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Sociedade

CONGRESSO DISCUTE 40 ANOS DA DEMOCRACIA PORTUGUESA

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No momento em que se cumprem 40 anos da revolução democrática do 25 de abril de 1974, o Congresso mobilizou dezenas de investigadores, divididos em seis painéis temáticos, de diversas áreas científicas, que discutiram e analisaram as transformações ocorridas na sociedade portuguesa.

Para além de serem abordadas as mudanças (ou não) que ocorreram depois de 1974, foram, também, discutidos outros temas, entre eles a questão das ditaduras existentes no século passado. No painel “Estado e Memória”, moderado pelo professor Manuel Loff, este tema foi lançado por Julián Casanova, investigador da Universidade de Saragoça, que referiu o franquismo como o primeiro regime ditatorial onde o número de mortes foi exorbitante. O investigador espanhol comparou, ainda, as ditaduras fascistas às antifascistas, referindo que a cultura política de violência dos dois lados se assemelha. De Espanha para o lado Leste da Europa, o investigador falou de casos como o da Hungria, e rematou com o facto de, depois dos anos 50 do século passado, se ter passado a usar o fascismo para apontar o dedo ao comunismo. Xosé Seixas, da Universidade de Santiago de Compostela, corroborou com a ideia do orador anterior, tomando como exemplo a II Guerra Mundial.

A educação em Portugal também não foi esquecida ao longo do congresso. No painel “Práticas e políticas”, foi referido que a evolução é notável, mas pode ter ficado aquém do esperado. Cristina Ribeiro, professora da Escola Superior de Educação, aludiu ao facto de a educação não poder ser “esfrangalhada”. Mas, referiu que os jovens, nas últimas quatro décadas, transitaram de um estado passivo para um estado ativo, procurando a participação, a igualdade e o respeito. O futebol não podia ter ficado de fora do congresso e foi lançada a pergunta se, em Portugal, a relação entre o futebol e a política mudou assim tanto nos últimos 40 anos. Segundo, Francisco Pinheiro, investigador da Universidade Nova de Lisboa, esta relação não mudou tanto como se pode pensar. O investigador referiu que a segurança nos estádios é maior nos dias de hoje e que, a popularidade desta modalidade não vem de agora, apesar de o público ter mudado.

O painel “Media e Revolução” analisou, na manhã de sábado, a revolução no panorama da comunicação e dos media em Portugal, ao nível da liberdade de opinião e de imprensa e das grandes transformações tecnológicas. Foram ainda discutidos os papéis dos diferentes media na comunicação e na educação da população nestes 40 anos de regime democrático.

A conferência de Ana Isabel Reis e Helena Lima, “A rádio e o 25 de Abril: formatos noticiosos, fontes e sons da Revolução” abriu os trabalhos. Ana Isabel Reis, docente do curso de Ciências da Comunicação da UP, realçou o dinamismo da rádio, suportado pelas rádios piratas, que escapavam ao controlo da censura, e o papel do Rádio Clube Português e da Rádio Renascença nas comunicações entre os militares e na informação da população.

Salientou ainda o facto de não haver nenhum estudo específico sobre o papel da rádio no 25 de Abril, dado a importância conhecida no comando do golpe de Estado no acompanhamento em direto dos acontecimentos. “Provavelmente a revolução não teria sido a mesma sem a intervenção dos jornalistas, locutores e da rádio”, afirmou Ana Isabel Reis, consciente da “constante identificação do repórter com o que a população sentia”, o que resultava em reportagens descritivas dos populares.

De regresso ao desporto, Francisco Pinheiro, “Mãos lavadas – uma ideia de jornalismo desportivo no período revolucionário”, expôs a posição dos jornais desportivos durante o Estado Novo e na pós-revolução. Explicou ainda “as mãos lavadas” do jornalismo desportivo, defendendo o não comprometimento com o regime.

À semelhança das rádios, este media não era sujeito a controlo da censura. O futebol era matéria de destaque nos jornais desportivos, refletido nos três “F” do Fascismo: Fado, Futebol e Fátima. Sobre o Estado Novo não ter dado cultivado o gosto pela cultura nos portugueses, Francisco Pinheiro refere que a opinião pública culpabiliza o futebol.

No final das intervenções, discutiu-se a necessidade de pesquisa sobre a imprensa do século XX, bem como a falta de financiamento para o desenvolvimento de investigação científica.

Seguiu-se a palestra performativa de Joana Craveiro, “Quando é que a Revolução acabou?”. A palestrante narrou experiências pessoais, servindo-se de objetos, construindo o olhar da população sobre a revolução. Disse ainda que muito sobre a Revolução está ainda por descobrir, porque “muitos ainda não falaram”.

Licínio Lima, Professor Catedrático na Universidade do Minho, encerrou o congresso com a conferência plenária: “Democracia política e democratização da Educação em Portugal (1974-2014)”. Como pontos principais, Licínio Lima destacou o facto da democracia portuguesa ser ainda muito jovem, pelo que a democratização da educação é um processo moroso. A “democratização da educação é o nosso problema”, apontando ainda que o “desmantelamento do estado social” e a “crise da jovem democracia portuguesa” têm dificultado o processo.

A sessão de encerramento do Congresso Portugal, 40 anos de democracia contou com a atuação de três alunos finalistas do Conservatório de Música do Porto. Com o saudosismo da revolução, “Grandola Vila Morena” ecoou no anfiteatro da FPCEUP e levantou uma plateia que sentiu a força de todos os portugueses que, há 40 anos, testemunharam o início da democracia portuguesa.

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