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COMO VAI CRESCER A GERAÇÃO DE CRIANÇAS REFUGIADAS?

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A Universidade Católica foi palco discussão sobre as crianças refugiadas. Na sessão, estiveram presentes Bernardo Pires Lima, investigador do Instituto de Política e Relações Internacionais da U.Nova, Mariana Barbosa, docente da faculdade que acolheu a conferência e Madalena Marçal Grilo, atual diretora da UNICEF Portugal.

O primeiro orador, Bernardo Pires Lima – investigador do Instituto de Política e Relações Internacionais da U.Nova, comentador de política internacional e autor, focou-se essencialmente na estrutura geopolítica do Médio Oriente e nos conflitos gerados pela religião e etnias.

Para Bernardo Pires Lima, estamos perante uma crise humanitária dividida em várias guerras, que tomam local “em várias Sírias”, como explica. Estamos, atualmente, perante um país completamente dividido. A política confunde-se com a religião. O investigador considera que “a Síria está para esta época como o Afeganistão estava para os anos 80”. No Médio Oriente, “o que é religioso é político”, afirma.

O orador questionou-se ainda quanto à atuação dos principais líderes europeus e à recetividade dos comuns cidadãos europeus quanto aos refugiados. A importância de distinguir vaga de refugiados com uma crise migratória ou financeira continua a ser relevante, tal como perceber que metade dos refugiados chegados à Europa são crianças – “como atribuir-lhes a característica de terroristas?”, questiona.

Na opinião de Bernardo, o discurso europeu tem sido, maioritariamente, à volta de questões financeiras e não há qualquer preparação política para uma ação efetiva e eficiente – porque, como afirma, os políticos europeus discursam focados “na bolha de Bruxelas”, alheios à realidade mundial.

Não crê que os Estados Unidos tenham um papel preponderante: “Já não são um desbloqueador de conflitos nem na Europa, nem no Médio Oriente, nem no lado nenhum”, considera.

Assim, para Bernardo, a prioridade desta crise deve ser humanitária e só depois geopolítica. É urgente, em primeira instância, acolher estas crianças e as suas famílias e garantir-lhes orientação e apoio.

Mariana Barbosa, docente da Faculdade que acolheu a conferência, foi a segunda oradora da tarde. Tendo feito voluntariado em Lesbos, uma das regiões que recebe barcos de refugiados fugidos da guerra, testemunhou o que viveu e viu através de fotos e textos que tirou e escreveu enquanto presente nesta ilha, perto do mar Egeu. Durante algumas semanas, deu apoio a famílias que se aventuram em viagens perigosas por preços exorbitantes, pois não tiveram a sorte de nascer do lado certo, “com o visto certo”. Testemunhou uma realidade fria, com coletes vazios, mortes por hipotermia, famílias desfeitas.

As ações de voluntariado independentes e não especializadas ou ligadas a ONG’s específicas requerem, como Mariana explicou, “o que for necessário”. Para além de receber os refugiados à beira-mar e dar-lhes conforto, pondo em prática a vertente da psicologia, Mariana ajudou também nas necessidades básicas de que estas famílias precisam, quando chegadas a um sítio desconhecido, fugidas de um cenário violento e perturbador. As que sobrevivem, diz, “estão na maioria das situações, em choque ou desorientadas”. “Se a alternativa é morrer, é melhor arriscar sobreviver”, testemunhou.

Numa Grécia entregue a si própria para lidar com esta catástrofe, “pertencente à UE apenas para questões da crise economia”, Mariana garante que “neste momento, lidamos com os refugiados assim: com arame farpado e gás pimenta. E assim caem por terra valores europeus como a Humanidade.”

No meio da crise, a “geração perdida”

Apesar da evidente falta de recursos e do cenário negro que Mariana Barbosa assistiu e cujas consequências tentou ajudar a colmatar, a docente afirma que, no meio de todo o sofrimento, ainda há esperança, evidente numa geração: as crianças.

Com iniciativas promovidas pelas ONG’S para criar sorrisos nos mais novos, um dos papéis mais importantes no terreno é, por isso, orientar esta geração obrigada a sair da realidade que conhecia, atravessar um oceano, tendo a sorte de não utilizar um dos muitos coletes falsos que são encontrados e ser afastada das famílias.

A atual diretora da UNICEF Portugal, Madalena Marçal Grilo, foi a terceira e última oradora da tarde. Apresentou dados quantitativos importantes e orientadores relativamente aos refugiados e explicou o trabalho da UNICEF com as crianças, a principal preocupação da organização.

Dos 4 milhões de refugiados oriundos da guerra na Síria, exatamente metade são crianças. Nas regiões circundantes, 14 milhões foram e são ainda afetados pela guerra. No Líbano, uma em cada 3 crianças são refugiadas. Além disso, analisando o número de refugiados que chegam à Europa, é possível verificar que a taxa de mulheres e crianças tem aumentado progressivamente.

A questão que Madalena coloca é: o que vai acontecer a esta geração de crianças? Ameaçadas por conflitos e deslocações forçadas, são vítimas de uma violência diária extrema e não vão à escola. Explica que sem educação, as crianças tornam-se mais frágeis e facilmente manipuláveis.

A UNICEF tem como principal missão tentar evitar uma futura geração perdida na Síria, pensando no futuro e insistindo na educação destas crianças, como “uma forma de introduzir normalidade na vida delas e, até, de as proteger”, refere.

Após as três intervenções, seguiu-se um debate com questões do público respondidas pelos três oradores e foram passados vídeos sobre a Guerra e a vida das crianças num campo de refugiados.

No final, foi evidente a linha condutora do discurso e ação dos três oradores: a necessidade de atuar perante esta crise de valores e defender os direitos humanos, numa Europa que, como Madalena afirmou “lida com esta situação de forma extremamente ligeira”.

“A ajuda humanitária, indispensável e urgente, não vai resolver uma tragédia política e religiosa”. É fundamental, então, implementar ações de urgência, racionais e eficazes, apostando na educação e na defesa da Humanidade, ao invés de priorizar as questões geopolíticas, concluíram.

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