Política

Pacto de segurança AUKUS e o impacto nas ambições Chinesas

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Acordo foi assinado a 15 de setembro de 2021 (Fonte: Van Guy Nguyen/FLICKR)

No passado mês de setembro, os Estados Unidos da América, o Reino Unido e a Austrália oficializaram o pacto de segurança AUKUS. Este pacto abrange várias dimensões, mas pretende sobretudo reforçar a cooperação diplomática, em matérias de segurança e defesa. A cooperação é baseada na partilha de informação e tecnologia, relevante para o desenvolvimento de um conjunto de sistemas de cibersegurança, de inteligência artificial, tecnologia quântica e de melhores recursos submarinos como radares e drones, com o intuito de sofisticar as defesas militares do Indo-Pacífico.

Uma das principais motivações apontadas para a concretização do pacto, é o crescimento económico chinês sem precedentes devido à respetiva dimensão, e  visão de políticas externas que tem sido fundamentada em expansionismo e coação das nações vizinhas.

Os participantes do acordo, com especial atenção dos Estados Unidos da América pretendem conter o expansionismo chinês, e nas palavras de Stephen Walt da Universidade de Harvard “desencorajar ou frustrar qualquer tentativa chinesa de hegemonia regional”.

A motivação australiana para procurar o antigo aliado do outro lado do pacífico, foram os constantes conflitos com o seu maior parceiro comercial, a China. O início destes conflitos teve como origem a entrada em vigor de legislação que visa proteger a Austrália da influência externa dos Estados parceiros nas políticas do país, culminando num histórico embargo chinês em 2020.

Contudo, a  maior indignação foi manifestada na Europa. A França encarou o pacto de segurança como um insulto nacional, uma vez que o acordo contempla a compra de oito submarinos nucleares aos Estados Unidos da América.O protesto é motivado pelo facto de em 2016 ter sido acordado entre os Governos Australiano e Francês a compra dos seus próprios submarinos híbridos (Diesel-elétricos), acordo esse que forçosamente não vai ser respeitado.

Estima-se que a operação fosse na ordem dos múltiplos milhares de milhões de euros, e portanto, não foi bem aceite pelo executivo de Emmanuel Macron que condenou as ações dos países envolvidos e ordenou o regresso dos embaixadores de Washington e Camberra, entretanto já regressados. A consequência geopolítica mais importante deste acontecimento, pode ser o início de uma maior independência militar europeia, coordenada por Macron e apoiada pelo presidente dos Estados Unidos da América, Joe Biden.

A reação chinesa foi através do porta-voz do Governo, Zhao Lijian. O porta-voz “afetou gravemente a paz e a estabilidade da região, intensificou uma corrida às armas e impactou os esforços internacionais de não proliferação (nuclear)”.

No dia seguinte à revelação do AUKUS, o governo chinês decide tomar uma ação de  compromisso na convergência de interesses económicos apresentando uma candidatura que se revelaria falhada (devido aos direitos laborais vigentes no país), ao Comprehensive and Progressive Agreement for Trans-Pacific Partnership (CPTPP), um acordo que facilita o comércio internacional entre os seus membros.

A reação de outros países como alguns dos membros da Association of Southeast Asian Nations (ASEAN), associação que compreende países do Sudeste Asiático, do Japão e de Taiwan, foi no geral positiva, uma vez que o pacto constitui mais um potencial obstáculo às iniciativas militares e da marinha chinesa contra os países do mar da China, o que expõe o número reduzido de aliados da China.

Os submarinos nucleares adquiridos pela Austrália serão no futuro, um dos grandes trunfos da nação contra o governo chinês. Comparativamente com os submarinos híbridos, os mesmos com fonte de energia nuclear têm maior autonomia e permitem ficar submersos mais tempo, o que é uma projeção de força no sentido que têm maiores possibilidades de controlo do tráfego marítimo e até alcance para atingir através de mísseis, a costa da China.

Esta “guerra fria” pode ser prolongada devido a dois fatores fundamentais: primeiramente, a possibilidade de ultrapassagem do PIB americano pelo chinês já em 2031,segundo previsão da Bloomberg Economics e a extensão da sua influência venha invariavelmente a crescer.

Em segunda instância e a um nível mais emocional, é uma narrativa que prolifera na China. Que o século de humilhação que começou com a entrega de Hong Kong ao Império Britânico em 1842 e que terminou em 1949 com a ascensão definitiva de Mao Tsé-Tung ao poder, que foi marcado pela subjugação dos chineses aos poderes do ocidente jamais poderia voltar a acontecer. 

Artigo da autoria de Hugo Teixeira. Revisto por Filipe Pereira e Inês Pinto Pereira

 

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