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UMA SEMENTE DE AJUDA EM ÁFRICA

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É com nostalgia que Filipa Mariz, estudante da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, recorda a experiência que viveu no último Verão. Desde logo, avisa que não é tarefa fácil. “É muito complicado resumir os dois meses de missão. Foram muito intensos”. A jovem não esconde a sua vontade de regressar enquanto conta a sua experiência nas regiões de Fonte Boa e Satemwa.

Após nove meses de formação, Filipa foi selecionada para integrar um grupo de cinco elementos que foram enviados para Moçambique. O primeiro desafio passou por aprenderem a dividir o seu dia-a-dia em conjunto. Só em equipa seriam capazes de atingir as metas previamente definidas. Ao mesmo tempo, deveriam ser capazes de se adaptarem a uma distinta realidade, fora das suas zonas de conforto, com uma comunidade local que os esperava e contava com o seu apoio.

Para a estudante, o maior obstáculo inicial foi a comunicação. Embora a língua oficial do país seja a Língua Portuguesa, os habitantes possuem diferentes dialetos, o que os distanciava dos missionários. Foi então necessário encontrar outras formas de expressão. “A comunicação, por vezes complicada, transformava-se em beijos e abraços”. Os moçambicanos mostraram-se abertos e recetivos aos jovens missionários. Compreenderam a razão da presença da missão católica e agradeceram aos voluntários o trabalho que estavam a desenvolver.

Os dias em missão não davam espaço para muito tempo livre. Antes de partirem para Moçambique, o grupo planeou o conjunto de trabalhos a desenvolver e os vários projetos que pretendiam implementar. A educação foi a principal área de intervenção. O objetivo principal era promover uma educação para o desenvolvimento. Ao chegar às escolas de Magumbo e Dula, Filipa deparou-se com uma dura realidade, completamente diferente da portuguesa. Crianças no quinto ano de escolaridade não sabiam ler. A falta de condições nos edifícios obrigava os alunos a trazerem cadeiras de casa. A maioria das aulas eram lecionadas no exterior. A intervenção dos missionários resultou, por exemplo, na criação de grupos de teatro e de leitura e na dinamização de jogos e atividades que fugissem da rotina das aulas. O grupo de Filipa conduzi, ainda, formações nas escolas secundárias sobre temas como a sexualidade.

Os jovens missionários participaram também no projeto “Sementes do Amanhã” que apoiava, na altura, seis casas de órfãos. Em Moçambique, uma criança é enviada para uma instituição após a morte da mãe. Muitas crianças chegam a estas instituições sem qualquer tipo de identificação, pois nunca chegaram a ser registadas. O contacto com os mais pequenos foi dos momentos mais marcantes para Filipa, que recorda através das fotografias. Lembra-se dos nomes, vai apontando para um e para outro, e confessa a preocupação que sente por eles. Por vezes, tão distinta da atenção que é dada pelos locais. “São mais despreocupados, tranquilos. Um menino ficou doente, e perguntamos logo a um responsável se já lhe tinha sido dada medicação. Responderam que sim. No final do dia, como a febre não baixava, voltamos a perguntar acerca da medicação. Desta vez, responderam que não tinham chegado a dar-lhe, que não valia a pena. Bastava descansar, dormir o dia todo, e acabaria por melhorar”.

Para além destas áreas de intervenção, era também necessária ajuda para catalogar contentores enviados por campanhas de solidariedade. A maioria continha livros, material escolar e roupa. Um dos contentores que chegou a Fonte Boa tinha sido enviado de Portugal há seis anos, mas ainda ninguém o tinha aberto. O vestuário que transportara foi distribuído pelas casas de órfãos.

As metas traçadas foram cumpridas ao longo dos dois meses, mas houve uma conquista especial: a ligação próxima com as comunidades locais, que reconheceram a ajuda dos missionários. Mesmo sem se expressarem por palavras, os gestos carinhosos transmitiam felicidade e gratidão pelos projetos de voluntariado. E é esse agradecimento que Filipa relembra com o sentimento de dever cumprido.

Espírito de Missão

Na hora do regresso, a vontade de ficar só era esquecida pela curiosidade em perceber qual o impacto desta experiência na sua rotina. “Como estava tão absorvida na missão, pensei que só ia ter consciência do que mudou em mim quando chegasse a Portugal”. E, sem dificuldade, a jovem distingue uma nova forma de pensar: “Tornei-me mais tolerante, e há coisas que aprendi a dar mais valor”.

A forma de vida genuína dos Moçambicanos, sem conflitos e preocupações exageradas, conquistaram Filipa que não esconde o desejo de regressar. “Só passando por esta experiência é que é possível compreender a vontade de voltar”.  Para todos os que sonham um dia integrar um projeto humanitário, a estudante defende que não há um perfil mais ou menos indicado. Filipa acredita que o importante é a vontade e o compromisso com o projeto. Estes valores acabam por tornar o espírito missionário um modo de vida.

 

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