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Sociedade

“CONTINUAR A FAZER BEM ÀS PESSOAS É O MEU GRANDE OBJETIVO”

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Estava no 2.º ano da licenciatura em Gestão, na FEP, e fazia parte da presidência da shARE, uma organização da Universidade do Porto cujo objetivo é desenvolver competências pessoais e profissionais. Foi aí que foi convidado para fazer parte da U.Dream, a ser criada na altura. “Foi-me apresentado como um projeto que realizava sonhos de crianças. Num primeiro momento, achei que ia ser giro, e era apenas isso. Sempre gostei de ajudar pessoas, achei que era um bom projeto para começar”, contou.

No entanto, a U.Dream – a primeira empresa social júnior do país, que alia o lado empresarial ao lado social como nenhuma outra no país o faz – cresceu. E hoje, “é provavelmente o emprego que vou ter para o resto da vida”. Diogo acredita que a U.Dream é, para além da sua “faculdade da vida,” uma verdadeira “máquina de mudar o mundo”; muda a vida das famílias e crianças que acompanha, muda a vida dos membros que nela trabalham e muda a vida da comunidade, através de atividades e eventos dinamizados pela e para a cidade do Porto.

Como ex-diretor de Relações Externas e atual Presidente desta empresa, que utiliza os conhecimentos dos estudantes e os transforma em sonhos, Diogo afirma que o maior desafio que enfrenta é gerir pessoas. “As motivações, dar as funções certas (…) Estamos a trabalhar com sentimentos. Fazer as pessoas todas estarem bem é um desafio brutal.” Acrescenta ainda que dar a cara pelo que defende, como muitas vezes teve que fazer, acompanhar crianças numa fase terminal e gerir os objetivos da organização são igualmente grandes desafios. No entanto, também há o reverso da moeda: a compensação de encher salas com eventos da U.Dream, os laços que fortalece com as pessoas com quem trabalha, pelos momentos que vivem e pelos objetivos conjuntos e também, os laços que se estabelecem com as famílias das crianças, de quem se tornam uma espécie de melhor amigo. “São coisas que ficam na tua memória para sempre”, afirma.

No verão de 2014, após um ano letivo de preparação e formação no GAS’África, Diogo rumou para Cabo Verde, para dois meses de voluntariado num dos bairros mais problemáticos da cidade. Chegado lá, percebeu que aquele bairro era “como uma mini-favela”. “Não têm luz, não têm água, não têm educação, existem muitos problemas sociais”, explica.

Após um primeiro processo de adaptação para perceber a cultura local e como as pessoas processam o que se passa à volta delas e um mês a dar formações, Diogo percebeu que era difícil fazer, efetivamente, a diferença e “mudar o mundo” para aquelas pessoas, e muitas das suas tentativas não surtiam efeitos. “Já estava a ficar desesperado”. Foi quando falou com o líder do grupo que percebeu que a diferença se fazia com as coisas mínimas: “o mais importante”, disse-lhe, “era simplesmente estar lá”. Não eram os conhecimentos adquiridos na faculdade, os conteúdos do seu disco rígido ou as formações que dava, mas sim “brincar com os mais pequeninos e explicar-lhes de forma natural o porquê de terem de fazer as pazes, as conversas com os mais crescidos, a forma como lhes fazia ver a educação e lhes falava da nossa cultura (…) era aquilo que os fazia sonhar e ter esperança num futuro melhor”, como refere. Chegado a Portugal, sentiu que recebeu mais do aquilo que deu, mas o verdadeiro benefício da sua estadia lá foi aquilo que não se consegue mesurar: a educação, a troca de amor e carinho e a companhia.

Como coordenador de formação do ano letivo seguinte, Diogo Mendes tentou que os  voluntários encontrassem na formação “a força mental e as defesas que tu podes criar para quando lá chegares as coisas correrem bem”. Apoiado nos quatro pilares do GAS: comunidade, serviço, oração e simplicidade, tentou formar aquele grupo com que se deparou para ser coeso, orientado pelos princípios certos e capaz de partilhar e agradecer, no fim do dia. O grande desafio desta aventura, para Diogo, foi o último pilar: a simplicidade, um exercício “de desprovimento total” e fruto de muita “força mental e coletiva” para que tudo resulte, numa realidade em que não é preciso muito mais do que água para tomar banho, comida e um lugar para dormir.

Em relação ao seu futuro, Diogo garante que “a U.dream é um projeto que está longe de terminar” e que, nos próximos três anos, “é um projeto ao qual eu me vou dedicar até garantir a expansão nacional”, sendo que irá assumir funções na U.Dream Portugal, juntamente com Diogo Cruz e Bernardo Alba. “Nos próximos tempos nós os três vamos replicar aquilo que aconteceu no Porto noutras cidades; já começamos em Braga, depois vamos passar para Aveiro, Coimbra e Lisboa. Depois a partir daí não sei, provavelmente vamos encontrar outra forma qualquer de fazer bem às pessoas”, afirma.

Nesta fase da sua vida, Diogo valoriza mais o tempo que tem para si e para passar com a sua família. Apesar de tudo o que já conseguiu, o sucesso não se alcança sem esforço e alguns sacrifícios e isso para ele não foi exceção: “ abdiquei de muita coisa concreta e de muitas coisas que me magoaram imenso, mas no fim de contas tinha de ser, não consigo olhar para trás e pensar que perdi aquilo, ainda que tivesse efetivamente perdido”.

Diogo acredita que as pessoas começam a perceber que é importante ajudarem-se umas às outras e que o associativismo social e voluntariado em geral “têm vindo a crescer nos últimos tempos e cada vez vão crescer mais, não só pelo estado atual do nosso país, mas porque a mentalidade das pessoas começa de alguma forma a juntar-se nesse ponto”.

Assim, tal como o lema do GAS’Africa, defende que “o que não deres, perde-se” e que é através da educação que podemos mudar mentalidades e, consequentemente, “criar oportunidades para fazer os outros felizes e sermos nós, também, felizes”.

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