Sociedade
“MAIS IMPORTANTE QUE MOSTRAR OS ERROS, É MOSTRAR QUE HÁ CAMINHOS”
A Câmara do Porto recebeu a visita da Secretária de Estado Ana Sofia Antunes que, assim que tomou posse, quis conhecer de uma forma mais próxima o que está a ser feito em cada município relativamente à temática da Inclusão. Ana Sofia Antunes apelou à necessidade de trabalhar e implementar novos projetos, que variam bastante de cidade para cidade.
No caso da Invicta, a Provedora Municipal dos Cidadãos com Deficiência, Lia Ferreira, confessou que “estamos um bocadinho à frente”, uma vez que se desenvolve continuamente uma série de projetos a nível da cidade e das suas infraestruturas, sem esquecer também a vertente social.
A melhoria da acessibilidade no espaço urbano é uma constante preocupação para a Provedoria, que aposta em adaptações de várias estruturas das ruas, como os passeios, passadeiras e até o próprio pavimento. “Numa cidade muito virada para o automóvel e os transportes, o peão acabou por passar para segundo plano, e há agora a necessidade de reverter esse processo”, refere.
Os edifícios, novos ou já existentes, também são alvo de reformulações. A autarquia tem aqui um papel de verificação e do que pode ser feito ao nível das estruturas, de forma a tornar os espaços usufruíveis por todos, embora não adote uma postura de sanção, mas de esclarecimento. Acredita que é o desconhecimento que muitas vezes os erros são cometidos.
A melhoria nos acessos aos transportes continuará a ser alvo de uma especial atenção, dando seguimento ao projeto Sistema de Itinerários Acessíveis (SIA), inaugurado em finais de 2013, que atua ao nível do Metro do Porto. Através de um portal online, os cidadãos podem consultar quais os melhores itinerários com o menor número de obstáculos.
É, então, possível escolher o percurso que melhor se adapte às necessidades e dificuldades específicas de cada cidadão. Mas este mapa não se resume somente às linhas do metro: o perímetro é alargado de forma a ser possível conhecer outros espaços na cidade que estão já em boas condições de acessibilidade. Ao longo deste ano, este projeto terá uma atualização, fornecendo informação mais completa.
A autarquia aposta em projetos para a inclusão
Para além da adaptação urbana, a Provedora não limita o trabalho que foi desenvolvido: “tem-se dedicado especial atenção à sensibilização, à consciencialização de que há outros caminhos”, afirma.
Para encontrar esses caminhos, foi realizado o ano passado o ciclo “Acesso”, dividido em quatro momentos e temas, mas que, em conjunto, contribuíram para criar momentos de reflexão. O evento contou com a presença de empresas criadoras de produtos capazes de resolver os problemas de cidadãos com deficiência, de investigadores que debateram o abandono académico de estudantes com necessidades especiais, mas também contou com workshops e com a exposição de sapatos desenhados por estudantes de Design Industrial, e que pudessem ser utilizados por crianças portadoras de paralisia cerebral.
O último momento do “Acesso” dedicou-se ao património e à cultura, que apresentou a requalificação da Igreja dos Clérigos, cumprindo o objetivo de mostrar que também os edifícios históricos podem tornar-se inclusivos.
Foi inaugurada uma sala, projetada pela Câmara, onde foi implementada uma estrutura com sete ecrãs que permitem ver em tempo real, o que pode ser visto no cimo da Torre. “Como era de todo impossível adaptar a Torre para possibilitar a subida, trouxemos a Torre cá abaixo. Temos a imagem do que se vê do cimo, com os ecrãs táteis que disponibilizam informação histórica acerca dos monumentos vistos. Além disso, também possuem som”, especifica Lia Ferreira.
Para 2016, a Provedoria promete continuar o objetivo de consciencialização de novos caminhos e alternativas que promovam a Inclusão de todos os cidadãos na cidade. Com o envolvimento de todos os serviços da Câmara, o trabalho promete tornar-se mais interventivo.
Em conjunto com o Pelouro da Educação, será introduzido em algumas escolas um projeto piloto que tem como ponto de partida o Design como forma de incluir a criança. Apesar de ainda não estar oficializado por completo, tudo aponta para que o projeto seja implementado pelo menos em três escolas, de forma experimental. Após serem conhecidos os aspetos positivos e melhorados os negativos, será expandido para um maior número de alunos.
Para o final do ano, está a ser organizado um congresso internacional dedicado exclusivamente ao Desporto Adaptado, área que a autarquia tem dado apoio e investimento, a fim de tornar esta prática muito mais aceite e dinamizada. Estarão presentes desportistas e especialistas da área, que permitirão dar a conhecer novas experiências e técnicas, para os interessados que querem “aprender na prática, de forma a evitar o amadorismo que ainda existe”.
Todos os eventos e ações trabalham para um objetivo comum: desmontar os mitos de discriminação, construindo-os sobre a ideia de igualdade. É essa a causa abraçada pela Provedoria, que promete continuar os seus esforços não só para tornar o Porto numa cidade mais acessível, mas para incluir todos os cidadãos na Comunidade.