Política

MAÇONARIA: SILÊNCIO OU DISCRIÇÃO?

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Este é o segundo e último artigo que o JUP dedica esta quinzena à maçonaria portuguesa e às questões da liberdade.

O SILÊNCIO MAÇÓNICO

António Rocha Fadista, maçom brasileiro da Loja Cayrú Brasil e teórico sobre o tema, afirma que a maçonaria “reserva o silêncio aos seus membros” de forma a “estimular os Irmãos a desenvolver a arte de pensar”. São várias as obediências maçónicas que defendem a “Lei Iniciática do Silêncio”, onde o silêncio é fundamental no “processo de aperfeiçoamento interno” dos maçons.

Rocha Fadista estabelece uma relação entre o silêncio e a liberdade de expressão à luz da maçonaria: “Ao cruzar as portas de uma loja maçónica, trazendo consigo a liberdade total de expressão, um direito natural que lhe é garantido pela Declaração dos Direitos Humanos (…), o novo maçom aprende a controlar os seus impulsos, pela prática espartana do silêncio.”

 

SECRETISMO OU DISCRIÇÃO?

Vulgarmente usa-se o conceito de “secretismo” para caracterizar uma obediência maçónica. No entanto, este conceito é completamente rejeitado pelo grão-mestre da Grande Loja Simbólica de Portugal. “Não é o secretismo, é discrição. Já não existem sociedades secretas. Mas a discrição é somente pela tradição maçónica, não é mais que isso.”

O maçom defende que “não é uma questão de andar a esconder”. “Os maçons são pessoas normais”, ressalva. Rangel admite o preconceito social, mas defende a posição maçónica: “Simplesmente transmite-se à sociedade de uma forma discreta. Cada um de nós, enquanto maçons, deve apresentar-se de uma forma muito discreta e muito subtil.”

O maçom afasta a possibilidade de existir um “lobby maçónico”. “Não há uma tentativa de poder da parte da Maçonaria. Não há nada disso. Simplesmente pela tradição maçónica devemos ser discretos.”

Concordando na vertente histórica, António José Vilela acredita que o secretismo das organizações maçónicas assenta na sua mística tradicional e não na atual necessidade de serem secretas. “Há toda uma tradição que motiva estas organizações a criarem um ambiente secreto à volta delas”, afirma. “As pessoas [na maçonaria] vivem pelo segredo“, que funciona como uma “forma de vida” para os maçons.

Terá o secretismo sido “mitificado”? António Reis defende que sim, uma vez que na Internet se encontra tudo que tenha a ver com os segredos maçónicos, inclusive listas de maçons. O maçom defende que o secretismo de que se fala está relacionado com os “segredos interiores” e com a maneira que têm de viver os valores, com iniciação e o caminho de aperfeiçoamento moral.

A verdade é que a maçonaria pode ter representação na sociedade civil. O Grande Oriente Lusitano faz-se representar através do Grémio Lusitano, sede na cidade de Lisboa.

As grandes obediências maçónicas portuguesas disponibilizam ainda visitas ao seu património histórico, sejam monumentos, museus ou bibliotecas. O espólio intelectual destas entidades é vastíssimo, dado o número de documentos e obras maçónicas disponíveis nas suas estantes. A Biblioteca do Grémio Lusitano conta com numerosas monografias, folhetos, revistas, anuários e uma panóplia de documentos da maçonaria portuguesa e estrangeira a partir do século XVIII.

No entanto, António José Vilela aponta que o “mundo maçónico esconde ainda muita coisa” que é necessário e “importante que a sociedade conheça”. O escritor e jornalista da revista Sábado fez várias investigações sobre a maçonaria, que culminaram na publicação do livro “Segredos da Maçonaria Portuguesa”. Com base nestas pesquisas afirma que “a maçonaria portuguesa tem várias publicações partilhadas com o público, mas há muitos documentos importantes que poucos sabem da existência. Mesmo dentro da maçonaria o acesso é limitado a certos documentos”.

José Vilela conclui que a maçonaria portuguesa é extremamente fechada, em comparação com os grupos maçónicos brasileiros ou franceses.

 

A maçonaria preconiza os três ideais base da Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade. No entanto, até que ponto o secretismo/discrição das organizações maçónicas constitui um entrave à informação veiculada para a sociedade? Em que medida tal condiciona a liberdade de expressão e de informação?

Pedro Rangel apoia-se na interpretação maçónica da história: “Os maçons estiveram contra os regimes nazis na Europa. Os Direitos do Homem foram feitos por maçons, na sua maioria.” Neste sentido, o grão-mestre da Loja Simbólica acredita que, nos dias de hoje, “os maçons têm um dever cívico na defesa da liberdade de cada um” e que este é cumprido. “Muitos deles pagaram com a vida a defesa da liberdade em todo o mundo e em Portugal”.

Em entrevista ao JUP, António José Vilela defendeu que a maçonaria não precisa de ser completamente aberta, mas que deveria permitir que a comunicação social conheça os seus meandros, naquilo que acredita ser o exercício correto da democracia e de um estado livre, com liberdade de expressão e comunicação.

“A maçonaria não é só aqueles rituais, cerimónias e formalidades. (…) A sua abertura acabaria com esta especulação” e com as noções erradas que se formam, porque há muito que é desconhecido, afirma.

 

MAÇONARIA PORTUGUESA EM DEFESA DO CHARLIE HEBDO

A maçonaria portuguesa reagiu publicamente de forma conjunta ao atentado ao jornal satírico francês Charlie Hebdo, em janeiro. O comunicado, assinado pelo Grande Oriente Lusitano, Grande Loja Legal de Portugal, Grande Loja Feminina de Portugal, Federação Portuguesa da Ordem Maçónica Mixta Internacional “Le Droit Humain” e pela Grande Loja Simbólica de Portugal, condena o “crime hediondo”.

As entidades maçónicas consideraram o atentado de Paris um ataque à democracia e defenderam a liberdade de expressão. “Os maçons reiteram o seu compromisso na defesa indefectível da total e absoluta liberdade de consciência, da liberdade de expressão, em particular a liberdade de imprensa”, pode ler-se no comunicado de 8 de janeiro de 2015.

O grão-mestre do GOL enviou ainda uma carta ao presidente francês, François Hollande, na qual defendeu os direitos da revolução francesa. Fernando Lima considerou “a ignorância, a intolerância e a barbárie” os verdadeiros culpados pelo atentado e os principais inimigos da democracia.

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