegurar a sua posição política, afirmou num comício que Le Pen não é e nunca será a candidata ideal da direita. Tudo, devido ao seu fracasso em todas as eleições presidenciais a que se propôs, desde 2012.

Problemas à direita

Em novembro de 2021 ainda não havia certezas se Zemmour iria ou não concorrer, visto que carecia das 500 assinaturas (apenas deputados, senadores, presidentes de câmara e conselheiros regionais podem assinar), o mínimo necessário para concorrer às presidenciais. No entanto, numa entrevista para a Groupe Nice-Matin, em janeiro de 2022, Zemmour afirmou que alguns presidentes de câmara se mobilizaram para o ajudar.

O candidato disse ainda ter obtido promessas de apoio para com a sua candidatura. Contudo, não é apenas a Le Pen que o “nostálgico reacionário” francês da extrema-direita radical está a ser incómodo.

Para Valérie Pécresse , também este causa estragos. Numa tentativa de manter cativo o eleitorado da direita, a candidata conservadora decidiu tomar uma postura mais crítica perante as políticas europeias.

Num almoço para a elite parisiense, afirmou que a hegemonia alemã domina o foro europeu uma vez mais. Sendo necessário aos franceses conseguirem “recuperar a vantagem”, defendendo assim os interesses do seu próprio país.

Contudo, a candidata conservadora também enfrenta problemas internos, em resultado da enorme sombra que o antigo e ex-presidente da França Nicolas Sarkozy deixou no partido, bem como no seu primeiro grande comício, onde não marcou presença.

Problemas à esquerda

Começar com o pé esquerdo, nem à esquerda agradou. A esquerda ao perceber que não conseguia caminhar, devido à sua fragmentação, decidiu a 30 de janeiro deste ano organizar um encontro intitulado de “People’s Primary”.

O sentido era de criar um bloco único da esquerda, com um único candidato presidencial, para assim enfrentar Macron e os restantes candidatos.

No encontro estavam presentes Yannick Jadot pelo partido Verde; o Novo Partido Anticapitalista liderado por Philippe Poutou; Anne Hidalgo pelo Partido Socialista francês, Jean-Luc Mélenchon e Chrisiane Taubira por Walwari, partido que fundou.

Apesar do sucesso do encontro, que contou com a participação de 400.000 franceses, e da vitória de Taubira para encabeçar a esquerda francesa, o fracasso viria depois. Três dos candidatos recusaram o resultado. Hidalgo, Mélenchon e Jadot descreveram o momento como uma farsa política e como uma  forma de promover as suas ideias e partido.

A guerra do leste europeu e a visão de Macron da França para a Europa

Apelidado pela opinião pública de Napoleão, por ser o mais jovem e novo líder político francês, Macron pagou um alto preço para que a sua ascensão política pudesse acontecer. Depois de abandonar o Partido Socialista, bem como o histórico socialista François Holland, o presidente francês conseguia assim concorrer ao mais alto cargo político do país em 2017.

No dia 17 de março e após um período mais conturbado de negociações com Putin, Macron organizou uma conferência de imprensa. O objetivo era apresentar o seu projeto presidencial para a França com fortes ligações europeístas.

Na visão de Emmanuel Macron para a França de 2022 ficaram destacados os principais objetivos eleitorais: ser o primeiro país europeu a terminar com a dependência do gás e do petróleo com o compromisso da construção de seis novos reatores nucleares até 2050 e com uma maior utilização da energia solar; nacionalizar várias empresas energéticas, retomando assim o controlo capitalista  do setor; reforma na defesa do país com a promessa de 50 mil milhões de euros anuais para a área até 2025; aumento da idade da reforma para os 65 anos; tornar públicas as avaliações escolares para apurar o trabalho dos professores, bem como uma maior autonomia para as escolas e uma oferta profissional mais aberta para as empresas para a contratação jovem.

Contudo e apesar das medidas centro-liberais propostas por Macron e os dotes diplomáticos para conter a guerra do leste europeu, a taxa de aprovação e de votos físicos, não representará a mesma que obteve aquando da primeira ou segunda volta em 2017.  Os poderes presidenciais, são de enorme responsabilidade e uma derrota a Macron, poderá representar o fim dos projetos e ambições europeias, uma vez que Le Pen numa reviravolta e intensificação nos seus discursos finais conseguiu aumentar a vantagem face a Macron. Atualmente encontra-se apenas com uma diferença de três pontos percentuais, em segundo lugar.

Artigo por Diogo de Sousa. Revisto por Filipe Pereira e Inês Pinto Pereira